sexta-feira, 3 de março de 2017

Devolvam o Maracanã ao povo (Por Thiago Muniz)

Domingo, eu vou ao Maracanã
Vou torcer pro time que sou fã,
Vou levar foguetes e bandeira
Não vai ser de brincadeira,
Ele vai ser campeão

Não quero cadeira numerada,
Vou ficar na arquibancada
Prá sentir mais emoção

Porque meu time bota pra ferver,
E o nome dele são vocês que vão dizer
Porque meu time bota pra ferver,
E o nome dele são vocês que vão dizer

(Ô, ô, ô )
Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô!
Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô!

(Neguinho da Beija-Flor)

Fico abismado com o descaso das autoridades públicas com relação ao estádio que por décadas foi considerado o maior do mundo: o Maracanã. Há um jogo de "empurra-empurra" entre empresa delatora Odebrecht e o falido governo do estado do Rio de Janeiro, arruínam o estádio cuja reforma custou R$ 1,2 bilhão.

O que acontece com o Maracanã, uma briga entre Odebrecht, governo do estado (isso ainda existe?) e o Comitê da Rio 2016 é o retrato da incompetência e desonestidade que, nos últimos tempos, tomaram conta dos poderes públicos brasileiros. Uma lástima.

O Maracanã sempre foi visto como o principal palco do futebol brasileiro, a casa da seleção brasileira, que é um dos maiores produtos de exportação do país. A gente enchia a boca para dizer que era o maior estádio do mundo. Mas essas reformas controversas o tornaram um estádio igual aos outros. Até a marquise de concreto, que era tombada pelo Patrimônio Histórico, foi retirada.

O atual problema do Maracanã começou com a decisão de se fazer uma reforma que destruiu completamente o antigo estádio, marco arquitetônico e histórico, e criou um novo dentro dele. A verba que foi gasta era suficiente para se ter construído outra arena e deixado o Maracanã intacto, do jeito que era.

O ex-governador fluminense Sérgio Cabral concedeu a administração do estádio ao consórcio formado pela construtora Odebrecht, pela empresa americana de entretenimento AEG e pela IMX, o braço que Eike Batista montou para explorar os mercados do esporte e do entretenimento. O contrato assinado no início de 2013 tinha de durar 35 anos. Por motivos diferentes, cada parte envolvida abandonou a responsabilidade nos anos seguintes. Cabral está preso por envolvimento num esquema de corrupção desbaratado pela Operação Lava Jato. A mesma operação policial colocou no xilindró Marcelo Odebrecht, presidente da construtora. A fortuna de Eike evaporou depois que o mercado notou que ele prometeu muito mais do que conseguiria cumprir, e a IMX foi vendida. Saiu do consórcio. A AEG continua nele, mas fracassou em todos os estádios nos quais tentou trabalhar no Brasil.

Então quer dizer que o Maracanã passou por reformas milionárias para o Pan de 2007, para a Copa das Confederações de 2013, para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016 e, ainda assim, não tem condições de receber jogos?

O Maracanã, referência mundial, constitui o espaço das relações inéditas e, por isso mesmo, é transformado num epifenômeno de outros fenômenos sociais nele observáveis. Nestes deslocamentos, jogador, seleção, juízes, torcida e outros tantos elementos do universo futebolístico, a crônica de futebol "rodrigueana" inscreve-se como mais uma interpretação da cidade.

Da mesma forma e em igual proporção, o estádio assusta pela grandiosidade, pelo êxtase coletivo; atemoriza pela diversidade de tipos que por ele passeiam, pela homogênea impessoalidade da multidão. Percebemos que ali estão depositados modos e comportamentos específicos do futebol, que contrariam o aspecto de passividade que se pode supor: o verbo ―assistir‖, por si só, atribui essa atitude de passividade diante do espetáculo do gramado. No entanto, o verdadeiro show está na plateia, no grito do ambulante, nos enfurecidos das arquibancadas. É nesta mesma multidão que observamos um emaranhado de práticas, companheirismo, afago, disputa, diálogo, conflito, que ultrapassa o modelo de comportamento da massa.

O descaso com o patrimônio é tamanho que nem o busto de cobre de Mário Filho foi poupado. A Polícia Civil registrou o furto de dois bustos (o de Mário e o do general Ângelo Mendes de Morais), de duas televisões e de partes de cobre de mangueiras de incêndio. Faltam segurança, limpeza e manutenção. A grama vem morrendo por passar tempo demais sem receber água num verão forte. O Maraca está sem luz e, com isso, as bombas automáticas de irrigação não funcionam. Apesar da dívida de quase R$ 3 milhões de contas vencidas, a distribuidora de energia Light informa que não cortou o fornecimento para o estádio.

A Odebrecht não quer reassumir o Maracanã, porque isso significa voltar a gastar dinheiro, e adotou a estratégia do “quanto pior, melhor”. Acusa o Comitê Rio-2016 de ter avariado as estruturas durante a Olimpíada e se apoia no termo de cessão, cuja cláusula afirma que o estádio precisa ser devolvido nas exatas condições em que foi entregue.

O futuro do Novo Maracanã, a partir daqui, é uma incógnita. Sabe-se muito sobre seu glorioso passado, que se confunde com a formação não só do futebol brasileiro como uma potência mundial, mas também do Rio como cidade e do Brasil como país. Sua demolição ilegal, escondeu uma teia de arranjos onde meia dúzia optou por enriquecer às custas de dinheiro público. Hoje, vários desses estão presos, foragidos ou na mira da Justiça.

Que o Antigo Maracanã descanse em paz. Que seu equivalente, o Novo Maracanã, belíssimo, consiga chegar perto do gigantismo de seu antecessor. Que sua gestão caia na mão de quem seja, de fato, ligado ao futebol — sem espaço para aventureiros propineiros de ocasião. Que pais e mães consigam construir, a partir da arquibancada, laços eternos de amor entre o futebol e os seus filhos.

Que tenhamos, um dia, uma sociedade evoluída o bastante para jamais permitir que se apague, assim, na base da propina e do arbítrio, o seu próprio passado.

O que é construído com o dinheiro do imposto do cidadão se destina à destruição consentida.

E que, em cada um de nós, o Maracanã viva. Para sempre.











































BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", dos sites Panorama TricolorEliane de Lacerdablog do Drummond e Mundial News FM. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




quinta-feira, 2 de março de 2017

Oxum: a senhora do amor (Por Thiago Muniz)

Oxum é um orixá feminino das águas doces, dos rios e cachoeiras, da riqueza, do amor, da prosperidade e da beleza, cultuada no candomblé e umbanda.

Através de mamãe Oxum, os fiéis buscam auxílio para a solução de problemas no amor, uma vez que ela é a responsável pelas uniões, e também na vida financeira, a que se deve sua denominação de “Senhora do Ouro”, que outrora era do Cobre, por ser o metal mais valioso da época.

Na natureza, o culto a Oxum costuma ser realizado nos rios e nas cachoeiras e, mais raramente, próximo às fontes de águas minerais.

Oxum é símbolo da sensibilidade e muitas vezes derrama lágrimas ao incorporar em alguém, característica que se transfere a seus filhos, identificados por chorões.

As mulheres que desejam ter filhos dirigem-se a Oxum , pois ela controla a fecundidade, graças a seus laços com Ìyámi-Àjé (“Minha Mãe Feiticeira”). É chamada de Ìyálóòde (Iaodê) título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante entre todas as mulheres da cidade. Numerosos lugares profundos (ibù), entre Igèdè, onde nasce o rio, e Leke, onde ele deságua na lagoa, são seus locais de residência. Aí, ela é adorada sob nomes diferentes, com características distintas.

Sincretismo religioso e a comemoração em 08 de dezembro

Oxum orixá feminina das religiões afro-brasileiras (umbanda e candomblé) é sincretizada com diversas Nossas Senhoras.

Na Bahia, ela é tida como Nossa Senhora das Candeias ou Nossa Senhora dos Prazeres. No Sul do Brasil, é muitas vezes sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, enquanto no Centro-Oeste e Sudeste é associada ora à denominação de Nossa Senhora, ora com Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

O dia 8 de dezembro é marcado por duas celebrações cristãs de significados distintos (quase antagónicos), que se confundem devido à semelhança das suas designações.

A evocação popular, tradicional, celebra a Nossa Senhora da Conceição (ou Concepção), isto é, celebra o arquétipo da Maternidade. Conhecem-se desde o século VII, nomeadamente na Península Ibérica, festas com esta evocação; até há poucos anos era nesta data, e não no primeiro domingo de Maio, que se celebrava o Dia da Mãe.

O conceito teológico oficial é o do dogma da Imaculada Conceição de Maria, definido pelo papa Pio IX em 1854, e nada tem a ver com o conceito popular: afirma que Maria, mãe de Jesus, teria também sido gerada sem cópula carnal de seus pais (Ana e Joaquim); celebra, por isso, a castidade. Esta ideia começou a surgir no século XII, tendo causado intensa polémica e sido rejeitada por importantes teólogos, incluindo São Bernardo e São Tomás de Aquino, e condenada pelo papa Bento XIV em 1677, até ter sido aceite como dogma em 1854.

A instituição da ordem militar de Nossa Senhora da Conceição por D. João VI, que alegadamente sintetizaria um culto que em Portugal existiu muito antes de ser dogma, pelo menos na sua designação remete para o conceito popular, não para o conceito teológico afirmado pelo dogma. De igual forma, as freguesias portuguesas anteriormente listadas adoptaram a designação “Nossa Senhora da Conceição” ou “Conceição”, mas não “Imaculada Conceição”.

Em 8 de dezembro de 1904, em Lisboa solenemente lançou-se a primeira pedra para um monumento comemorativo do cinquentenário da definição do dogma. Ao ato, a que assistiram as pessoas reais, patriarca e autoridades, estiveram também representadas muitas irmandades de Nossa Senhora da Conceição, de Lisboa e do país, sendo a mais antiga a da atual freguesia dos Anjos, que foi instituída em 1589.

No Brasil é tradição montar a árvore de Natal e enfeitar a casa no dia 8 de dezembro, dia de N.Sra. da Conceição.
Oxum na África

Osun, Oshun, Ochun ou Oxum, na Mitologia Yoruba é um orixá feminino. O seu nome deriva do rio Osun, que corre na Iorubalândia, região nigeriana de ijexá e Ijebu.

É representada pelo candomblé, material e imaterialmente, por meio do assentamento sagrado denominado igba oxum.

É tida como um único Orixá que tomaria o nome de acordo com a cidade por onde corre o rio, ou que seriam dezesseis e o nome se relacionaria a uma profundidade desse rio.

As mais velhas ou mais antigas Oxum são encontradas nos locais mais profundos (Ibu), enquanto as mais jovens e guerreiras respondem pelos locais mais rasos. Ex.: Osun Osogbo, Osun Opara ou Apara, Yeye Iponda, Yeye Kare, Yeye Ipetu, etc.

Em sua obra Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns, Pierre Fatumbi Verger escreve que os tesouros de Oxum são guardados no palácio do rei Ataojá.

O templo situa-se em frente e contém uma série de estátuas esculpidas em madeira, representando diversos Orixás: “Osun Osogbo, que tem as orelhas grandes para melhor ouvir os pedidos, e grandes olhos, para tudo ver. Ela carrega uma espada para defender seu povo.”

O Festival de Oxum é realizado anualmente na cidade de Osogbo, Nigéria. O Bosque Sagrado de Osun-Osogbo, onde se encontra o Templo de Oxum, é Patrimônio Mundial da UNESCO desde 2005.

Ọṣun-Oṣogbo ou Bosque Sagrado de Osun-Osogbo é uma floresta sagrada às margens do rio Oxum que se encontra na cidade de Oṣogbo, Nigéria.

Características dos filhos da orixá Oxum

São extremamente vaidosos e conquistadores, adoram o luxo, a vida social, além de sempre estarem namorando. São obstinadas na procura dos seus objetivos.

Oxum é o arquétipo daqueles que agem com estratégia, que jamais esquecem as suas finalidades; atrás da sua imagem doce esconde-se uma forte determinação e um grande desejo de ascensão social.

Têm uma certa tendência para engordar, a imagem do gordinho risonho e bem-humorado combina com eles. Gostam de festas, vida social e de outros prazeres que a vida lhes possa oferecer. Tendem a uma vida sexual intensa, mas com muita discrição, pois detestam escândalos.

Não se desesperam por paixões impossíveis, por mais que gostem de uma pessoa, o seu amor-próprio é muito maior. Eles são narcisistas demais para gostar muito de alguém.

Graça, vaidade, elegância, uma certa preguiça, charme e beleza definem os filhos de Oxum, que gostam de jóias, perfumes, roupas vistosas e de tudo que é bom e caro.

O lado espiritual dos filhos de Oxum é bastante aguçado. Talvez por isso, algumas das maiores Yalorixás (mães-de-santo) da história do Candomblé, tenham sido ou sejam de Oxum.

Qualidades de Oxum
  • Kare – veste azul e dourado, cor do ouro. Usa um abebé e um ofá dourados.
  • Iyepòndàá ou Ipondá – é a mãe de Logunedé, orixá menino que compartilha dos seus axés. Ambos dançam ao som do ritmo ijexá, toque que recebe o nome de sua região de origem. Usa um abebé (espelho de metal) nas mãos, uma alfange (adaga), por ser guerreira, e um ofá (arco e flecha) dourado, por sua ligação com Oxóssi. É uma das mais jovens.
  • Yeye òkè
  • Iya Ominíbú
  • Ajagura
  • Ijímú
  • Ipetú
  • Èwuji
  • Abòtò
  • Ibola
  • Gama (Vodun feminino da mesma energia de Sakpatá, incorporado ao culto Yorubá através de sua concernente Oxum)
  • Oparà ou Apará – qualidade de Oxum, em que usa um abebé e um alfange (adaga) ou espada. Caminha com Oya Onira, com quem muitas vezes é confundida. Diferente das outras Oxuns por ter enredo com muitos Orixás, vem acompanhada de Oyá e Ogum.
Culto a Oxum
  • Dia principal de culto: Sábado
  • Comemoração Anual: 08 de dezembro
  • Cores: Amarelo, ouro, rosa, azul claro
  • Símbolo: Leque com espelho (Abebé)
  • Elemento: Água Doce (Rios, Cachoeiras, Nascentes, Lagoas)
  • Domínios: Amor, Riqueza, Fecundidade, Gestação e Maternidade
  • Saudação: Ora Yêyê Ô!
  • Velas: branca, rosa e azul clara
  • Oferendas: Omolocum, rosas e palmas amarelas, espelhos, bonecas, etc.






































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Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", dos sites Panorama TricolorEliane de Lacerdablog do Drummond e Mundial News FM. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.





quarta-feira, 1 de março de 2017

Pós Apuração do Carnaval RJ: Portela campeã (Por Thiago Muniz)

Foi um rio que passou em minha vida.

Merecido! Eu nunca vi coisa mais bela.

Desfile sem erros, com uma perícia incrível na harmonia e na evolução.

Eu Chorei. Chorei porque foi o primeiro título que vivencio com esta escola. Muito sofrimento e injustiças durante esses anos todos de jejum.

Um ano depois da morte de seu presidente, Marcos Falcon, a Portela reencontra o caminho da vitória numa disputa apertada com a Mocidade Independente de Padre Miguel. A escola é a maior campeã do carnaval carioca, com o deste ano, a agremiação acumula 22 títulos. O seu último campeonato tinha sido conquistado em 1984.

No aniversário do Rio, a Portela se consolida como a maior campeã do carnaval carioca que sempre foi e faz a alegria não só de seus fãs, mas dos de todas as escolas que a respeitam, admiram e, de alguma forma, se inspiraram nela. Há quem diga que, no carnaval, o título é um detalhe. Pode até ser mesmo, mas ser campeão é bom demais!

Gostei muito das justas e obrigatórias homenagens ao passado e às divindades, contemplando diversas crenças. Cumpriu também importante papel social ao trazer o (ex-)Rio Doce à avenida.

Portela! O Rio de Janeiro precisa da Águia altaneira sempre grande e vitoriosa! Como dizia o presidente Marcos Falcon: "quem ousa, vence" e, "quando a causa é justa, vale a pena morrer por ela.".

Quero deixar registrado o fascinante desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel. O gigante acordou, a auto estima voltou para a agremiação, a escola nunca deixou de ser grande. A hora da escola voltar a ganhar chegará.

“Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar”

“Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver este rio passar?”. Cantando este enredo, a Portela brilhou na Marquês de Sapucaí na madrugada de terça-feira (28), sendo a penúltima escola a desfilar: se destacou em vários quesitos, mostrou emoção, chão forte e plástica de muita qualidade. Não foi nota 10 apenas em efeitos especiais. Fez, com folga, o melhor desfile destes dois dias do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Nas alegorias, acabamento impecável e soluções com a assinatura do carnavalesco Paulo Barros. Nas fantasias, muito volume e bom gosto; junto neste pacote, evolução tranquila e sem achatar seus componentes, que brincaram Carnaval e contribuíram para o sucesso desta apresentação.

Sabe-se que um bom enredo dá bom samba. Na Portela, isso aconteceu e com louvor. O intérprete Gilsinho cumpriu seu papel com maestria, com ajuda de seu carro de som e ainda de mestre Nilo Sérgio. Sapucaí cantou, desfilantes retribuíram. Foi sensacional.

Houve catarse em vários outros momentos do desfile. A começar pela comissão de frente, assinada por Leo Senna e Kelly Siqueira: representou a piracema, fenômeno que se dá quando peixes nadam contra correnteza. Um enorme elemento alegórico complementou a performance dos 15 componentes-peixes.

No abre-alas, veio a “Fonte da Vida”, curiosamente em tons dourados e com belo efeito de luz. Teria nascido aí, segundo concepção da escola, o rio azul e branco portelense. Logo após, um setor representou mitos relacionados à água de rios.

O segundo carro, também muito impactante, mostrou o Egito e o Rio Nilo. Efeitos especiais faziam barquinhos irem de um lado a outro. Na saia, várias esfinges também imprimiram bom gosto e primoroso acabamento.

O setor seguinte mostrou os rios e os aspectos naturais, mais uma vez, de “encher as medidas”. Alas representavam animais como crocodilos, além de mananciais, e até mesmo lendas indígenas como o “Boto Cor-de-Rosa”. A terceira alegoria, de nome “Boiuna”, complementou a narrativa: a enorme cobra, fruto da lenda amazonense que impera entre os ribeirinhos, veio circundada com mais um efeito especial: jangadas nas laterais arrancaram aplausos do público.

Se até este momento o desfile da Portela era emocionante, outro setor potencializaria ainda mais este sentimento: a quarta alegoria, “Um rio que era doce”, fez alusão ao absurdo desastre sofrido por Mariana, cidade mineira, e outros locais afetados pela negligência dos responsáveis. Com cópia quase que fiel às imagens horríveis divulgadas pela mídia, teve um ponto alto: um rapaz, caracterizado de morador, veio “chorando” .

A Portela encerrou a narrativa com um setor em sua exaltação: “Meu coração se deixou levar” relembrou figuras que marcaram seus 94 anos. Na última alegoria, acoplada, veio o “Altar do Carnaval”, e junto a ele personalidades portelenses, além de uma homenagem a Oxum.

Resumo do enredo

O rio inspira os homens. De suas águas, pescam o sonho e o conhecimento, colhem a história e o encantamento. O rio azul e branco nasce da fonte de onde se originam a vida e as culturas humanas. Prima matéria, a água doce está associada aos mitos de criação do universo das antigas civilizações, é a manifestação do sagrado nas religiões e a maior riqueza para as sociedades modernas. A Águia bebe dessa água cristalina em sua nascente, onde brota o bem mais precioso criado pela natureza. No berço do samba, o pássaro abençoa a passarela, leito do rio da Portela. Segue recolhendo a poesia de muitos outros rios, enquanto mantém o seu rumo. Atravessa a Avenida, lavando a alma de quem deseja ver o rio passar, saciando a sede de vitória, irrigando de alegria o povo que habita a beira do rio. Suas águas purificam o corpo, afogam a tristeza e renovam as forças a cada alvorada. Convida a conhecer seus mistérios, cruzando aldeias e povoados, cidades e países distantes.

O rio é velho e por ele correm muitas histórias, porque sempre esteve ali a guardar os segredos das águas que deram origem ao mundo. O rio é novo porque está sempre em movimento e nunca passa duas vezes pelo mesmo lugar. O rio não pode voltar. Ele segue em busca do seu destino. Nasce como um fio d’água, calmo e sereno, e continua para receber muitas contribuições em seu curso. Enquanto cresce, irriga e fecunda as margens de onde se colhe o alimento do corpo e da alma. Avança sobre a terra e não se deixa vencer pelas pedras que encontra no caminho. Passa inspirando canções e poemas, linhas e formas sinuosas. Em sua exuberância, desfila entre matas, plantações, casas humildes e mercados, do interior até chegar às grandes metrópoles e receber as imensas construções fincadas em suas margens. O homem e o rio estão ligados pelo corpo e pelo espírito. Os artistas, músicos e cantadores, arquitetos e escritores incorporam a alma do rio e refletem suas imagens. Aqueles que se entregam à devoção e murmuram suas preces, pedidos e promessas fazem procissões e oferendas, agradecidos pelos desejos atendidos. O homem tira a vida do rio. A vida é como um rio que corre em direção ao seu destino.

"Salve o samba, Salve a santa, Salve ela...
Salve o manto azul e branco da Portela!
"

Veja ordem na apuração deste ano:

1º) Portela – 269,9 pontos
2º) Mocidade – 269,8 pontos
3º) Salgueiro – 269,7 pontos
4º) Mangueira – 269,6 pontos
5º) Grande Rio – 269,4 pontos
6º) Beija-Flor – 269,2 pontos
7º) Imperatriz – 268,5 pontos
8º) União da Ilha – 267,8 pontos
9º) São Clemente – 267,4 pontos
10º) Vila Isabel – 267,4 pontos
11º) Unidos da Tijuca – 266,8 pontos
12º) Paraíso do Tuiuti – 264,6 pontos

PS: Madureira em festa dupla. Império Serrano campeã da série A, um primor.






























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Pré Apuração do Carnaval RJ (Por Thiago Muniz)

Estou escrevendo aqui a poucos instantes da apuração do desfile do grupo especial do Rio de Janeiro.

A LIESA confirma que não haverá rebaixamento no grupo especial do RJ - Carnaval 2017.

A LIESA passou a mão por cima da incompetência. A decisão expõe uma característica da nossa sociedade que estamos querendo deixar pra trás: a tendência a quebrar contratos e desrespeitar as regras, dependendo de quem é o (des)favorecido.

Foi uma decisão muita mais cômoda do que com sabedoria. As 2 escolas devem ser responsabilizadas pela tragédia. Não foi uma simples tragédia, houve erros graves e os responsáveis devem ser investigados e punidos. Uma das punições deveria ser o rebaixamento de uma delas, dependendo da apuração das notas. Ao meu ver o fato de uma das escolas ser a Unidos da Tijuca pesou nesta decisão. Aposto que se a tragédia tivesse sido só com a Tuiuti ela certamente seria rebaixada.

Não é vergonha nenhuma disputar o acesso do RJ. Império Serrano, 9 vezes campeã do Carnaval, está lá. A exemplo da Viradouro, Estácio de Sá entre outras agremiações que já foram campeãs do Carnaval.

Se o problema fosse algo universal, fosse um problema em que todas as escolas tivessem sido prejudicadas, ou pelo menos um terço, e a medida beneficiasse a todas elas, seria outra história. Um erro individual (Constatado pela perícia da Polícia Civil) jamais pode ser beneficiado.

A LIESA não foi correta, a medida não foi correta, e jamais nos esqueceremos deste dia 1° de Março de 2017.

As escolas são culpadas pelos acidentes e não pagam por isso? Além da sanção criminal, tinham que arcar com o rebaixamento! Por mais triste que tenha sido, a Unidos da Tijuca é responsável pelo desabamento parcial da alegoria; a Paraíso do Tuiuti responsável pelo acidente com o carro dela.

As escolas deveriam sim serem responsabilizadas pelos seus atos até mesmo para que novas coisas sejam evitadas. Põem um carro mal estruturado na avenida, ele desaba, fere pessoas e nada acontece com a escola?

Fatalidade é diferente de irresponsabilidade!

Bem... mais um 7x1 na cara da sociedade principalmente na comunidade carnavalesca, em fator da impunidade.

Apuração chegando, elejo as favoritas ao título: Beija-Flor, Salgueiro, Mocidade e Portela. Fizeram desfiles muito técnicos, sem erros e com enredos muito fortes e de raíz, foi uma missão complicada para o corpo de jurados.

Pós apuração tem mais...































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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A incapacidade moral de Jose Serra (Por Thiago Muniz)

O rebaixamento moral do Brasil perante o mundo após o golpe e a absoluta incapacidade de José Serra de entender a complexidade da geopolítica internacional vão marcar sua passagem pelo Itamaraty.

Indiscutivelmente o Brasil dá exemplo ao mundo de como o estado brasileiro é tão corrupto e seus componentes são perversos e caras de pau, vai ser muito difícil uma recuperação da credibilidade, a não ser que haja uma revolução nos costumes e comportamentos do cidadão e isso leva muito tempo.

José Serra deve achar que diplomacia é só estender o tapete para os Estados Unidos e a Europa. Ele não compreendeu que há uma multipolaridade crescente no mundo. Ele também não sabia que ampliar as relações com a África e a América Latina não significa necessariamente distanciar-se do primeiro mundo.

A função dele foi ridicularizar o Brasil no cenário internacional. E isso fez bem feito, cumpriu a sua missão.

Durante a sua gestão no Ministério das Relações Exteriores, Serra tornou-se um criador de casos na América Latina. Por razões ideológicas, trabalhou abertamente pela derrubada de Nicolás Maduro do governo na Venezuela. Até conseguiu, com um golpe jurídico, impedi-lo de assumir a presidência rotativa do Mercosul.

No Senado, Serra foi um dos maiores entusiastas do impeachment de Dilma Rousseff. Tentou cacifar seu nome para o Ministério da Fazenda de Temer, mas ao cabo contentou-se com a chefia do Itamaraty. Como chanceler de um governo não eleito pelo voto popular, tornou-se alvo de recorrentes protestos da oposição, dentro e fora do País.

Agora não sendo mais ministro, não terá foro privilegiado. E os 23 milhões da delação da Odebrecht? Ele continuará nas mãos de Sérgio Moro ou assim como José Sarney cairá na mãos do STF?

Cenas dos próximos capítulos...







































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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A nova forma de greve dos policiais (Por Thiago Muniz)

Eu levanto a bandeira que toda a forma de manifestação e reivindicação é válida, desde que não prejudique pessoas e classes.

Vejo a reivindicação dos policiais justa, o salário é defasado em relação as corporações de outros estados do país, o armamento e os equipamentos que eles usam já estão precários, correm risco de morte praticamente todos os dias.

Só que tem um detalhe: é uma reivindicação dos policiais, só que a ocupação é uma greve disfarçada, pois justamente se eles decretarem uma greve oficial, automaticamente é interpretado como crime militar e eles podem ser expulsos da corporação, o que obviamente eles não querem isso.

Esse clamor todo só está como está porque envolve a questão da segurança pública, mas e daí?

Com polícia ou sem polícia, o índice da violência será menor? É claro que não.

A bandidagem vai diminuir o seu faturamento em favor dos policiais? É claro que não.

Haverá uma maior onda de assaltos, homicídios, saques e arrastões? É claro que sim.

E os demais servidores que lutam da mesma forma por salários mais justos? Dois pesos e duas medidas?

Quando acontece isso, o que os policiais fazem? Enfiam spray de pimenta, gás lacrimogênio e tacam o sarrafo na cara dos servidores, vide tropa de choque, P2 e black blocks. A classe de professores então são os alvos preferidos nas manifestações.

Se uma classe não respeita a outra, como querem apoio público?

Acordem e sejam inteligentes; não adianta colocar seus familiares como escudos em frente aos batalhões, até porque o governo do Estado acionará a tropa de choque e enfiará os mesmos spray de pimenta e gás lacrimogênio no rosto de vocês, e ainda serão punidos por isso.

Afinal, ninguém foi obrigado a prestar concurso público para policial, ou por acaso foram?

Mais respeito, por favor!



















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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Porto de Açu: a promiscuidade entre iniciativa privada e poder público (Por Thiago Muniz)

Porto do Açu, em São João da Barra, está localizado no litoral norte do estado do Rio.

Quando anunciado, o Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense, era uma promessa de desenvolvimento para a região, projetado sob o conceito de porto-indústria que atrairia empresas de vários setores para o distrito industrial que seria instalado a sua volta. Faz dez anos do lançamento da pedra fundamental. A operação do empreendimento ainda está longe de alcançar o que se pretendia. Mas os conflitos sociais que vieram junto com o projeto, esses sim, alastraram-se. No centro das polêmicas estão as desapropriações de terras numa área de cerca de 90 quilômetros quadrados. Os poucos que resistem em suas propriedades, como a professora aposentada Noêmia Magalhães, vivem sob a ameaça de, a qualquer momento, perder seu lar. Entre os tantos que já foram obrigados a ir embora, multiplicam-se histórias de propostas ilusórias.

Eike Batista e o ex-governador Sérgio Cabral, ambos presos na Ooperação Lava Jato, deram um prejuízo de R$ 2 bilhões em desapropriações do Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense.

Uma das obras mais importantes do pais está mergulhada num mar de irregularidades. Os negócios entre o empresário Eike Batista e o ex-governador Sergio Cabral, provocaram um prejuízo para o estado estimado em dois bilhões de reais. Mas não foi só o dinheiro que se perdeu. A promiscuidade entre o poder público e a iniciativa privada devastou a natureza e a vida dos pequenos agricultores da região.

Autor de uma ação popular contra o governo estadual do Rio de Janeiro, a LLX — antiga empresa de Eike Batista — e a Prumo Logítica, o advogado Antônio Maurício Costa pediu a devolução das terras com um pagamento de indenização por um "preço justo". A ação corre em segredo de Justiça.

Essa é a maior fraude com grilagem da história do país praticada por alguém. Eles utilizaram um benefício de uma súmula do STF, que dá ao expropriante a possibilidade de depositar o que ele acha que deve por meio de um laudo fabricado por ele mesmo. No caso, fabricado por R$ 0,25", reforçou o advogado, acrescentando que o valor seria maior. "As perícias trazem em torno de R$ 25 a R$ 30 o metro quadrado, o que representa esse prejuízo. É mais do que um grande negócio, é um grande golpe.

A desapropriação de áreas para construção do Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense causou um prejuízo de 2 bilhões de reais, a partir de ações do empresário Eike Batista e o ex-governador Sérgio Cabral, presos na Operação Lava Jato. A informação é de reportagem do SBT, que apresentou entrevista com o advogado de agricultores da região, Antônio Maurício Costa. Ele entrou com uma ação popular contra o governo estadual, a LLX — antiga empresa de Eike — e a Prumo Logítica, atual gestora do porto, para pedir indenização aos antigos proprietários. Segundo reportagem, se os cálculos tivessem sido feitos baseados nas avaliações dos peritos, o empresário teria que ter desembolsado mais R$ 37 milhões previstos no contrato.

As obras realizadas pela empresa OSX, do grupo de Eike Batista, na região do Açu, em São João da Barra, Norte Fluminense, podem ter causado uma das maiores tragédias ambientais do estado. Durante as perfurações e extração do sal para a construção do Complexo Portuário do Açu uma falha técnica em um dos tanques de transferência provocou o derrame de água salgada para os córregos, rios e propriedades de pequenos agricultores, contaminando toda a região.

As denúncias são do geógrafo Marcos Pedlowski, doutor em Environmental Design And Planning - Virginia Polytechnic Institute and State University, que está desenvolvendo pesquisas de campo nos terrenos afetados. O impacto ambiental também está em análise por cientistas da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), que já constataram que tanto a água quanto o solo da região sofreram contaminação, apresentando um aumento expressivo de salinidade, que pode representar danos irreversíveis para a natureza e, consequentemente, para a economia do lugar, que tem base na agricultura e pecuária.

Segundo Marcos Pedlowski, a primeira queixa partiu de um agricultor no bairro de Água Preta, em novembro do ano passado, que notou um sabor estranho na água que estava consumindo. Amostras de água e solo deste agricultor foram encaminhadas ao Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da Uenf, que constatou através de testes com equipamentos de precisão que o nível de sal no líquido colhido estava muito além do normal. Os estudos foram conduzidos pelo biólogo Carlos Rezende, que continua prestando apoio aos agricultores do Açu, com orientações técnicas que visam amenizar os efeitos da salinização no uso familiar.

Rezende explicou que as montanhas de areias extraídas pelas dragas da OSX e colocadas num aterro hidráulico, não tiveram a contenção adequada e a água salgada migrou para o solo das áreas mais baixas. “Precisa de um plano eficiente de contingência do sistema de drenagem, para evitar falhas como essa. É só imaginarmos que, numa dragagem, 70% do resíduo é água e somente 30% sólido. Isso é básico”, disse o biólogo.

Para o geógrafo Marcos Pedlowski, a questão da contaminação do solo e da água em São João da Barra é muito séria e representa grave risco à saúde da população. “O processo de salinização da terra é acelerado e irreversível, pode prejudicar a fauna, a agricultura e, principalmente, as pessoas que consumirem os alimentos e a água contaminada”, alertou Pedlowski. Segundo ele, a prefeitura de São João da Barra não está realizando o monitoramento da água distribuída na região, serviço que é da sua competência e as conseqüências podem ser ainda mais sérias.

Pedlowski conta que a retirada de areia com água salgada é feita por uma das maiores dragas do mundo, alcançando o aprofundamento do canal em 14,5 metros de profundidade. A capacidade de sucção é de mais de 30 mil m³ por hora, permitindo a construção dos canais do estaleiro. Toneladas de areia e água do mar são extraídas por um duto, sem uma contenção preventiva e adequada. Os resíduos vão para um aterro hidráulico que fica às margens das obras e os canais de drenagem jogam a água salgada para as terras próximas, causando a salinização do lençol freático do Açu. Quem mais sente as conseqüências são as propriedades que ficam nas áreas mais baixas. “Pelos meus estudos, eu não tenho qualquer dúvida que os 7.200 hectares de terras próximas ao empreendimento estão sofrendo esse impacto ambiental. Isso vai de São João da Barra até Campos. As autoridades de preservação ambiental, como o Ibama[Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e o Inea [Instituto Estadual do Ambiente], dizem que o problema está resolvido, mas isso não é possível. Acho até que está pior, porque o sal não diluiu e eles estão empurrando as áreas contaminadas para mais longe, através do processo conhecido como diluição”, explicou Pedlowski.

Além da contaminação por salinidade, Pedlowski conta que a retirada da vegetação local também está acontecendo de forma desenfreada e sem planejamento. "Eu já presenciei caminhões carregados com a vegetação de restinga saírem daqui. Será que eles não tem noção dos danos que estão provocando para a fauna e flora desse lugar? Cadê as autoridades ambientais que não enxergam esse crime?", questionou o pesquisador.

No ano passado, as denúncias dos moradores levaram o Inea até a região do Açu. Os agentes do instituto confirmaram as informações e avaliaram que “ocorreu um erro de execução de projeto em um dos aterros hidráulicos da empresa OSX, onde água de um dos aterros (que são compostos por areia e água salgada dragadas do mar) escoou por declividade natural para o rio Quitingute, aumentando a salinidade da água do rio e podendo prejudicar temporariamente os usuários”. Segundo os técnicos do Inea, o problema poderia ser evitado se a OSX tivesse comunicado a falha imediatamente ao órgão ambiental e tomado providências imediatas, como, por exemplo, paralisar o uso do aterro até construir uma segunda linha de drenagem com bombeamento.

O Inea garantiu que monitora o rio Quitingute de 15 em 15 dias e a empresa OSX envia semanalmente os resultados do controle de águas superficiais e, mensalmente, de águas subterrâneas. Segundo o órgão, todos os resultados atuais apontam que os níveis de salinidade retornaram ao padrão normal no rio Quitingute, em torno de 0,2% de salinidade. “A contaminação da área jáfoi solucionada. O que o INEA quer atualmente é levantar os danos que podem ter ocorrido na época do acidente, e se algum pode ter persistido até hoje. Mas a salinidade da água do Quitingute foi solucionada”, afirma o Inea através de e-mail ao Jornal do Brasil. A OSX deverá seguir estritamente o projeto licenciado e se reportar imediatamente ao órgão ambiental no caso de qualquer suspeita de problema. A empresa foi multada em 1,3 milhão, além de assumir um investimento de R$ 2 milhões com a implementação do Parque Estadual da Lagoa do Açu e de custear, anualmente, gastos de cerca de R$ 350 mil para a manutenção da unidade de conservação. Para ajudar a diluir a salinidade das águas do Canal Quitingute, a OSX ainda foi obrigada a dragar três pontos assoreados do rio, aumentando assim o volume de sua correnteza, intervenção essa que demandou investimento de R$ 1 milhão. Porém, segundo o Inea, essa dívida ainda não foi paga, porque a empresa de Eike Batista recorreu e o processo está em fase de recurso no Tribunal de Justiça do Rio. O recurso impetrado pela OSX será encaminhado para o Conselho Diretor do Inea na próxima segunda-feira (19/08), quando deve ser decidido ou não pelo indeferimento.

No fim de semana, o Jornal do Brasil publicou uma série de denúncias feitas pelos moradores de São João da Barra, contra outra empresa de Eike Batista, a LLX. Pequenos agricultores da região, que tiveram as suas propriedades desapropriadas para a construção do Complexo Porto do Açu, entraram com processo contra o governador do Rio, Sérgio Cabral, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e Eike Batista. Eles acusam a Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin) de irregularidades no processo de desocupação da terras. As vítimas afirmam também que a Codin e a LLX estão usando de violência para retirar os moradores dos imóveis, além de constantes ameaças. O processo segue no Tribunal de Justiça da capital.

As evidências de que a Prumo Logística esteja tendo que recorrer a fontes externas para obter água e manter o Porto do Açu funcionando mostram que algo estranho esteja acontecendo”. A declaração do professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), em Campos, Marcos Pedlowski vai ao encontro à denúncia do ex-prestador de serviço do complexo portuário, João Vanildo da Silva Junior, de que o transporte de água consumida por trabalhadores no empreendimento é feito de forma irregular em caminhões de combustíveis de responsabilidade da empresa Marpem.

Segundo o denunciante, a água, cujo carregamento aconteceria no centro de distribuição da Concessionária Águas do Paraíba, na Avenida Arthur Bernardes, em Campos, seria distribuída para os navios, plataformas e empresas sediadas no complexo portuário sem que os veículos de combustíveis sejam descontaminados.

Ele disse ainda que funcionários trabalhariam sem qualquer tipo de controle ou documentação na atividade de abastecimento de água e o citado transporte seria feito 24 horas por dia através de dez caminhões de propriedade da empresa contratada. “O problema acontece até hoje”, disse João, que prestou serviços ao empreendimento, no ramo de transporte de cargas, por cerca de quatro anos, tendo se desligado do serviço há mais de um ano.

Pilhas de destroços de casas desapropriadas e derrubadas para dar lugar ao empreendimento do Porto do Açu, no 5° Distrito de São João da Barra, tornaram-se imagens comuns no município. Há meses elas estão ali sem serem recolhidas. Junto ao entulho, invariavelmente uma placa. Em alguns casos, os dizeres traduzem uma contradição explícita: “Propriedade Privada da Codin” (Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio, portanto, órgão público). Em outros, letras garrafais realçam que se trata de terreno da LLX, do megaempresário Eike Batista. O bota-abaixo do Norte-Fluminense é fruto de uma desapropriação, que já atinge diretamente pelo menos 1.500 famílias, impactando cinco mil empregos e levando a uma modificação radical do meio ambiente, cada vez mais degradado. É um processo em que a questão fundiária tem sido considerada uma caixa-preta e com uma perigosa aproximação entre interesses públicos e privados, envolvendo transferências de ativos a corporações estrangeiras. Há ainda descumprimento de contratos assinados entre o governo e os moradores de áreas desapropriadas, com participação da empresa. Agricultores, comerciantes, prestadores de serviços, marisqueiras e pescadores compõem um grupo de afetados pelo empreendimento.

O argumento para a concessão de todas as licenças ambientais é que se trata do sacrifício de poucos, numa região de baixa densidade demográfica, para algo que seria de interesse público.

– O escândalo no Porto Açu é o processo de transferência de terra para mãos privadas com o aval e recursos do estado – diz a antropóloga Gabriela Scotto, da Universidade Federal Fluminense, que vem estudando os impactos do empreendimento. – A concentração de terra, é claro, só pode beneficiar meia dúzia.

A propósito, a concentração de terra ali foi tão intensa que não só foram transferidos grandes terrenos do Quinto Distrito para a LLX como também em seu entorno a corporação de Eike Batista adquiriu quatro fazendas: a Caruara, de Saco Dantas, do Meio e Palacete. Assim, o município de São João da Barra deixou vários agricultores a ver navios e passou a ter um grande latifundiário e um modelo de desenvolvimento mais voltado às questões nacionais e internacionais do que às locais.

Há anos, moradores atingidos vêm denunciando irregularidades como situações de pressão da empresa sobre as famílias, falta de clareza sobre o projeto, ausência de transparência na relação da LLX com a Codin, descumprimento da legislação ambiental, entre outros problemas. Nada foi feito. Nesse tempo, porém, os atingidos articularam-se. O Canal Ibase esteve no mês passado em São João da Barra para acompanhar um Intercâmbio das Resistências ao projeto Minas-Rio. Com apoio do Ibase, de pesquisadores do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta), da Universidade Federal de Minas Gerais, e da Universidade Federal Fluminense, além do Instituto Federal Fluminense, um ônibus lotado viajou durante 14 horas desde a cidade de Conceição do Mato Dentro (MG) até São João da Barra. Os mineiros foram ao encontro dos fluminenses por um objetivo em comum: denunciar as irregularidades cometidas pelo projeto Minas-Rio, do qual o Porto do Açu faz parte. O sistema todo responde pela conexão de uma mina aberta na cidade de Conceição de Mato Dentro com o Porto do Açu, por meio da construção de um mineroduto. São 525 quilômetros de extensão, impactando 32 cidades pelo caminho.

O porto está em uma localização geográfica muito estratégica para a indústria do petróleo, bem junto das bacias de Campos e do Espírito Santo. Mas, infelizmente, em uma região sem estradas, com um aeroporto muito fraco que é o aeroporto de Campos, sem ferrovia. O próprio porto não tem energia elétrica, funcionando até hoje com um planta de geradores, imagina o custo disso. Eu, para não ficar só imaginando esse custo, fui procurar saber quanto o Porto do Açu poderia ter custado para nós, quer dizer, quanto de dinheiro público foi colocado nesta história. A Prumo, empresa hoje controladora do Porto, nas respostas que me enviou em nota, informou que através do BNDES tem hoje uma dívida de R$ 1 bilhão e 400 milhões a vencer em 2016, mas que isto é um empréstimo. Ela não se referiu ao financiamento feito pelo Eike com recursos do Fundo de Marinha Mercante no valor de R$ 2 bilhões e 700 milhões para ser pago em 21 anos.

Se esse é o impacto para todos os brasileiros qual o impacto direto do porto para quem mora em São João da Barra? Infelizmente muito grande. O mais grave é o ambiental. Para muitos estudiosos, um dos mais graves acidentes ambientais da história do Estado do Rio de Janeiro. Durante a dragagem para a construção dos canais, foi tanta areia salgada que, contenção e bombas de sucção não deram conta e houve uma salinização que, a princípio se pensava ter atingido apenas ao canal do Rio Quintingute. Eu conversei com o geógrafo Marcos Pedlowski, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, doutor em poluição da atmosfera pela UFRJ, que acompanha desde o início este desastre. E ele me falou sobre a situação hoje. A salinização, segundo ele, se espalhou em uma área muito grande, uma área que pode ser 30 vezes, para a gente ter uma ideia de comparação, o tamanho do Leblon, ou como lembra o professor o tamanho de Manhattan, que era a comparação que o Eike Batista gostava de usar para o Porto do Açu. Além disso, a salinização não foi pontual, ela é persistente. Foi levantada, por exemplo, uma enorme duna de areia junto ao porto e os ventos, levando esta areia, também provocam a salinização. A escassez de chuvas no ano passado foi uma benção, mas um ano com fortes chuvas pode trazer um forte agravamento do problema. O que salinização provoca no dia a dia das pessoas? Eu conversei com o Seu Durval Ribeiro Alvarenga que foi um dos mais atingidos, por que a propriedade dele fica em um terreno na parte mais baixa, então recebe mais escoamento de água. No caso, infelizmente, água salgada. E o que o seu Durval perdeu? Tudo. Perdeu umas 60, 70 cabeças de gado, como ele me contou que tinha porque o pasto secou e assim não pode mais tirar os 90 a 100 litros de leite que tirava por dia para fazer queijo que era uma de suas atividades principais e perdeu também 150 mil pés de abacaxi. Seu Durval está na justiça, mas já tem mais de ano, como ele diz, mas o que deixa ele mais chateado é depois de ter visto tudo morrendo com esse banho de sal, nunca ter sido procurando por ninguém do Porto. Como ele tem o Pinduca, que perdeu a lavoura de quiabo e maxixe que, além do abacaxi são carros chefes na agricultura da região e muitos outros que perderam tudo. Quem paga a conta? Até agora, ninguém... O Inea aplicou uma multa na LLX, de R$ 1 milhão e 300 mil no início de 2013. Como a LLX saiu de cena, ficou para a Prumo. A Prumo requereu a conversão do valor da multa em serviços de interesse ambiental, que seriam previstos em um Termo de Ajustamento de Conduta que até hoje está sendo debatido entre as partes.

Barra do Açu

Barra do Açu, Praia do Açu ou simplesmente Açu, é uma localidade praiana pertencente ao 5º distrito do município de São João da Barra, no estado do Rio de Janeiro, no Brasil.

"Barra" é um termo que designa a desembocadura de rios. No caso, o rio em questão é o Rio Paraíba do Sul. "Açu" é um termo de origem tupi que significa "grande". Provavelmente, uma referência ao Rio Paraíba do Sul.

A praia do Açu é bonita e simples, atrai aos amantes da natureza e da pescaria, sendo considerado um dos melhores lugares para a pesca na região. Com uma boa faixa de areia dourada e fofa, possui mar de águas esverdeadas com algumas ondas. É propícia para o banho, recebendo diversos turistas durante o verão. Com muitas casas próximas, em sua maioria de pescadores, que são os principais frequentadores da praia. Não possui infraestrutura imediatamente próxima, mas há comércio por perto, sendo indicado que o turista leve alimentos e bebidas. Ótima opção para os que gostam de uma vida simples e da natureza, que aqui encontram um belo lugar para descansar e repor as energias, seja tomando um banho de mar ou assistindo ao pôr-do-sol.

Com grande expectativa de investimentos o Porto do Açu já trouxe vários trabalhadores para o município de São João da Barra, empresas contratadas trouxeram trabalhadores e muitos comércios surgiram para suprir a necessidade dessas pessoas como restaurantes, depósitos de construção, supermercados. Com a crise de 2008 e a desistência de instalação de siderúrgicas, que inviabilizou a instalação das térmicas fez com que o projeto ganhasse desconfiança no mercado, ações do grupo de Eike Batista despencaram na bolsa, pela dúvida na capacidade de tornar os projetos reais.

O Decreto Estadual 41.915/2009, aprovado pela Câmara de Vereadores permitiu a desapropriação como de interesse público uma área de 7.200 hectares, as desapropriações foram feitas através da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin) e a ex-LLX (atual Pruma), para dar espaço ao condomínio industrial previsto no projeto.

Há informações do pagamento de R$ 2,8 milhões em auxílio para 190 famílias, das quais 35 foram para o assentamento, que leva o nome de Vila da Terra.

As denuncias de irregularidades na desapropriação dos agricultores vem sendo feita há anos, eles acusam situações de falta de transparência, descumprimento da legislação ambiental e latifundiária, além da pressão sofrida para que saíssem de suas terras.

As condições do novo assentamento (Vila da Terra), segundo os reassentados, são como as de uma "favela rural", pela proximidade das casas, já que estavam acostumados a terras amplas e próprias ao cultivo. Segundo a LLX, as casas têm toda infra-estrutura necessária com móveis e aparelhos eletrônicos entregues juntos com as casas, os terrenos tem dimensão mínima de 2 hectares, e os terrenos acima de 10 hectares seriam desapropriados e pagos com o valor corresponde as terras.

Em 2012 a Lagoa do Açu virou Parque Estadual da Lagoa do Açu. Nesta área de 8.251,45 entre Campos dos Goytacazes e São João da Barra há vegetação de restinga e de mangue, sítios de pouso e reprodução de aves migratórias e região de desova da tartaruga marinha conhecida como cabeçuda. Apenas 1% do parque esta situado no município de São João da Barra.

A Lagoa Salgada também esta situada ao sul do município, e é classificada pela Sigep (Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos) como um sítio geológico e paleontológico, onde apresenta formação de estromatólitos, um tipo de rocha primitiva formada por cianobactérias, que são consideradas as responsáveis pelo aparecimento do oxigênio na atmosfera terrestre. Esse tipo de formação rochosa é a única no Brasil e na América do Sul, sendo observados apenas na China e Estados Unidos. Há também estudos que sinalizam que a lagoa têm uma lama com rico material orgânico igual ou superior ao do Mar Morto, Israel.

O Parque Estadual da Lagoa do Açu existe desde 1992. A unidade foi criada para proteger a rica biodiversidade local. Nesta área de 8.251,45 ha entre Campos dos Goytacazes e São João da Barra há vegetação de restinga e de mangue, sítios de pouso e reprodução de aves migratórias e região de desova da tartaruga marinha conhecida como cabeçuda.



























BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", dos sites Panorama TricolorEliane de Lacerdablog do Drummond e Mundial News FM. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.