quinta-feira, 30 de junho de 2016

Para que Infra-estrutura se temos as Olimpíadas? (Por Thiago Muniz)

Num país onde se aplaude corruptos e espanca professores, o que esperar?

Policiais agridem professores e estudantes em protesto de profissionais da rede estadual de educação, na tarde desta quarta-feira no centro Rio de Janeiro

Após uma Assembleia que votou pela continuidade da greve na rede estadual de educação, professores e estudantes seguiram em um ato até o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Chegando lá, foram duramente reprimidos pela Polícia Militar, que usou de força desproporcional como: bombas de gás lacrimogêneo, spray de gengibre e cassetetes. 

Um manifestante chegou a ser preso arbitrariamente, e várias pessoas foram feridas, foram cacetadas na cabeça, braços quebrados e muita intoxicação pelo uso dos artefatos químicos. Os manifestantes feridos foram encaminhados ao Hospital Souza Aguiar.

Vergonha, caos, estamos caminhando para uma guerra civil. Logo eles vão matar um professor. O Estado está sem governo, precisaria de um intervenção. Não teremos, pois na esfera federal o caos também está instalado. Lamentável tudo isso.

A nossa polícia é a mais violenta e despreparada. Não tem diálogo, não tem autocontrole, não sabem diferenciar uma simples passeata de um arrastão. A polícia foi feita para proteger o Estado e não o cidadão. Como estão sendo humilhados pelo governo e não podem revidar, para externar sua revolta, batem em outros servidores estaduais que podem externar sua revolta nas ruas, são servidores iguais a eles, mas a ignorância não os deixam ver isso. Agem como sempre, sem pensar. Lembram os capitães do mato que perseguiam, torturavam e matavam negros como eles.

A luta dos professores é uma sensação de luta individualista, que apesar de um único coletivo, parece estar perdido em um mar de incertezas, onde o futuro nos remete a pensar onde vamos perder mais, ou onde vamos sofrer repressão em tons mais acentuados.

Nenhuma cidade brasileira tem condições de sediar os Jogos Olímpicos. Nem o Rio de Janeiro, a nossa cidade-candidata para 2016, que disputa a indicação com Chicago, Tóquio e Madri. Apesar de sua inegável beleza natural, isso não basta para ser a sede de um dos mais importantes eventos mundiais. A paisagem carioca não consegue esconder as mazelas da cidade.

As gritantes distorções sociais, a falta de infraestrutura urbana elementar, a violência urbana, os maus-tratos ao meio ambiente, a inexistência de mentalidade olímpica e a experiência negativa do Panamericano de 2007 são alguns fatores que deixam o Rio muito distante dos rigorosos quesitos impostos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

A segurança no Rio de Janeiro é outro fator preocupante. Pelos dados da Secretaria de Segurança Pública, em 2009 houve 2.759 assassinatos no Estado, 12,3% a mais do que os ocorridos no mesmo período em 2008. Isso sem contar outros tipos de crime que viraram banais, como os furtos e pequenos roubos.

E, como se não bastasse sermos o país mais pobre entre os candidatos, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) apresentou a proposta mais cara. Enquanto o Brasil não for, a exemplo das demais candidatas, medalha de ouro em saúde, educação, transporte, moradia, meio ambiente, segurança, alimentação, luz elétrica e esportes para todos, gastar tanto dinheiro em Jogos Olímpicos seria um ato de violência contra o povo mais pobre.

Antes de fazer jorrar dinheiro público para construção de "elefantes brancos", como houve no caso do Panamericano, o Brasil precisa melhorar seus índices sociais. Essa ideia de que os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro transformarão o Brasil em potência é equivocada. O caminho é justamente o inverso. Temos que, antes, ser socialmente grandes e justos para só então pensar em Olimpíadas.

Sediar uma Olimpíada pode ter sido uma grande glória no passado, mas tem se tornado um fardo político e econômico que cada vez menos cidades estão dispostas a carregar.

Quantias exorbitantes de dinheiro que desaparecem dos olhos da população. Ao fim de um evento desse porte, como as Olimpíadas - apos todos esses problemas que não podem deixar de serem discutidos - como será a situação do Estado do Rio de Janeiro, que desde agora já se encontra atolado de dividas? A pergunta é: O Estado do Rio de Janeiro, realmente tem condições de sediar um evento dessa amplitude?

É possível, que com toda essa situação preocupante e alarmante exista mesmo algum legado olímpico?

Sediar um megaevento surge então como um “trunfo” nessa acirrada competição por espaço no mercado. Além de aquecer a economia, esses eventos em escala mundial trazem a oportunidade de aceleradas intervenções urbanas (recuperação de áreas degradadas, melhoria da estrutura viária e do transporte público, aumento da oferta de emprego e etc.) oferecendo assim grandes benefícios para aqueles que usufruem da cidade que foi escolhida para sediá- los, o chamado legado social. 

A questão principal suscitada com o anúncio e, principalmente, com a realização da Copa do Mundo nesse ano, foi qual seria esse real legado tão anunciado para a população, que manifestou a sua insatisfação com os altos custos do evento aos cofres públicos. Levando milhares de brasileiros a se perguntarem “Copa e Olimpíadas para quem e para quê?”.

O Brasil foi o retrato do desbravador, do aventureiro, em sua candidatura para sediar os jogos Olímpicos em 2016, provando que esse negócio de que não poderia ganhar o direito de abrigar tamanho evento era uma lenda. 

Através de um presidente pop, de uma comitiva exageradamente emocionada e com apresentações louváveis, com um filme do cineasta Fernando Meirelles, esteticamente perfeito, o País implodiu o mito. Entretanto, esse feito não pode ofuscar o nosso senso crítico e que o entusiasmo não entorpeça a realidade do país.

Devo informá-los que sou carioca e desde já insisto que a Olimpíada não pertence ao Rio, mas a todo o Brasil. A vitória é de todos, tal qual as derrotas possíveis. Minha crítica não é destinada só ao Rio, mas ao País, pois, diante das mazelas que permeiam esta nação, sinto-me muito à vontade em adotar postura opositora à celebração do evento. Minhas opiniões são de um cidadão indignado com as falcatruas relacionadas ao fato.












BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blogs "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



quarta-feira, 29 de junho de 2016

Renovar é preciso (Por Thiago Muniz)

A imagem cultivada há décadas no país é a de que o jogo político é nocivo, perigoso. Absolutamente verdadeira se levados em consideração os acontecimentos que vêm a público ultimamente.

Numa época em que se fala na necessidade de renovação, de termos novos quadros no espaço político brasileiro é bastante perturbador percebermos que aqueles que poderão se tornar os nossos representantes num futuro próximo não se mostram minimamente interessados na chamada vida pública.

As causas? Simples.

Basta levarmos em conta os muitos casos de corrupção, de malversação de dinheiro público, de relações entre parlamentares e pessoas envolvidas em ilícitos penais. Esses fatos levaram ao quase completo descrédito de boa parte da população na seriedade da atividade política.

A renovação política se faz necessário nesse péssimo cenário de representação parlamentar que vivemos atualmente. Muitos políticos de plantão só pensam em levar vantagem em tudo.

Para mudar essa situação precisamos da união dos cidadãos, mobilização social e atitude para fazer surgir novas lideranças populares. Precisamos incentivar nossos familiares, vizinhos, amigos, colegas que tenham ideias novas e vontade de fazer da política uma fonte de transformação da sociedade a entrarem num partido e se candidatar a um cargo público.

Tudo isso leva a concluir que alguma coisa precisa ser feita com a maior urgência se queremos um panorama político limpo e confiável voltado realmente para os interesses da sociedade. Chegar a esse ponto não parece ser uma tarefa das mais difíceis, pois depende exclusivamente do interesse da comunidade em escolher candidatos que tenham provado, ao longo de sua atividade parlamentar, probidade e verdadeira preocupação com os problemas nacionais. 

E, no caso dos novos candidatos, votar naqueles que tenham propostas sérias e viáveis, ao contrário dos muitos absurdos e despropósitos que ouvimos nos programas de propaganda eleitoral veiculados pelos meios de comunicação.

Falar em renovação na atividade política é, sem dúvida, um lugar comum repetido a cada período eleitoral. E o mais comum é que os próprios candidatos, mesmo aqueles que têm um passado político no mínimo nebuloso, são os primeiros a pregar a necessidade de correção e honestidade no meio político. Nada de muito estranho, já que ser cara de pau é um direito de qualquer cidadão, mas, no parlamento, isso não deve ser incentivado e nem posto em prática, principalmente por parte de quem vai agir no sentido de melhorar a vida da população.

O que fazer, então? 

Cabe a nós, eleitores, agirmos com consciência e escolhermos o nome daqueles que, por seu passado e por suas propostas forem dignos do nosso voto. E, mais que isso, acompanharmos a atuação daqueles em quem votamos. É a consciência política de cada um de nós levará ao início do processo de mudança e à esperança de um futuro melhor.

Renovar é...
  • Reconhecer os fatos das grandes obras do passado, mas seguir em frente inovando.
  • Entender que é preciso um jeito novo de fazer, atendendo a coletividade com transparência e zelo pelo bem público.
  • Ter a compreensão das reais necessidades do povo, abrigando-os com programas de moradias, criando trabalho e emprego e dando dignidade a pais e mães de família.
























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Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blogs "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




terça-feira, 28 de junho de 2016

O discurso da extrema direita ganha audiência (Por Thiago Muniz)

Recebe a classificação de extrema direita toda manifestação humana que possua orientação considerada exageradamente conservadora, elitista, exclusivista e que alimente ainda noções preconceituosas contra indivíduos e culturas diferentes das de seu próprio grupo. Assim, é considerado de extrema direita o indivíduo, grupo ou filosofia que se localize mais à direita do pensamento de direita comum a todas as sociedades do planeta.

Muitas vezes o termo é utilizado para sugerir um individuo ou grupo com ideias extremistas, preconceituosas ou ultraconservadoras.

Seja como for, o pensamento de extrema direita em geral está baseado na crença, muitas vezes messiânica, da condição especial de determinado povo, cultura ou crença, bem como na iminente ameaça que este grupo irá ou já esteja sofrendo por parte de outros grupos diferentes em meio ao seu caminho ao domínio de todas as outras sociedades, sendo necessária a união e mobilização contra tal ameaça vinda "do outro".

Desde a década de 80 do século XX o termo vem sendo bastante utilizado para classificar a ideologia de grupos, muitas vezes armados, que patrocinam através de desfiles e passeatas, na Europa e Estados Unidos, o pensamento do partido nazista alemão e fazem culto ao seu líder, Adolf Hitler. Estes tais grupos de extrema direita ficaram conhecidos através da imprensa pelo nome genérico de neo-nazistas, existindo dentro desses grupos de extrema direita, porém, as mais diversas ramificações filosóficas.

Ultimamente, o termo vem sendo aplicado também a partidos ultraconservadores presentes especialmente na Europa, que se apoiam no medo do europeu com relação ao imigrante, que além de ser promovido como alguém que chega "de fora" para tomar o emprego do cidadão comum europeu, ainda desvirtuaria a cultura cristã tradicional do continente com suas diversas religiões, línguas e costumes, com especial atenção ao islã, que seria uma religião promotora do terrorismo.

Nos Estados Unidos, outro centro importante de atividade de grupos de extrema direita, pode-se citar nesta categoria a tradicional Ku Klux Klan, surgida logo após o fim da Guerra Civil Norte-americana, ativa ainda hoje, e que prega a supremacia da raça branca (caucasiana), ultranacionalismo e combate à imigração estrangeira.

A imagem da KKK ficou eternizada em filmes, livros e canções pela perseguição de negros e mexicanos, realizando muitas vezes linchamentos fotografados e documentados como ato de validação dos valores de sua organização. Além da KKK, podemos encontrar nos EUA grupos de extrema direita baseados nos cultos religiosos, em especial na região do chamado Bible Belt (cinturão bíblico) região sudeste dos EUA, onde há grupos que seguem uma filosofia cristã extremamente rigorosa.

Aliás, é dessa região que se originou o termo "fundamentalismo", que foi utilizado pela primeira vez no final do século XIX para descrever os crentes daquela região. Outra corrente extremista nos EUA encontra-se baseada em grupos armados, que adotam todo um estilo de vida à volta da arma e do conceito de proteção contra o inimigo imigrante estrangeiro, isso sem deixar de mencionar os grupos neo-nazistas, presentes em todo território norte-americano, muitas vezes mesclando características similares com as dos grupos armados ou religiosos.

Além de todos esses grupos, podem ser encontrados simpatizantes da extrema direita nos dois partidos predominantes na política norte-americana, os partidos Republicano e Democrata, pois, apesar de sempre disputarem o poder a cada eleição legislativa ou executiva, estes dois partilham muitas ideias conservadoras que beiram às vezes as ideologias de extrema direita.

A extrema-direita, marcadamente associada às trágicas experiências do nazifascismo, continua apresentando muitos traços originais do contexto de sua emergência: irracionalismo, nacionalismo, defesa de valores e instituições tradicionais, intolerância à diversidade — cultural, étnica, sexual — anticomunismo, machismo, violência em nome da defesa de uma comunidade/raça considerada superior. 

Compartilhando do ideário político vinculado aos interesses de dominação, opressão e apropriação privada da riqueza social, distancia-se da direita tradicional pela intolerância e pela violência de suas ações, embora, quando organizada em partidos ou associações públicas, recuse tais práticas por parte de seus membros.

O fascismo se configurou como uma experiência histórica emblemática da barbárie, uma vez que se concretizou no mesmo solo ocidental que semeou o projeto civilizatório da modernidade, fundado na razão, no Estado laico e no humanismo. Sua reedição tem sido recusada por vários pensadores, tanto pelas feridas traumáticas que o fascismo legou para a humanidade quanto pela compreensão da história como processo irrepetível. 

No entanto, uma abordagem crítica sobre a totalidade social permite identificar que se a história não se repete, uma vez que expressa particularidades da ação concreta dos homens no atendimento de necessidades também históricas e particulares, sua processualidade contraditória é constituída de momentos de conservação e de superação que só são radicalmente ultrapassados por rupturas revolucionárias.

O resultado é que de modo crescente, a preferência pelo discurso abertamente radical de direita vem ganhando adeptos, mudando o perfil destes e começando a surgir mesmo em países sem tradição de suporte a este radicalismo. 

A pesquisa apura uma média geral do crescimento dos votos em partidos de extrema-direita em todas as eleições nacionais ocorridas desde o surgimento destes partidos até o ano de 2008 na Europa ocidental (Portugal, Espanha, Irlanda, Alemanha, çustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Itália, Luxemburgo, Reino Unido e Suécia). 

O resultado é que o crescimento da média de votos em partidos da nova extrema-direita cresceu de 1,36% em eleições do começo da década de 1980 para 7% em eleições de 2008.

Cresce a extrema direita no Brasil. Felizmente, tirando os deputados Feliciano e Bolsonaro, tem pouca presença institucional. Mas, de duas uma: ou criará um partido novo, ou continuará numa relação ambígua com o PSDB, que lhe dá votos mas perturba a identidade.

A extrema direita não elege quase ninguém aqui. Para cargos executivos, menos ainda. Mas se fortalece na expressão de suas ideias. É fraca em poder, mas avança no berro. Para usar a expressão de Gramsci, disputa a hegemonia. Degrada o debate no país.

Durante alguns anos, PSDB e PT, representando nossa centro-direita e centro-esquerda, viveram uma aproximação na prática - ainda que ela fosse negada no discurso de ambos. Mas nos últimos anos a retórica subiu em decibéis. Temos um paradoxo: candidato, Aécio Neves prometeu continuar a política social do PT; reeleita, Dilma Rousseff adotou medidas econômicas dos tucanos. Portanto, a realidade não os afasta tanto - mas, na aparência, eles parecem estar quase em guerra. 

O que vale, a realidade fria ou a aparência raivosa? As políticas econômicas e sociais, ou a retórica desenfreada? a razão ou a paixão? Porque guerras favorecem os extremos.

Onde é mais fácil ver a extrema direita é na internet. Ela povoa os comentários das redes sociais e das edições online dos jornais. É incrível o ódio que destila. Há poucos dias, lendo as notícias sobre o fuzilamento de Marcos Archer na Indonésia, me surpreendeu a quantidade de comentários atacando o PT, que nada tinha a ver com o assunto. 

A maior parte era escrita por pessoas desinformadas da realidade e desacostumadas ao cultivo da língua. Mas são veementes. Felizmente, não vão muito além do Facebook e dos blogs.

Ou não iam. Saíram da internet e foram para as ruas nos últimos meses - numa paródia, em menor, das manifestações de 2013. Pediram que os militares rasgassem a Constituição e tomassem o poder. No diagnóstico, erram. Misturam em seu ódio homossexualidade, Hugo Chávez e programas sociais. Nas suas propostas, nem percebem que o mundo atual não está para golpes. O que fariam as Forças Armadas, se tomassem o poder? Meio século atrás, os golpistas tinham uma agenda inteira montada. Os militares não tinham afeição pela democracia. 

Os empresários receavam os movimentos sociais, que avançavam. A economia estava em grave crise. O governo norte-americano apoiava qualquer golpe de direita na América Latina. Hoje, nada disso existe. Os extremistas são, literalmente, reacionários. Querem que o mundo recue. Não têm projeto viável.

Esse público nas ruas e na Internet vai além de seus próprios pregadores na mídia. Alguns colunistas de jornal chegaram perto de declarar ilegítima a eleição de 2014, o que é uma afirmação bastante grave de se fazer numa democracia, mas não lembro nenhum que tenha pedido a derrubada do governo eleito. Entre os ideólogos e seus seguidores que foram às passeatas ou escrevem em blogs, há uma distância. Os primeiros são mais informados, mais inteligentes. Os segundos, não. Apenas radicalizam.

Mas um problema sério é que essa extrema direita, que tem votado no PSDB nos momentos decisivos, pressiona nosso partido que porta em seu nome a social-democracia - uma denominação típica da esquerda - a ir para a direita. E isso traz alguns resultados. Assim se entende o uso do aborto na campanha tucana em 2010 ou a ênfase de Alckmin numa política repressiva de segurança. Esse fato cria problemas de identidade no PSDB, reduzindo o peso do passado glorioso de Montoro, Covas, Ruth Cardoso. É óbvio que FHC não deve se sentir confortável com esse avanço dos extremismos.

Pode essa extrema direita, que é mais forte em São Paulo, mas cujo tamanho exato ninguém no Brasil é capaz de mensurar, alterar a natureza do PSDB? Não me parece provável. Ela deve manter seu papel de aliada subordinada. Presta o serviço de destruir imagens petistas e recebe alguma compensação midiática por isso. Mas é uma aliada incômoda. Não gosta dos direitos humanos, com os quais o PSDB histórico tem um forte compromisso. Não gosta dos programas sociais, dos quais os tucanos não querem ou não podem abrir mão.

Pior, a extrema direita carrega o risco de convencer demais. Ela ajuda o PSDB na medida em que reforça o antipetismo de parte razoável do eleitorado - mas, se crescer em votos, pode fazer os tucanos perderem os votos de seus eleitores iluministas e, pior, tornar-se dominante em algumas seções regionais do PSDB, o que poria o partido em sério risco.

Há outra possibilidade, para a qual me alertou o cientista político português Álvaro Vasconcelos, ora professor visitante no IRI da USP. Sem o PSDB, a extrema direita pode se tornar um partido próprio, e este pode ganhar força. É o que sucede na Europa. A Frente Nacional ameaça a política francesa há anos. Tem uma votação elevada, embora o sistema eleitoral francês traduza esses sufrágios em pouquíssimos cargos de efetiva significação.

Mas essa é uma possibilidade remota. Como a extrema direita brasileira, dado o seu exacerbado antipetismo, acaba apoiando o PSDB, ela não se organiza para tomar o poder. Prefere operar nas laterais. Sabe que - hoje - teria poucos votos, se disputasse as eleições para valer. 

Mas é preciso fazer constantemente o balanço do que é melhor para o país e para os tucanos - se é a extrema direita continuar subordinada, sem voz independente mas podendo minar um partido sério, com história e com futuro, ou se é ela adquirir voz e identidade próprias, com o risco de crescer mais. Porque o atual, talvez crescente, desencanto com os políticos favorece aventuras.













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Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




sexta-feira, 24 de junho de 2016

O discurso da xenofobia em alta (Por Thiago Muniz)

Xenofobia significa aversão a pessoas ou coisas estrangeiras.

O termo é de origem grega e se forma a partir das palavras “xénos” (estrangeiro) e “phóbos” (medo). A xenofobia pode se caracterizar como uma forma de preconceito ou como uma doença, um transtorno psiquiátrico.

O preconceito gerado pela xenofobia é algo controverso. Geralmente se manifesta através de ações discriminatórias e ódio por indivíduos estrangeiros. Há intolerância e aversão por aqueles que vêm de outros países ou diferentes culturas, desencadeando diversas reações entre os xenófobos.

Nem todas as formas de discriminação contra minorias étnicas, diferentes culturas, subculturas ou crenças podem ser consideradas xenofobia. Em muitos casos são atitudes associadas a conflitos ideológicos, choque de culturas ou mesmo motivações políticas.

Há vários motivos para se lamentar a saída do Reino Unido (mais desunido do que nunca) da União Européia. O menor continente do planeta é historicamente o mais salpicado de guerras e litígios por metro quadrado. Quando o Tratado de Maastricht instituiu a União Européia em 1993, a Humanidade experimentava a utopia da paz entre 27 países distintos, desiguais, porém sujeitos desde então às mesmas regras gerais (que extrapolam apenas a unidade monetária).

A onda de intolerância fez com o Papa Francisco, recém ungido à condição de líder espiritual dos católicos, escolhesse como destino da primeira viagem oficial de seu pontificado (em julho de 2013) a Ilha de Lampedusa, na Itália, porta de entrada de centenas de milhares de imigrantes na Europa.

"Tende a coragem de acolher aqueles que procuram uma vida melhor”, pediu o Papa. O apelo continua ecoando sem efeito no velho continente.

A luz vermelha já está acesa. Antes as pessoas tinham pudor de expressar a rejeição aos imigrantes e estrangeiros residentes, mas agora tudo é falado abertamente, sobretudo na Inglaterra, Áustria e nos países do norte da Europa. Os franceses das "grandes cidades" sao sempre mais diplomatas com relação a imigração, porém basta ir um pouco mais para o interior do pais e ver que realmente o sinal vermelho já está bem aceso.

Xenofobia em alta. Curiosamente, na 2ª Guerra Mundial, navios abarrotados de europeus (especialmente franceses) desembarcaram milhares de refugiados do velho continente no norte da África (especialmente Argélia) que acolheu essa gente toda.

O êxito dos separatistas britânicos parece ter origem na aversão à chegada maciça de imigrantes (que hoje somam mais de 8 milhões no Reino de Sua Majestade). A vitória do "Brexit" ocorreu apenas 3 dias depois de a ONU anunciar que o número de refugiados no mundo inteiro alcançou a impressionante marca de 65 milhões de pessoas fugindo de guerras, perseguições e torturas. Isso dá uma média de 24 novos refugiados a cada minuto, algo parecido com o que houve durante a 2a Guerra Mundial. Uma gigantesca crise humanitária.

Há vários motivos para se lamentar a saída do Reino Unido (mais desunido do que nunca) da União Européia. O menor continente do planeta é historicamente o mais salpicado de guerras e litígios por metro quadrado. Quando o Tratado de Maastricht instituiu a União Européia em 1993, a Humanidade experimentava a utopia da paz entre 27 países distintos, desiguais, porém sujeitos desde então às mesmas regras gerais (que extrapolam apenas a unidade monetária).

Mais que o tratado de Maastricht, o acordo de Schengen aproximou a UE da utopia. A livre circulação entre os Estados membros é uma demonstração de maturidade, responsabilidade e segurança na escolha feita. Parece que a Grã-Bretanha não consegue entender a importância dessa maturidade.

O discurso da direita britânica é cópia mal feita do discurso xenófobo do Trump. Elege-se como inimigo comum o "estrangeiro". É uma receita infalível para obter rápida popularidade, assim como declarar guerra a um outro país. Londres é a capital mais cosmopolita do planeta graças a essa caprichosa combinação de culturas e etnias. O que seria dos Estados Unidos sem os mexicanos? Fizeram até um filme bem humorado sobre isso anos atrás ("Um dia sem mexicanos / 2004"). A crise climática vai agravar a questão dos imigrantes. São outros tempos que exigem outras políticas. Gente mais qualificada, a altura dos novos desafios.

O problema é que todos hipocritamente atacam a consequência (o êxodo de refugiados) e não a causa (tirania, fome, guerras). Os próprios refugiados que correm das perseguições nos seus países, querem aplicar suas leis próprias nos países que os acolhem, e condenam os comportamentos dos cidadãos que os recebem... Enquanto durar essa epidemia politicamente correta de não dar nome aos bois e punir quem não respeita regras (de ambos os lados), não há saída verde para esse sinal.

Lei de Sociedade; Essa decisão sem sombra de dúvidas terá consequências negativas para o Reino Unido. Os reflexos psíquicos da egolatria e do orgulho monárquico e imperialista sempre se sobrepôs contra a fraternidade, a solidariedade e o amor universais. Numa dimensão maior que se distancia da nossa, as rédeas da condução dos destinos da nossa Humanidade não está nas nossas mãos (nas mãos do Reino Unido ou dos EUA). Pois, ir contra as Leis que nos regem é contrair dívidas para depois ter que pagá-las a juros compostos. Cedo ou tarde eles terão uma retomada de consciência.

Tomar decisões como esta do Reino Unido, sob influência mais emocional (egoísta eu me atrevo a dizer) do que racional, é sempre perigoso. A União Europeia, apesar de alguns equívocos, é o maior projeto integracionista da humanidade, em todos os tempos. Alexandre, o Grande; o império romano; Napoleão, tiveram a oportunidade de semear a união de forças, e fracassaram. A UE avançou neste sentido, não sem errar, mas avançou. O momento atual do planeta pede união de forças, e não a desintegração. Lamentável. Triste. Sinais amarelos todos piscando e berrando no painel de controle.

O que vemos acontecer em escala planetária é o mais do mesmo, inclusive no Brasil. A indiferença dos que têm muito aos que nada ou quase nada têm é grave e, talvez, a nossa omissão diante daquilo que presenciamos pode nos tornar tão indiferentes quanto aos que assim pensam e agem. É uma questão de escolha. Ou empoderamos os despossuídos, alimentando seus corpos, suas ideias e ideais, ou a omissão nos coloca do lado dos opressores.













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Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




O mundo caminhando para o retrocesso (Por Thiago Muniz)

A democracia faz com que a decisão do povo seja respeitado, para o bem ou para o mal. Temos a ilusão de que a maioria vota bem; ocorre que frequentemente vota bem mal. Ficamos, porém, com essa alternativa porque a democracia é o sistema que permite rever os erros. Nem que seja para errar de novo.

O mundo acordou em choque com a notícia de que o referendo no Reino Unido terminou com a vitória pela saída da União Europeia. O ‪Brexit‬ derrubou a libra esterlina, David Cameron anunciou sua renúncia e a Escócia e a Irlanda do Norte já cogitam deixar o Reino Unido. Além disso, a ruptura pode deflagrar o crescimento incontrolável de movimentos antieuropeus, com consequências imprevisíveis para a economia e o equilíbrio geopolítico de todo o mundo.

Com esta tremenda derrota do David Cameron, seu maior rival, Boris Johnson, ex-prefeito de Londres que favoreceu a especulação imobiliária absurda da capital inglesa, tem tudo pra virar primeiro-ministro.

O inglês é um povo diferente mesmo. Responsável pela civilização ocidental como a conhecemos, em grande medida, foi esse povo que nos forneceu dois dos grandes estadistas que impediram, em seus respectivos tempos, o declínio de tal civilização: Churchill e Thatcher. Essa, aliás, tinha sempre razão mesmo: não queria a união forçada com o resto da Europa. A mulher sabia das coisas, e por isso não é enaltecida pelas feministas, apesar de ter sido pioneira em tudo, independente, bem-sucedida. É porque era conservadora.

O mundo está perplexo com essa decisão absurda, que pode marcar o começo do fim da UE. E com o fim da União Européia, o conservadorismo voltará com força e a extrema-direita se vingará depois de muito tempo no ostracismo. Foi uma vitória da extrema-direita.. E não só a do Reino Unido, mas a da França, da Alemanha. O significado é sobretudo político. A ruptura virá como uma avalanche em todo o bloco. Os fascistas da UE estão em festa.

Concordo que não podemos julgar o que é bom ou ruim para os britânicos - porém, como o Brexit vai afetar o mundo inteiro, podemos julgar o que vai ser ruim para os não-britânicos.

Em primeiro lugar, o voto pelo Brexit consolida a vitória de um populismo etnocêntrico e xenófobo; isto dará um impulso a outros populismos europeus como o da Marine LePen, do Orbán e da Aktion für Deutschland. A Marine já disse que se ganhar a presidência da França vai considerar o Frexit. Se isto aconteer, tchau União Européia.

Em segundo lugar, mostra uma grave fissão no chamado bloco ocidental, que certamente será aproveitado por gente como o Putin para pôr as asinhas de fora. A Escócia vai querer outro referendo para a sua independência, e desta vez é provável que ganhem os separatistas. A economia da Inglaterra depende bastante da mão-de-obra barata e jovem de outros países da União Européia. Se terminarem os acordos de liberdade de movimento, muita gente vai sofrer dentro e fora da Inglaterra, inclusive brasileiros que moram lá com passaportes de outros países europeus. Isso, só para começar.

Do outro lado do Atlântico, o candidato à Presidência dos Estados Unidos Donald Trump racha o país (e o próprio Partido Republicano) com um discurso racista, misógino, xenófobo e intolerante sustentado por uma parcela surpreendentemente expressiva do eleitorado. Quem apóia Trump parece ignorar o óbvio: o que seria dos Estados Unidos sem os imigrantes? É do mix racial e cultural que reside parte importante da força daquele país. Agora só falta o Donald Trump virar presidente dos EUA.

Se eleitores bem qualificados culturalmente como os ingleses, usam o voto para fazer uma lambança dessas com consequências imprevisíveis, imagine os brasileiros, analfabetos políticos. Aqui no Brasil nossos políticos continuam chafurdando na lama, a opinião pública conceituando aspectos e valores da corrupção, onde se deveria erradicar a prática. Onde se valoriza o personagem Bolsonaro, a bancada evangélica e o baixo clero, vemos que há algo de errado.

E a equação é clássica: população frustrada economicamente + extrema direita nacionalista = fodeu.

Mas não deixa de ser elegante como narrativa: enquanto repetimos 1964 no Brasil, o resto do planeta reconstrói o cenário que levou o mundo ao caos na primeira metade do século 20.

O mais triste é que não precisávamos seguir estes caminhos; bastava constatar o óbvio: as posições retrógradas, hostis e ignorantes de uma extrema direita que se preocupa apenas em manter e expandir os privilégios daqueles que sempre os tiveram.

Para a neodireita, não existe cultura do estupro, vivemos numa ditadura gayzista, as cotas raciais são um absurdo, não há crise climática, o comunismo ainda existe, os pobres estão explorando os ricos, o Estado não pode interferir na vida dos cidadãos (a não ser pra proibir aborto e impedir que gays se casem ou adotem filhos), o mercado não pode ser regulado (a não ser que queira mexer na velocidade da Internet ou barrar o Uber), a Cultura não tem qualquer outra função além de desperdiçar dinheiro, imigrantes são pragas que querem tomar nossos SUBempregos, "Deus" e "cidadão de bem" são obrigatórios em qualquer discurso, democracia é um conceito que só vale quando conservadores ganham a eleição, a agressão é uma forma aceitável de argumento político, a austeridade vale para políticas públicas mas não para os incentivos às corporações, a justiça só funciona quando está calando adversários ou protegendo a elite...

...e, principalmente, "ideologia" é algo feio que só a esquerda tem e quer propagar.

É como eu já disse: não há absolutamente nada de novo aqui. O que resta é que cada um de nós se posicione antes que sigamos a progressão lógica da História e mergulhemos mais uma vez no pesadelo do fascismo.

A Inglaterra se revelando a "nova" Alemanha versão anos 30?
Fascista e xenofóbica?
Seriam os ingleses seres humanos "especiais"?
Uma raça superiora? 

Já vimos esse filme antes, o final foi triste, poderiam fazer uma aliança bélica com Israel para dominar o mundo, a postura de ambos em relação aos países vizinhos é semelhante, minúsculos territorialmente porém imensos na soberba, arrogância e vaidade, deveriam ambos sofrerem um boicote radical do resto do mundo, morreriam de fome sem os produtos dos países que desprezam, das pessoas que trabalham honestamente para sustenta-los pelo resto do mundo, bloqueio continental já foi imposto no passado à Inglaterra, não deveriam provar desse remédio amargo novamente por pura vaidade, somos todos humanos, as mesmas restrições que fazem deveriam receber de volta das outras nações, na mesma moeda.

Esse resultado não envolve somente questões econômicas. A imigração é algo que sempre incomodou os ingleses. Tanto é que de toda a Inglaterra, Londres foi a cidade mais relevante que votou pela permanência, por ser a cidade mais "heterogeneizada" em questão de povos. Tudo se caminha para um retrocesso graças a ascensão da extrema direita.

A ilha mãe do liberalismo prova mais uma vez que é mesquinha e xenófoba: após décadas se beneficiando do gordo dinheiro alemão e dos trabalhadores do leste europeu para vagas pouco qualificadas que precisavam de ocupantes, uma vez que os britânicos não as queriam, o Reino nada Unido mostra a sua faceta mais preconceituosa e conservadora. Fiquemos atentos agora ao outro lado do atlântico, os EUA de Donald Trump.

O mundo caminhando para o retrocesso, as guerras virão até porque a intolerância, preconceito e a ganância tomarão formas e isso levará a mortes. Não virão as guerras das trincheiras, mas várias formas de conflitos chegarão. As fronteiras ficarão mais fechadas e acordos comerciais ficarão mais raros. Liberdade, independência, descentralização de poder e o começo da implosão do bloco que se torna cada vez mais ditatorial. Tem gente que não gostou, mas o lastro de uma nova guerra na Europa acabou de cair.

O Medo faz isso com as pessoas. Não deixa pensar direito. Pior! A pessoa com medo toma decisões e acha que está fazendo o melhor possível. Depois, quando dá merda, se apoia na ideia que não tinha outra opção. Mas a opção estava lá. O medo não deixou ver. Estou começando a achar que não viverei o suficiente para completar 80 anos, pois o mundo vai se matar rápido demais, sem meteoros para botar culpa.

Isto vai repercutir no mundo inteiro, todos querendo se proteger. Infelizmente, por culpa da própria natureza humana tão primitiva, e por causa disso, a cada dia comprova-se que esta experiência, foi um desastre para muitos países da Europa, pena. E agora, o que virá?

É o fim do mundo como o conhecemos. Quando sai mesmo o voo pra Marte? À luz amarela está acesa.

































BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.





quarta-feira, 22 de junho de 2016

A inércia do povo nas ruas (Por Thiago Muniz)

São mais de 500 anos de PLUTOCRACIA E CLEPTOCRACIA, a Democracia Representativa é usada como ferramenta de espoliação dos cofres públicos e tráfego de influências, independente de ideologias, se são de esquerda ou direita, estão todos envolvidos no mesmo jogo de privilégios e furto da esperança brasileira.

Quando estiver na deprê, lembre-se que muita gente vestiu a camisa "a culpa não é minha, votei no Aécio", que milhares usaram a hashtag #somostodoscunha e que uma multidão de patinhos amarelos acreditou na independência do MBL.

Está todo mundo indo pro buraco. Prometeram a "Disneylandia" com o impeachment, mas entregaram o Afeganistão, com todo respeito àquele país. Não sei qual investidor vai colocar dinheiro em um lugar onde muda-se de governo ao sabor dos esperneios da população, políticos e grupos de mídia. É só pensar um pouquinho. Não dói.

A minha impressão é que foi uma fortíssima antipatia contra o governo Dilma, independente se merecia ou não ser afastada. O brasileiro na verdade pouco se importa com a corrupção, estão na verdade mais ligados ao carisma da pessoa no cargo público. Os fatos demonstram isso.

Ainda há pouco, em nome do combate à corrupção, milhões de pessoas manifestavam-se pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Batiam panelas vazias, acampavam em parques, soltavam foguetes, desfilavam indignadas pelas vias públicas, cerravam fileiras, agressivas, nas mídias sociais. 

Após o afastamento de Dilma, no dia 12 de maio, um denso nevoeiro baixou sobre o país. O silêncio das ruas e avenidas espelha com clareza que os protestos nunca visaram o desmando que tomou conta da máquina do Estado, mas tão somente refletiam o inconformismo dos que perderam as eleições. Pura hipocrisia.

Se fosse uma reivindicação honesta, os manifestantes estariam novamente nas ruas e avenidas acompanhando os carros de som, ou nas varandas das residências munidos de panelas ou no Facebook, Instagram e blogues conclamando os cidadãos para continuar a luta pela decência e a dignidade na política. Afinal, em apenas um mês como presidente interino, Michel Temer teve de afastar três ministros – Romero Jucá, do Planejamento; Fabiano Silveira, da Transparência; e Henrique Eduardo Alves, do Turismo – por envolvimento com denúncias de corrupção, um recorde na história recente da República. Outros cinco ministros – Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo; Mendonça Filho, da Educação; Raul Jungmann, da Defesa; Bruno Araújo, das Cidades; e Ricardo Barros, da Saúde – também são investigados pela Operação Lava-Jato.

Aliás, o próprio Temer viu seu nome envolvido em denúncias de corrupção. O ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, afirmou em depoimento que o presidente interino pediu R$ 1,5 milhão de propina para financiar a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo em 2012 – esse mesmo Chalita que agora é candidato a vice-prefeito na chapa liderada pelo petista Fernando Haddad. 

Temer torna-se assim apenas mais um ocupante do cargo máximo da política brasileira a ter seu nome ligado a falcatruas. Todos os presidentes do período da chamada Nova República (iniciado com o fim da ditadura militar) estão sendo investigados por suspeita de corrupção: do peemedebista José Sarney ao petista Luiz Inácio Lula da Silva, do livre-atirador Fernando Collor ao tucano Fernando Henrique Cardoso.

A única pessoa que não teve – até agora – seu nome envolvido em práticas ilegais é justo a presidente Dilma Rousseff, ironicamente a única punida até o momento. Seu afastamento se deu por uma irregularidade fiscal, manobra efetivada por pelo menos 16 dos atuais governadores, um crime menor diante do saque aos cofres públicos perpetrado por políticos de todos os partidos. É como se alguém que tivesse ultrapassado o sinal vermelho fosse condenado por um júri formado por ladrões, falsários e fraudadores. 

Dilma sem dúvida vinha fazendo um governo desastroso, inábil do ponto de vista político e incompetente no âmbito econômico, mas a maioria dos manifestantes saiu para as ruas para demonstrar sua revolta contra a perda de privilégios, não por se escandalizar com a roubalheira que grassa no país acima de todas as ideologias.

Os movimentos que lideraram manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff – dizendo-se apartidários e assentados em discursos pela ética e contra a corrupção – sempre se recusaram a prestar contas sobre a origem do dinheiro gasto na organização dos protestos. Hoje sabe-se, por exemplo, que o Movimento Brasil Livre (MBL), encabeçado pelo empresário Renan Santos (filiado ao PSDB até o ano passado), teve financiamento e apoio logístico dos partidos de oposição (DEM, PSDB, SD e PMDB). 

E que Renan Santos é réu em 16 ações cíveis e em mais de 45 processos trabalhistas – as acusações incluem fechamento fraudulento de empresas, dívidas fiscais, calote em pagamento de débitos trabalhistas e em ações por danos morais, em um total de R$ 4,9 milhões. O MBL anunciou que lançará candidatos, por vários partidos, às eleições deste ano.

Já o movimento Vem pra Rua foi criado em 2014 por um grupo de empresários para apoiar a candidatura do senador tucano Aécio Neves à Presidência da República. Seu principal articulador, Colin Butterfield, é presidente da Radar SA, do grupo Cosan, uma das maiores empresas privadas do Brasil, com negócios nas áreas de lubrificantes e produção de etanol, dona da Comgás e da Rumo, líder mundial de logística de açúcar para exportação. A Radar administra 270.000 hectares espalhados em oito estados, dedicados ao plantio de cana, soja, algodão e milho. 

O Revoltados On-Line, gerenciado pelo empresário Marcello Reis, que não esconde sua simpatia pela ideia de intervenção militar como solução para o Brasil, tem ligações com o deputado fascista Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência da República. Marcello Reis, que foi recebido pelo ministro Mendonça Filho, junto com o ator pornô Alexandre Frota, para discutir os rumos da educação brasileira, vende em seu site camisetas, bonés e adesivos sem nota fiscal.

O povo que botou a camisa da CBF pra ir pra rua, é uma gente que nunca precisou ir pra rua lutar, foi única e exclusivamente por birra, seletivismo, com pautas conservadoras e elitistas, agora a moda é ser contra a esquerda e contra o PT, mas que sempre esteve na rua lutando e tem um ideal político foi a esquerda, criticando e muito a gestão do PT inclusive, a história vai mostrar quem esteve do lado certo, não há vencedores com a derrubada da Dilma, muito pelo contrário, só serviu pra mostrar como o congresso reflete a nossa sociedade, como o povo não entende nada de política e defende seus algozes de maneira seletiva, vou ter muito orgulho de dizer com meus cabelos brancos que estive do lado da democracia, do lado do povo e não das elites.






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Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




terça-feira, 21 de junho de 2016

A classe média no Brasil: os capitães do mato da elite oligárquica (Por Thiago Muniz)

Acontece que a classe média tem a sina de ser Capitão do Mato.

O momento político em que o Brasil vive é exemplo disso: Nunca seremos convidados a sentar à mesa dos patrões. Mas insistimos em nos dividir, numa irreal sensação de superioridade. De fato, insistimos em nos dividir, enfraquecendo-nos. Enquanto isto, perdemos direitos, perdemos nossa Democracia, perdemos as recentes conquistas sociais.

A classe média precisa sacar que os biscoitos que nos dão é convite para a manutenção do status quo, onde poucos detêm muito e muitos não detêm nada. E, para continuar essa lógica de exploração, precisam contar conosco, fazendo nosso trabalho de cães de guarda.

A história repete-se, “como farsa ou tragédia”. A classe média segue tragicamente cumprindo o papel que lhe cabe: Entregando os irmãos para o Coronel.

A falta de cultura é generalizada na America Latina e a falta de uma cultura de classe social dentro do processo capitalista terceiro mundo gera essa burrice geral de medo e defesa dos valores de outra classe burguesa a qual nunca pertenceremos. O que faz a diferença nessa luta é o papel que temos na evolução da sociedade e este é relegado ao transposição ao papel de grupo hegemônico através de uma propaganda discreta.

Eternos coadjuvantes. E nada livres. Esse sentimento foi cirurgicamente acoplado, ano após ano, seja em momentos históricos de tensão, seja por propagandas publicitárias na Ditadura Militar. Também por religiões eurocêntricas que nos moldam e que criminalizam as matrizes africanas, e, entre várias outras coisas, por todo nosso passado de exploração.

O chamado “brasileiro médio” não se posiciona. E não percebe que é em sua inércia que a violência cresce. Não percebe, ou não quer perceber, que essa violência tem lado e cor.

O estudante, o intelectual, que senta e assiste a tudo, inevitavelmente violenta!

E é preciso fazer autocrítica sobre o que está colocado.

O capitão do mato era na origem um empregado público da última categoria encarregado de reprimir os pequenos delitos ocorridos no campo. Na sociedade escravocrata do Brasil, a tarefa principal ficou a de capturar os escravos fugitivos. O termo capitão do mato passou a incluir aqueles que, moradores da cidade ou dos interiores das províncias, capturavam fugitivos para depois entrega-los aos seus amos mediante prêmio.

Os capitães do mato gozavam de pouquíssimo prestígio social, seja entre os cativos que tinham neles os seus inimigos naturais, seja na sociedade escravocrata, que os considerava inferiores até aos praças de polícia, e os suspeitava de sequestrar escravos apanhados ao acaso, esperando vê-los declarados em fuga para depois devolvê-los contra recompensa.

O autor Martins Pena, ao adaptar a figura ridícula de Pantaleone do teatro italiano para o cenário do Brasil, o colocou naquela profissão (“O Capitão do Mato”, 1855).

Somos a atual classe média brasileira. Chegamos aqui de diversas maneiras:

Alguns ascenderam na Era Lula, outros vieram “de cima” por meio de um pai que faliu e a família precisou se reajeitar com menos luxo. Outros, sempre mantiveram este posto econômico.

A especulação imobiliária afastou os funcionários que construíram as cidades, mas nós permanecemos nos centros urbanos, endividados ou não. Viemos do interior, com alguma história triste para contar: Um bisavô que laçou uma índia, um tataravô que estuprou uma negra escravizada.

Somos assim, “mamelucos”, mas sempre pendemos para o lado do opressor. Batemos no peito com orgulho pra contar nossa ascendência portuguesa, espanhola ou o que seja. Ninguém quer mencionar a ascendência “pobre” na família.

Somos filhos da história da repressão, mas também de muita resistência, mesmo que não saibamos. Somos filhos de conflitos e vivenciamos conflitos, mas preferimos não nos posicionar.

Vivemos numa recém-democracia e temos acesso a tudo. Somos consumidores de jornais, formadores de opinião e estamos diariamente conectados com a internet, com a velocidade e imediatismo da informação.

Muitas coisas acontecem ao nosso redor e pouco participamos, a não ser para darmos nossa “valiosa” opinião.

Há uma semana, por exemplo, uma moça sofreu um estupro coletivo no Brasil, o caso repercutiu muito, e onde estávamos? Atrás da tela do computador brincando de detetives.

Herdamos dos nossos antepassados patriarcais, o costume de culpabilizar a vítima. Com certeza o fizeram com a nossa bisavó índia, tataravó negra. Julgamos o comportamento, o passado da vítima, sua sanidade, seu poder de decisão. Quando isso não foi o bastante, criminalizamos o Funk, a roupa, o horário, a favela. Tudo, menos os estupradores.

Há meses cinco jovens negros foram fuzilados com 111 tiros de graça. Todos os dias a juventude negra é executada nas favelas. Todos os dias uma bala perdida “acha” um negro. E todos os dias a culpa é dos costumes, da música, do jeito de andar. E por que não dizer logo: Do nosso racismo?

O que há conosco? Qual é o nosso problema com a periferia? Em que momento da nossa história nós deixamos de nos identificar com nossos pares e passamos a nos sentir parte da “Casa Grande”?

Qualquer criança consegue desenhar uma pirâmide econômica e compreender que estamos aqui embaixo. Nós, os “viados”, os sem terra, a garota estuprada, o Amarildo, os cinco meninos.

Precisamos sair do discurso vitimista e nos enxergarmos como seres providos do senso de responsabilidade, e, que, por isso mesmo, temos a capacidade de realizar leitura de mundo, e, como tal, sabermos que somos diuturnamente explorados, mas acima de tudo, ainda que com uma pequena margem de atuação, podemos fazer por nós o que o poder público tem por obrigação de fazê-lo.

Enquanto isso, não podemos nos entregar e culpabilizar somente o outro. Temos uma margem de atuação para modificarmos nossas vidas. Sendo assim, continuemos a luta fazendo por nós o que somente nós podemos fazer! E estudar é um desses caminhos! É uma das poucas alternativas que nos restou, ainda!

















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Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



segunda-feira, 20 de junho de 2016

Os 10 países mais miseráveis do mundo

O ‪#‎Brasil‬ é hoje o 3° país mais miserável do mundo.
Os dados são do Instituto Cato. A definição internacional de Índice de Miséria é a apresentada no título do gráfico. 

A ideia é que quanto maiores o desemprego, os juros e a inflação e quanto menor o crescimento do PIB, pior (mais miserável) está a vida em um país. 

Não confundir com extrema pobreza.



O Rio de Janeiro em falência (Por Thiago Muniz)

O Rio de Janeiro vive uma crise política, financeira e moral na segurança, na saúde e na administração do dinheiro público. A administração do PMDB deixou o Estado envergonhado e falido.
O ano é 2010. O Brasil é a bola da vez no mundo. Em meio a uma crise que assola os países mais desenvolvidos do planeta, ocupamos a capa da revista “The Economist”, uma das mais importantes publicações já criadas, com a imagem de um cristo redentor decolando.

O Brasil vivia uma festa. O país iria sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas e apenas alguns meses depois descobriria seu maior crescimento econômico em 35 anos. Do outro lado do Atlântico, na Europa, o cenário era o exato oposto. 

Apenas seis anos após sediar uma olimpíada, a Grécia era o centro de um continente em crise, o símbolo de um modelo que deu errado. Passado o mesmo tempo, já em 2016, prestes a sediar as Olimpíadas, a cena se repete – o Rio de Janeiro acaba de declarar falência. Muito mais do que coincidência, a história é, no fundo, uma grande lição.

Do Caburaí ao Chuí, os governos estaduais estão quebrados (dez deles já parcelam salários). Todos, sem exceção, gastam mais do que o recomendado com pagamento de funcionalismo público. Em três deles, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, já se gasta mais com aposentadorias e pensões do que com educação e saúde. Para onde quer que se olhe, o cenário é quase sempre o mesmo.

Para muitos estados, como o Rio Grande do Sul, por exemplo, que convive há mais de quatro décadas com déficit nas contas públicas, a situação pode ser considerada dentro dos padrões normais, ou ao menos dentro do esperado. Em outros casos, como o do Rio, no entanto, a situação ainda parece difícil de acreditar. Trata-se do mesmo Rio de Janeiro que há 10 anos esperava crescer o dobro da média nacional e atingir até 20% de participação no PIB brasileiro em 2016. 

O motivo pra euforia? A descoberta da camada pré-sal lá em 2007. O otimismo não rolou à toa. Apenas entre 2014 e 2016 o estado recebeu nada menos do que R$ 235 bilhões em investimentos, boa parte deste valor destinado à indústria do petróleo e à infraestrutura necessária para sediar os jogos olímpicos.

No papel, o Rio estava bombando. Como em uma das famosas apresentações de Eike Batista, seu ilustre morador, tudo parecia ajustado e pronto para explodir. Na prática, porém, as coisas desandaram tão rápido quanto pareciam crescer.

Poucos meses antes de sediar as Olimpíadas para as quais vem se preparando há quase uma década, o Rio declarou “estado de calamidade pública”. A medida emergencial significa que na prática o governo estadual terá acesso mais rápido à liberação de recursos por parte do governo federal (estimados em R$ 3 bilhões), permitindo pagar salários e horas extras, além de continuar investindo nas obras fundamentais para a realização dos jogos olímpicos.

Com um déficit estimado para este ano em R$ 19 bilhões, ou quase metade do total arrecadado em 2015, o governo do estado não chegou até esse patamar sem nenhum motivo. Disfarçado por muito otimismo, algumas partidas marcantes de Copa do Mundo e uma enxurrada de investimentos por parte de estatais como a Petrobras, há alguns fatores que levaram o estado à situação atual. 

Entender estes motivos significa na prática se adiantar em alguns meses, ou na melhor das hipóteses, poucos anos, aquilo que tem boas chances de ocorrer ao governo federal. Abaixo, oferecemos um manual completo de como não evitar estes problemas.

Falar que há problemas na previdência brasileira pode parecer chover no molhado. Há anos a reforma no setor vem sendo debatida e discutida. Evitar um déficit que pode alcançar a casa dos trilhões é provavelmente uma das mais urgentes medidas que qualquer governo poderia tomar. 

Apenas para este ano, por exemplo, o governo federal estima que o déficit dos 28 milhões de beneficiários do INSS deve atingir R$ 146 bilhões, valor próximo daquilo que deve ser alcançado pelos 1,2 milhão de aposentados e pensionistas do serviço público. Dizendo de outra forma, nada menos do que R$ 700 bilhões serão gastos em 2016 para pagar benefícios sociais (mais do que a arrecadação de todos os estados brasileiros).

Escondida em meio a esse debate nacional, a previdência dos estados chega a apresentar dados ainda mais assustadores. Para este ano, o déficit programado deve atingir R$ 51 bilhões. E quase 25% deste valor deve-se a um único estado: o Rio de Janeiro.

Em todo o país, apenas dois estados possuem mais aposentados do que trabalhadores na ativa: o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. Em outras palavras, para cada médico, policial ou professor que lhe presta um serviço público, você precisa pagar por pelo menos dois.

Como nos demais estados brasileiros, o Rio de Janeiro se especializou em um sistema no qual cada funcionário na ativa paga uma contribuição sobre seu salário, que é destinada a cobrir o salário daqueles que estão aposentados. A diminuição do número de funcionários na ativa em relação aos inativos tem se agravado nos últimos anos – e com ela a necessidade de aportes do Tesouro.

Ao contrário dos demais estados, porém, o Rio criou uma fonte específica e complementar de financiamento da sua previdência estadual: os royalties do petróleo. Em 2014, nada menos do que 55% dos pagamentos de aposentadorias e pensões tinham como origem os royalties aos quais o estado tinha direito. 

Cerca de 95% de todos dos royalties do estado se destinavam a cobrir gastos com previdência. Com a queda no preço do barril de petróleo, no entanto, a situação tornou-se insustentável. Royalties hoje bancam apenas 28% dos gastos com previdência. Cabe ao governo do estado complementar. Em 2015, isso significou aportar R$ 7 bilhões na “RioPrevidência”.

Entre 2007 e 2015, os gastos com previdência no Estado saltaram de R$ 5,7 bilhões para R$ 17 bilhões. Graças à receita abundante dos royalties, em especial quando o petróleo atingiu US$ 145 por barril, o estado pode reajustar pensões, elevando o gasto médio de R$ 900 para R$ 4 mil no período. 

Atualmente, cerca de 66 em cada 100 funcionários na ativa possuem a chamada “aposentadoria especial”, podendo se aposentar mais cedo do que as demais categorias (em especial, bombeiros, policiais e professores), o que contribui significativamente para elevar o déficit da previdência. O socorro ao fundo de previdência fez os gastos do governo estadual com aposentados e pensionistas saltar nada menos do que 118% apenas em 2015.

Juntos, os estados brasileiros possuem uma conta a ser paga de R$ 2,4 trilhões na previdência. Ao contrário do Rio, no entanto, a maioria deles não pode contar com a sorte de ter as maiores reservas de petróleo no país. Sozinhos, os gastos com previdência no Rio atingem mais do que aquilo que é gasto em saúde (R$ 3,96 bilhões), educação (R$ 4,04 bilhões) e segurança (R$ 5,18 bilhões), somados.

Pouco mais de um século e meio como capital do país fizeram do Rio um estado onde se respira funcionalismo público. Nem mesmo cinco décadas de mudança da capital para Brasília foram capazes de apagar isso. Ainda hoje, inúmeras empresas estatais, bancos públicos e repartições das mais variadas possuem o Rio de Janeiro como sede.

Não por acaso, há mais funcionários públicos federais no Rio de Janeiro hoje do que em Brasília. São cerca de 258,5 mil contra 178,5 mil funcionários públicos na atual capital federal. Em termos de salários, o Rio é destino de R$ 22 bilhões anuais contra R$ 10,3 bilhões de Brasília (incluindo aí apenas funcionários do Executivo).

Cerca de 1 em cada 5 trabalhadores no estado tem como empregador o setor público. São 18,64%, acima da média nacional. Como a Lei de Responsabilidade Fiscal não obriga os estados a contabilizarem gastos com previdência como sendo “gastos com pessoal”, a situação do estado passou anos como sendo aparentemente uma das mais positivas do país.

Toda maquiagem contábil, porém, não impediu que o Rio fosse o segundo estado do país a começar a parcelar salários. Mesmo sendo em teoria o estado que menos gasta com pessoal em todo o país (apesar de ser um dos que mais emprega), o Rio está oficialmente “incapacitado de pagar o funcionalismo”, nas palavras do próprio governador em exercício.

Justamente por não ferir o que manda a LRF (gastar no máximo 44% da sua receita corrente líquido com funcionalismo), o Rio se viu livre para elevar salários e amenizar o fato de que seus policiais e professores se encontram entre os cinco mais mal pagos do país.

Quando somado ao aporte que o Estado teve de fazer para pagar aposentados e pensionistas, a folha de pessoal teve custos de R$ 24,5 bilhões em 2015, sendo R$ 10,84 bilhões com inativos. A receita do estado, porém, teve queda, atingindo R$ 39 bilhões. Quando incluídos aí todo os gastos com funcionalismo inativo, o Rio de Janeiro gastou R$ 31,6 bilhões no ano, um crescimento de 146% desde 2009. No mesmo período a inflação medida pelo IPCA atingiu 57,29%.

O valor, quase oito vezes o déficit que o governo estadual deve atingir em 2016, representa aquilo que, de boa vontade, os governadores do estado abriram mão de arrecadar em ICMS entre 2008 e 2013.

Para atrair empresas da área de petróleo, infraestrutura, siderurgia e bebidas, o governo do estado não se fez de rogado – botou a mão no bolso dos pagadores de impostos e distribuiu as benesses. Ao mesmo tempo em que elevava a distribuição de isenções fiscais, o governo fluminense aumentava também a sua já preocupante dívida. Ao final de 2013, o Rio devia R$ 107 bilhões, quase o dobro dos R$ 59,2 bilhões devidos em 2008.

A escolha de quem receberia os benefícios ficou a cargo do governo estadual. No meio de tantos bilhões, casos como a indústria de jóias, que recebeu isenções de R$ 230 milhões, chamam a atenção. Enquanto obrigava toda a população a bancar uma máquina pública cada vez mais pesada, o governo concedeu benefícios a uma indústria cuja base de consumidores é essencialmente a camada mais rica dos moradores do estado.

Dentro deste valor, há ainda casos mais curiosos, como o da montadora Nissan, que recebeu R$ 353 milhões em isenções, além de ter tido sua fábrica no estado financiada pelo próprio governo, ao custo de R$ 5,9 bilhões, com carência e prazo para pagamento em 30 anos.

Outros R$ 760 milhões via crédito de ICMS foram destinados a financiar a expansão da AMBEV em Piraí, onde o governador Pezão foi prefeito por dois mandatos. Menos de um ano antes, a empresa havia recebido R$ 850 milhões para financiar uma de suas sedes. A montadora alemã Volkswagen foi outra das beneficiadas, recebendo R$ 2,1 bilhões para se instalar no estado.

Para o governo, a prática estimula a geração de empregos. No acordo com a AMBEV, por exemplo, foram criadas 73 vagas de empregos. Somando os dois contratos, a empresa recebeu nada menos do que R$ 7 milhões por emprego gerado.

Reformado para os jogos Panamericanos, para a Copa do Mundo e agora para as Olimpíadas, o Maracanã já demandou sozinho R$ 1,2 bilhão do governo do Estado – quase 5 vezes o valor investido em sua construção na década de 40 (com valores são atualizados). 

Hoje sob concessão da empreiteira Odebrecht, o estádio é apenas um dos exemplos da festa que foi o Rio de Janeiro na última década. A expectativa das Olimpíadas, a final da Copa do Mundo e tudo que gira ao redor disso, fizeram o estado entrar em uma onda de gastos que pode chegar a R$ 39,1 bilhões, ou mais de duas vezes o valor estimado para o déficit deste ano.

O decreto emitido pelo governo em exercício é parte do plano para impedir que os serviços públicos no estado entrem em colapso antes das olimpíadas. Quase R$ 3 bilhões devem ser liberados. Após a festa, a conta ainda deve perdurar por algumas décadas.

Apenas a dívida do governo do estado com a União atinge mais de R$ 75 bilhões, ao custo de R$ 6,5 bilhões por ano – ou mais do que o valor gasto com a segurança no estado. O serviço total da dívida, no entanto, atinge R$ 10 bilhões este ano, mais do que os valores de saúde e educação somados. Como resultado, o estado investe menos da metade do que a lei determina em saúde.

O resultado da farra de gastos, porém, não deve se limitar ao próprio estado. Impedido por lei de dar calote na União (caso deixe de repassar a parcela da dívida, a União pode legalmente bloquear as contas do estado e impedir repasses), o governo do estado já aplicou calotes em outras dívidas. 

A Agência Francesa de Fomento, por exemplo, deixou de receber o que lhe era devido pelo estado ainda em junho deste ano. Para compensar, a União teve de arcar com o prejuízo. Cerca de 90% da divida já foi paga. Pagamentos futuros ainda são incertos.

O calote é parte de uma tragédia anunciada. Em maio deste ano, a agência Fitch já havia rebaixado a nota de crédito do Rio para BB-, ou “mau pagador”.

De fato, a situação do Rio de Janeiro não é alheia aos demais estados e muito menos ao próprio país. Ao longo das últimas duas décadas, governos estaduais têm se convertido a cada dia que passa em pagadores de salários, relegando investimentos. Enquanto o investimento público total no país saltou de 0,8% para 1,1% nos últimos 20 anos, os gastos públicos totais saíram de 25% para 36% – e ao que tudo indica, não deve haver nenhuma reversão deste cenário em um futuro próximo.

Para qualquer turista, o samba, o futebol, as praias, a caipirinha, o Corcovado e o Cristo Redentor são a cara do Brasil. Um olhar mais atento, porém, identificaria que a verdadeira coincidência entre o Brasil e o Rio nesse momento são os seus problemas econômicos. Evitá-los é o grande desafio das próximas décadas a qualquer liderança política que se preze.

Com uma carga tributária tão alta no país, as aposentadorias não deviam ser pretexto de ser a causa dos problemas estaduais, mas, sim a má gestão, como essa farra de incentivos fiscais á empresas ricas que não geraram tantos empregos assim, e nosso país bancar uma copa do mundo sem arrecadar nada de impostos da Fifa, e agora bancando uma olimpíada sem poder.É fácil jogar a culpa nos funcionários públicos, melhor seria buscar as verdadeiras razões para o país estar de joelhos, simplesmente por péssimas administrações á nível estadual e federal, é bem simples.

Nós pagamos em média 50% do valor de qualquer produto adquirido, da pasta de dente ao carro importado, e vão querer me convencer que o país não tem dinheiro?

Está aí o Rio de Janeiro, um dos estados mais ricos, na merda pura. Aprendam a votar, libertem-se da oligarquia do PMDB daí e parem de pedir socorro ao Brasil, que tem muito a aprender, muito a aprender o que não fazer, pois Rio-SP é uma cartilha de como não ser.













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Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



sexta-feira, 17 de junho de 2016

O dono do helicóptero com cocaína, agora no Ministério (Por Thiago Muniz)

É cocada boa, ou não é
É cocada boa
É cocada boa, ou não é
É cocada boa

O delegado da área, já mandou averiguar
O que é que tem nessa cocada
Que tá todo mundo querendo provar
Houve uma diligência só para experimentar
Eles provaram da cocada e disseram doutor deixa isso pra lá

(Bezerra da Silva)

O governo interino e golpista não cansa de surpreender. O dono do helicóptero apreendido pela Polícia Federal em 2013 com meia tonelada de pasta base de cocaína foi nomeado para comandar a Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério do Esporte. Gustavo Henrique Perrela Amaral Costa é filho do senador Zezé Perrela (PTB/MG), ex-presidente do Cruzeiro.

Interessante ver que no Brasil não há problemas em ter um helicóptero com meia tonelada de pasta base de cocaína apreendido e depois ser chamado para ser Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor!

Que carreira linda!

Essa não é a única nomeação que chama a atenção na pasta comandada por Leonardo Picciani (PMDB/RJ). Conhecido como Vandinho Pitbull, o filho do falecido cantor Wando é assessor especial do ministério. Ele já foi condenado na Justiça do Rio de Janeiro por porte ilegal de armas, de drogas e por dupla tentativa de homicídio.

Agora a justiça condena uma mãe por comprar remédios a base de canabidiol para o filho doente, afinal estamos em "guerra" contra as drogas. Dois pesos e duas medidas.

Eu tenha pena de quem bateu panela, e foram pedir impeachment '''contra a corrupção'', que bem sabemos que não era contra a corrupção e sim contra PT, mas vocês acharam mais bonitinho fazer esse discurso. Agora aguentem.

Para integrar o ministério do Temer.
Currículo : Nome na lista de propina das empreiteiras ou ficha criminosa.
Sem estes dados será reprovado!

Avante Brasil!














BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.