segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Novos Ventos na Argentina (Por Rapha Ramirez)

Con la democracia no sólo se vota: con la democracia, se come, se cura y se educa.

Essa frase de Raúl Alfonsín ex-presidente argentino mostra um pouco do que vive hoje a República Argentina: um período de democracia, onde a alternância de poder recoloca os portenhos no cenário internacional e retira da franquia Bolivariana tão badalada na última década na América Latina.

Mauricio Macri eleito presidente daquele país em 2015, já mostrou que sabe como ninguém que política é feita de símbolos: reatou relações com Estados Unidos e Inglaterra, revogou a lei que aniquilava os meios de comunicação, começou a vender a frota dos aviões presidenciais e a partir de agora só viajará em voos comerciais, atitudes tomadas por um político de direita que contrasta com os governos gastadores de esquerda tão badalados por essas bandas.

Macri na última semana esteve em Davos, e como a maior economia da AL, o Brasil, está em meio a uma crise econômica e política sem precedentes, circulou como novidade entre as nações mais ricas do mundo e anunciou que a Argentina volta a ortodoxia e que quer ter boas relações com as nações do mundo inteiro, menos a Venezuela que afirma não respeitar os diretos humanos.

Para o novo mandatário argentino seu exemplo de político é Mandela que reunificou a África do Sul, tarefa que também o espera na terra do tango, apesar dos problemas internos que certamente terá que resolver, 

Macri não tira os olhos da política internacional, para ele a guinada que começa a ser dada por aqui, se da em virtude que os “governos que não têm respostas às demandas dos cidadãos, enfraquecem”. Com relação a ideologia, acha que a definição entre esquerda e direita uma antiguidade que não condiz com os governos do século 21.

Apesar do discurso que busca a modernidade, escolheu como sua vice a ex-senadora conservadora Gabriela Michetti que se locomove através de cadeira de rodas e que tem opiniões polemicas com relação a vários temas e diz abertamente que para ela o casamento gay é a união civil e casamento do casal heterossexual é o matrimonio, considerando-os como duas instituições jurídicas distintas.

Mauricio Macri vai aos poucos vaii deixando uma marca na política argentina e latino-americana e entrando no hall de argentinos famosos como Peron, Evita, Che Guevara e Jorge Mario Bergolio o primeiro Papa latino americano.

O vento da mudança começou na Argentina e já se estende por outros países aqui do cone sul, aguardemos que esse El Ninho político chegue por aqui.










Rapha Ramirez tem 32 anos, é formado em Jornalismo pela Universidade Veiga de Almeida. Apaixonado por política, já está escrevendo o seu primeiro livro e em breve se lançará como Escritor. Caso queiram entrar em contato com ele, basta seguirem o seu perfil no Twitter em @rapharamirez.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O mundo virtual e os conceitos espectros políticos (Por Thiago Muniz)

Eu fui apresentado à ideia do nazismo como de esquerda não faz muito tempo.

Já postei sobre isto, mas não é este o foco da minha atenção agora. Achei que era o limite do surrealismo em História. Não! Vamos além.

Na imagem (desconheço a fonte) o anarquismo é classificado de extrema direita, porque é contra o Estado. Bakunin e Malatesta assim, passam a ser de extrema direita.

A partir da ideia de Estado forte vs Estado fraco , cria-se esta classificação política, no mínimo, original.

Nada se diz sobre posição em relação à propriedade privada, conceito de economia, objetivos e estratégias de luta política etc . Um dos clássicos do pensamento falacioso é pegar um item e torná-lo único, evitando matizes.

Em literatura, estudamos metonímia, mas em História ela é grave. Alguém já tinha, vagamente, visto a ideia do anarquismo como de extrema direita?

E mais: quem pensa assim, segundo a imagem, é "pessoa normal". Tive um ataque de Simão Bacamarte do Alienista de Machado: se os normais pensam assim, por favor, quero estar entre os anormais.

Ignora também o fato de que o Estado age em duas esferas distintas: economia e social. Logo um governo pode ser liberal na economia e autoritário socialmente, como foi no Governo de Pinochet. 

Tanto que há conservadores que defendem autoritarismo social como apoiar que o Estado proíba liberdades individuais como uso de drogas e casamento gay.

Creio que o equívoco do gráfico se difundiu pelas redes sociais graças a dois fatores :

(i) Alguns "pensadores" brasileiros, seguidores da escola Austríaca de Economia , passaram a se dedicar, exaustivamente, a propagar idéias de cunho liberal pelas redes , principalmente através de um site intitulado Instituto Mises Brasil (IMB). Obtiveram grande êxito;

(ii) Esses liberais não possuem qualquer responsabilidade intelectual com as informações que propagam. O foco deles é atrair a máxima quantidade possível de leigos para o Liberalismo "Austríaco" no menor tempo possível.

Esse é justamente o problema. Eu percebo que as pessoas estão "aprendendo" história por esses banners do Facebook e Instagram. É horrível ver gente, que considero Inteligente, caindo nesse erro. 

Olha a que ponto chegamos, resumi-se anos de documentação, registros e testemunhos em uma figura caricata e imprecisa. Livros e documentos históricos são convenientemente ignorados.

O Noam Chomsky, anarquista convicto, afirma em seus livros que é a favor de menos Estado, mas toda vez que esse discurso é invocado apenas como forma de suprimir direitos e privilegiar a propriedade privada e o lucro, ele se dá o direito de defender o Estado. 

O que ele realmente combate é a hipocrisia liberal, que diz que sem o capitalismo não existiriam iPhones, mas esconde que o computador, a internet e o GPS só existem por causa do investimento do Estado em pesquisa científica.

A divisão direita e esquerda é insuficiente, pois Nazismo e comunismo (independente de estarem na direita e esquerda respectivamente) são regimes totalitários, extremos que se tocam, ambos suprimem a liberdade do individuo, desrespeitam as instituições, censuram a imprensa, perseguem opositores, pregam um estado forte, associação do estado com corporações, coletivismo,

Mesmo estando em extremos no espetro político representam regimes totalitários, são a ``sociedade fechada``, o oposto do que prega Karl Popper em sua sociedade aberta, onde ha limitação do poder do Estado, democracia representativa, liberdade para crítica, alternância de poder, liberdade de comercio, governo limitado pela lei, respeito ao individuo, pluralística e com mecanismos políticos transparentes e flexíveis.

Direita e esquerda não tem nada haver com isso, e sim com a dialética de igualdade e liberdade, onde para direita a politica valoriza mais a liberdade e na esquerda valoriza mais a igualdade, no centro o que se busca é o equilíbrio de ambos. 

Extrema esquerda e direita tendem a se voltar contra seus princípios, o comunismo acaba criando uma força autoritária e desigual para manter a suposta igualdade, e o anarquismo/ultraliberalismo acaba permissionando que os mais poderosos assumam um influência grande demais que suprime a liberdade.

Ex: Cuba e Coreia do Norte, militares com poder e luxo desigual. EUA e uma grande gama de países, corporativismo exacerbado, corporações controlam o governo e até as leis.

A internet deu vazão a essas "novas teorias" políticas para o gosto do cliente. Aqui neste desenho vemos algo claramente contra o pensamento de esquerda, mas acredite que se fuçar bem aparecerá o mesmo tipo de desenho só que contra a direita, invertendo os símbolos de um lado para outros onde colocarão liberais (tanto sentido clássico como moderno) no lado da "escravidão".

Tomando as duas principais influencias do Estado na sociedade, a dimensao economica e a dimensao social, podemos observar que a maioria daqueles que hoje recebem a vaga pecha de direitistas, desejam primordialmente uma economia mais livre do estado enquanto que na dimensao social entendem que o Estado nao deveria se intrometer.

Por outro lado aquelas que se designam orgulhosamente de esquerda, não tem a menor noção de economia, mas entendem que a dimensão econômica deva ser definida em função da dimensão social. 

Na dimensão social entendem que o Estado deve sustentar a sociedade em tudo aquilo que chamam de conquistas (nada mais que aprovações de leis dando direitos sem contrapartida). Adicionalmente estes desejam dar a bunda, ato que compreendem como sendo de extrema liberdade social.

Mas não acho que seja ignorância pura e simples das pessoas. Acho que é má fé mesmo. Definir nazismo como esquerda e forçar bem a barra. Primeiro: se for pelo nome "partido socialista dos trabalhadores", então a ARENA brasileira, que era conservadora, seria renovadora por ter essa palavra na sigla, com muita propriedade. 

Alem isso, junto aos judeus, alemães socialistas e social democratas foram perseguidos e exterminados em campos de concentração sob o regime. Fora isso, não houve estatização de meios de produção durante o nazismo e foi justamente sob ele que marcas como Adidas, Volkswagen, Porsche e outras ganharam força e cresceram. 

Não estou usando juízo de valor e não estou afirmando o que era bom ou ruim, mas esse tipo de dado e uma desinformação que não se sustenta. Alias, o ódio contra socialistas e anarquistas já estava em Mein Kampf da forma mais explicita possível, a ponto dos nazistas usarem a esquerda como bode expiatório para o incêndio criminoso do parlamento alemão. 

Ninguém e obrigado a ser maniqueísta e achar que esquerda seja coisa que preste, mas bora procurar fontes históricas e parar de postar bobagens como essa sem fonte que as sustentem.


Esse é um pensamento bem focado na divisão politica dos EUA e que tem cada vez mais se embrenhado nas discussões politicas da gente, um binarismo estupido de doer. Infelizmente, grande parte de nossos jovens estao sendo criados com essas "informações".

A esquerda dos EUA é a direita libertária, e a direita é a direita autoritária. O "resto" são ditaduras, ou aquela parte ali colocada como escravidão. Eles ignoram completamente as noções de que esquerda e direita se relacionam mais à economia (estatal ou liberal) e que conceitos como libertarianismo e autoritarismo podem e são aplicados nos dois modelos econômicos. Essa ignorância está afetando os debates que nossos jovenzinhos tem feito aqui no Brasil e me preocupa bastante esse fato.


BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A corrupção do PSDB não pode ser abafada (Por Thiago Muniz)

É uma exigência democrática - e não só jurídica - que os US$100 milhões de propina não sejam abafados pelo condomínio policial-jurídico-midiático.

Um fato de alta significação política e judicial foi guardado em segredo pelo Ministério Público Federal.

Nestor Cerveró, um dos ex-diretores corruptos da Petrobrás, em depoimento prestado ao MP em outubro de 2015, revelou que o governo FHC recebeu 100 milhões de dólares de propina por negócios feitos na Argentina em 2002.

É perturbador lembrar que este mesmo depoimento do Cerveró, quando vazou naquela época, selecionou a parte que incriminava o governo Dilma, mas ocultou a revelação do esquema de corrupção implantado na Petrobrás pelo governo do PSDB. Isto deixa clara a partidarização e a seletividade do vazamento.

Esta nova denúncia de propina no período dos governos tucanos foi desvendada de maneira acidental. A descoberta só foi possível porque cópia do depoimento de Cerveró ao MP, que teoricamente seria protegido por segredo de justiça, foi encontrada junto com os documentos apreendidos no escritório do senador Delcídio Amaral. É difícil saber se, não fosse esta circunstância acidental, algum dia o assunto viria à tona.

Como Delcídio conseguiu obter o depoimento de Cerveró é uma incógnita, e merece rigorosa apuração. E por que o senador, que foi diretor da Petrobrás nomeado por FHC no governo tucano, não denunciou as propinas pagas ao governo tucano, está longe de ser um mistério.

Ocultar um crime pode ser considerada uma ação tão grave quanto o crime cometido. É difícil acreditar que autoridades que dizem conduzir as investigações da Lava Jato com diligência e preciosismo processual, tenham prevaricado. O MP, a PF e os juízes coordenados por Sérgio Moro certamente dissiparão qualquer dúvida de que não agem com parcialidade e seletividade para incriminar os governos do PT.

É uma exigência democrática – e não só jurídica – que este crime não seja abafado pelo condomínio policial-jurídico-midiático de oposição, como foram abafadas todas as denúncias anteriores que revelaram a origem da corrupção na Petrobrás nos governos do FHC e do PSDB.

Faria bem à democracia brasileira se nossa sociedade recebesse sinais claros das “autoridades justiceiras” que coordenam a Lava Jato – os procuradores do MP, os policiais da PF e os juízes do Judiciário – de que serão instalados inquéritos para apurar toda a corrupção do país, e não só a parte que convém politicamente apurar – justamente aquela que ataca adversários ideológicos.

Quando a Ordem Jurídica de um país é quebrada pelo casuísmo processual unicamente para perseguir inimigos, a República é derrotada, e então cede lugar a um “Regime”. Na Alemanha dos anos 1920 e 1930, o nacional-socialismo magnetizou a sociedade alemã com o Regime defensor dos ideais da raça pura, intolerante, odiosa, de olhos azuis, domiciliada em Higienópolis e adestrada na USP.

O Brasil, afinal, chegou ao século 21. Seria penoso regressarmos àqueles tempos arcaicos em que existia um Engavetador-Geral da República obediente ao Príncipe e sua corja; em que a Polícia Federal era desmantelada e adestrada para não investigar. Naqueles tempos, enfim, em que a Suprema Corte tinha a representação de um líder do governo do Príncipe.

Lembrando que a corrupção não tem partido e nem mínimo necessário, começa com: caráter flexíveis, furar fila, estacionar em lugar de idoso/deficiente, ganhar dinheiro às custas de outros, achados que não são devolvidos, vender pessoas ou negócios conforme julgue necessário.

"Ficar calado agrada engenheiros sociais e ajuda a manter um fornecimento constante de zumbis, pessoas sem princípios e opinião própria".

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Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Brasil: a terra dos Aspones (Por Thiago Muniz)

Aspone refere-se àquele tipo de pessoa que faz parte do quadro de funcionários de uma empresa ou repartição pública, mas na verdade não tem função alguma.

É um ASsessor de POrra NEnhuma. Um puxa saco. Um dedo duro. Um babão.

Sua origem:

O escritor Ruy Castro afirma que o termo foi criado pelo colega de Walter Clark (1936-1997) na Rede Globo, Ronald de Chevalier (1936-1983) - conhecido por Roniquito. Quando a emissora passou a fazer sucesso e a não mais depender da ajuda de ambos, teria sido dito que Roniquito tinha por única utilidade beber uísque com Clark, e que ao ser perguntado sobre o que fazia na Rede Globo, teria dito: Sou aspone. As-po-ne. Assessor de ***** nenhuma.

Tanto os gabinetes de governadores, ou vices! ou de outros cargos políticos estão cheio de aspones, assessores de porra nenhuma...e o que é pior,todos os novos que assumem diz que vão acabar, ou diminuir drasticamente este "cargo",e também não fazem porra nenhuma, e acabam por empregar seus novos cabos eleitorais (que não têm votos! por acaso,não sabem seus chefes?)...e o círculo vicioso permanece, nestas funestas sinecuras com o dinheiro público...que devia ser empregado em coisas úteis à comunidade, e não em alimentar frequentadores de barezinhos da moda da esquerda festiva ou da direita furibunda.

O carimbo é o amigo inseparável do ASPONE. Não há visão mais agradável para um chefe do que a de chegar à nossa sala e ver-nos a carimbar documentos desenfreadamente.

Nada de parar de carimbar enquanto o chefe nos dirige a palavra, meus amigos!!! Há que manter o ritmo! E aspone que é aspone “faz” tudo ao mesmo tempo. (Peço-vos desde já desculpa por ter recorrido ao verbo «fazer». Sei que é uma falha grave da minha parte mencionar algo que nos remete, involuntariamente, para a noção de devir, mas infelizmente não me ocorreu nenhum verbo aspónico aplicável à situação).

Enquanto o aspone carimba, impressiona o chefe com a sua desenvoltura e dinamismo e, assimila, simultaneamente, as directrizes superiores.

Assim o chefe volta para o seu gabinete satisfeito com o alto desempenho do seu funcionário e o aspone pode continuar com a sua tarefa carimbativa.

Mas carimbar o quê perguntam-me? Pergunta perfeitamente irrelevante. Não interessa o quê, desde que se carimbe...

O importante é carimbar ritmadamente transferindo a pilha de papeis do lado esquerdo gradualmente para o lado direito. Carimba-se ofícios, comunicações internas, faxes, papel reciclado, o post-it com o recado para não nos esquecermos de comer a maçã às 11h30, o jornal na secção das palavras cruzadas (afinal há que exercitar a mente), o recorte da revista com o resumo dos próximos capítulos da novela das 8h, o talão de levantamento do multibanco ... enfim, qualquer papel que nos passe pela secretária. Got the picture? Perfeito.

Então agarrem no telefone e mandem vir uma remessa de carimbos aspónicos.

Eu vou buscar mais papel porque a minha pilha está a acabar.

Você pode não acreditar, mas o aspone (assessor de porcaria nenhuma) é um cara que apita bastante dentro de uma empresa. O aspone não se importa de ser um poodle toy de seu chefe. E na aplicação da lei do mínimo esforço, ele se sai muito bem, obrigado. Só não chega aos mais altos cargos, porque sua natureza canina não permitiria tal coisa. Mas ao encarnar o papel de “supervisor” (de porcaria nenhuma, obviamente), o aspone torna-se um inferno na vida daqueles que colocam a mão na massa. Ao passar seu “relatório” à chefia, numa requintada apresentação de Power Point, os homens da caneta já deixam anotados os nomes que entrarão no próximo “programa de demissão voluntária”.

Para acabar com essa praga no meio corporativo e permitir que os trabalhadores trabalhem mais e melhor (ou simplesmente trabalhem), proponho duas medidas muito simples: a primeira é que, se a empresa quer medir a eficiência de seus funcionários, que instale um software que faça o controle sem se deixar contaminar por antipatias pessoais. E a segunda medida (a ser implantada em caráter de urgência) é extinguir, sem exceções, o uso de Power Point dentro da empresa — e quem usá-lo clandestinamente, será demitido por justa causa.

A própria Rede Globo apresentou um seriado em 2004, intitulado Os Aspones.

A trama fala de uma repartição pública cujo nome é "Fundo Ministerial de Documentos Obrigatórios", ou FMDO. Mas o lugar teve suas verbas cortadas "há uns dois anos", segundo uma das personagens. E sem ter o que fazer, a repartição teria concentrado suas atividades em uma das principais diversões de desocupados. As letras da sigla transformaram-se, então, em "Falar Mal dos Outros". Na verdade, os alvos dessa atividades seriam cidadãos sem princípios.

É o caso do cara que vive seguindo ambulâncias para avançar no trânsito. Gente como ele é chamada ao FMDO para ser torturada com pedidos absurdos de documentos e exigências burocráticas. Nada que não nos aconteça, sem ter seguido qualquer ambulância.

A ira dos servidores públicos é justificável. "Aspone" quer dizer "assessor de porcaria nenhuma". É aquele sujeito que ganha bem para fazer muito pouco e, geralmente, o faz de maneira mal feita. A forma como são mostrados os servidores dá a impressão de que isso acontece em todas as repartições. Gente desocupada e incompetente cuidando dos negócios públicos. O problema é que a série se baseia em coisas reais.

Não é verdade que todas as repartições e órgãos públicos sejam desse jeito. No entanto, o programa se baseia em um pedaço da realidade muito visível. O fato é que os setores da administração pública mais abandonados são aqueles que atendem diretamente a população. É só ver a situação da rede pública de saúde, educação e previdência. Uma calamidade!

E qual é a origem dessa calamidade? É o fato de que o serviço público no Brasil passou do modelo patrimonialista ao gerencial sem nem mesmo passar pelo perfil burocrático. Explico. Grosso modo, os serviços públicos até a década de 60 eram entendidos como parte do patrimônio das elites. Sua função era servir a elas, inclusive como cabide de empregos.

Depois do golpe militar, a ditadura resolveu dar ao setor público maior eficiência e começou a implantar um modelo mais profissional, mais burocrático. Isto é, com procedimentos, regras, regulamentos que evitassem principalmente o uso político-partidário da máquina governamental. Na verdade, isso foi feito tanto para varrer os restos do uso populista da máquina governamental, como para capacitá-la a servir mais adequadamente ao grande capital nacional e estrangeiro. Uma típica modernização conservadora. Mas, essa burocratização nunca foi completa.

Ao contrário, o patrimonialismo continuou dominando, devido aos vários fatores econômicos e históricos, e à cultura política do País. Com a chegada ao poder dos liberais da Nova República e dos neoliberais da dinastia dos Fernandos, os esforços foram no sentido de adotar o gerencialismo. Uma escola de administração pública que entende que é preciso flexibilizar procedimentos, priorizar o resultado ao invés do processo, implantar programas de qualidade total, enxugar a máquina promovendo demissões, tratar o cidadão como cliente.

Em Nairóbi, Quénia, depois de um criterioso processo de recrutamento com entrevistas, testes e dinâmicas de grupo, uma grande empresa contratou um grupo de canibais para fazer parte da sua equipa.

"Agora fazem parte de uma grande equipa" - disse o Director de RH durante a cerimónia de boas vindas.

"Vocês vão desfrutar de todos os benefícios da empresa. Por exemplo, podem ir à cantina da empresa quando quiserem para comer alguma coisa.

Só peço que não comam os outros empregados, por favor!"

Quatro semanas mais tarde, o chefe chamou-os:
"Vocês estão a trabalhar bastante e eu estou satisfeito. Mas a mulher que serve o café desapareceu. 

Algum de vocês sabe o que pode ter acontecido?"

Todos os canibais negaram com a cabeça.

Depois do chefe ir embora, o líder canibal pergunta-lhes: "Quem foi o idiota que comeu a mulher que servia o café?" Um deles, timidamente, ergueu a mão.

O líder respondeu:

"Mas tu és mesmo uma besta! Nós estamos aqui, com esta tremenda oportunidade nas mãos. Já comemos 3 directores, 2 subdirectores, 5 assessores, 2 coordenadores, e uns 3 administradores, durante estas quatro semanas sem ninguém perceber nada. E poderíamos continuar ainda por um bom tempo. Mas não... Tu tinhas de estragar tudo e comer uma pessoa que faz falta!"


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Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.