quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O linchamento dos linchadores da sociedade (Por Thiago Muniz)

Contra linchadores, estimula-se o linchamento

Quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido torna ser opressor. Isso não é vontade de justiça e sim de vingança.

Uma parte significativa da imprensa e de páginas de facebook passam a divulgar, à exaustão, os nomes e as fotos dos suspeitos, que são identificados, presos e levados ao distrito policial sob a lente de inúmeras câmeras que mostram o rosto de “monstros”, desumanizados na sua essência, para o trepidar das tochas inquisidores continuarem a esquentar a indignação de um povo, que jamais terá seu desejo de vingança saciado, pois insaciável é.

Expor, incitar, desumanizar são ações típicas do linchamento, justamente a prática que vitimou o Índio Luis Ruas. O ciclo continua e o ditado com ferro fere, com ferro será ferido é adaptado para com linchamento fere, com linchamento será ferido.

Os reflexos dessa postura se não evoluírem para um linchamento físico e morte dos acusados, certamente já terão prejudicado o direito a um julgamento justo, ante a pressão pela condenação na forma mais rigorosa e lícita possível (ou não, quem se importa com isso?). O clamor e a ocasião são os combustíveis mais potentes para a sanha punitivista encontrar seu caminho de volta para o ciclo de linchamento.

Ou seja, se uma notícia não observa o direito a um julgamento justo, e portanto cega também em relação à Constituição, essa mesma notícia tem o condão somente de brutalizar cidadãos que podem ser inocentes, ou ainda que não sejam, merecem como qualquer pessoa o direito a um julgamento justo, imparcial e distante do clamor público.

A presunção de inocência e o devido processo legal, bem como demais garantias constitucionais como a preservação de seus nomes e imagens, além de sua própria integridade física e moral são completamente inobservados por meios de comunicação que deveriam ter responsabilidade ao noticiar um fato grave como o reportado até então.

Não se pode perder de vista que o suspeito é a parte mais vulnerável e frágil desta relação toda na medida em que ela será submetida a um processo penal que nada mais é que o próprio Estado investigando, acusando-o e por que não o condenando à prisão.

A rigor, o Estado de direito não comporta esses tipo de excesso. Aliás, como o próprio excesso pode significar essa atitude é digna de um verdadeiro Estado de exceção. Tudo em prol de um desejo coletivo de vingança.









BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor, do blog Eliane de Lacerda e do blog do Drummond. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A importância do Naming Right no esporte (Por Thiago Muniz)

Muito se fala no meio esportivo o termo “Naming Right”, mas poucos de fato conhecem o significado real e na prática deste.

“Naming Rights” é a prática da concessão de direitos de nome que empresas donas de algum estabelecimento de espetáculos culturais e/ou esportivos dá o nome para uma marca ou produto. Quando você compra os direitos de trocar o nome do evento, para o nome da empresa patrocinadora.

No Brasil, esta prática começou fora do esporte, com o Credicard Hall em São Paulo, criado em setembro de 1999. Já no esporte a primeira arena a adotar esta prática foi a Arena da Baixada em Curitiba, batizada em 2005 como Kyocera Arena.

No exterior, os “naming rights” estão consolidados. Quase todos os clubes das milionárias ligas profissionais dos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, têm suas ‘casas’ batizadas com o nome de alguma empresa ou produto, vide o American Bank Arena, Barclays Center, Verizon Wireless Arena, Mercedes-Benz Arena Berlin, Emirates Stadium entre outros.

Por ventura da reforma de atualização de diversos estádios brasileiros, criados para a Copa de 2014, aos poucos foram adotando a comercialização do “naming right” como prática de receita atraente.

O estádio do Bahia, a famosa Fonte Nova, depois de sua reinauguração, o Grupo Petrópolis, segundo maior do setor cervejeiro no país e maior companhia 100% brasileira de bebidas, firmou um contrato deste porte associando a marca Itaipava ao estádio, sendo batizado de Itaipava Arena Fonte Nova. A empresa fechou um acordo no valor de R$ 10 milhões por ano, durante 10 anos, e além do nome, o contrato concede as marcas da empresa o direito de comercializar produtos com exclusividade em todos os bares e restaurantes do estabelecimento.

Outro estádio com um contrato de “Naming Rights” firmado é a nova Arena do Palmeiras. A seguradora Allianz, a construtora WTorre (responsável pela construção do estádio), o Palmeiras e a AEG (responsável pelos futuros eventos do local), firmaram parceria para colocar o nome da seguradora no estádio. A própria Allianz já possui diversos acordos de “naming rights” pelo mundo, como a Allianz Arena em Munique.

Se o modelo é novo para clubes e investidores, também é para a mídia, que vive de anunciantes e costuma ignorar o nome desses parceiros por entender que está fazendo propaganda de graça. Pior: em algumas ocasiões, vê concorrência entre o nome da arena e o de algum anunciante oficial.

A Allianz usou toda a experiência que tem como detentora de ‘naming rights’ de outros cinco estádios ao redor do mundo para ajudar na hora de negociar valores, tempo de contrato e formas de exploração da arena do Palmeiras.

Outra barreira de mercado enfrentada por clubes e investidores é mudar algo que já está enraizado. Como o público vai passar a chamar estádios tradicionais como Beira-Rio, Morumbi, Maracanã e Mineirão (nestes dois últimos, estádios públicos e que envolvem outro tipo de negociação), por outros nomes? É um trabalho lento e gradativo, mas o futebol brasileiro está quebrando paradigmas. A tendência é que as restrições em relação às tevês caiam aos poucos.

Um exemplo bem-sucedido foi a da Nestlé na escolha de um de seus produtos para colocar o nome de um campeonato, o Nescau MegaRampa.

Apesar de não ser exatamente uma novidade, o “naming right” poderia ser bem mais explorado aqui no Brasil. A tendência, já aproveitada por marcas como Net, Bradesco, Itaú, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Citibank, deve conquistar mais adeptos nos próximos anos.

Para se ter a magnitude das cifras, o Real Madrid fechou o maior contrato de naming rigths de estádio da história do futebol. O nome do novo Santiago Bernabéu foi negociado com a companhia de investimentos International Petroleum Investment Company por 425 milhões de euros (cerca de R$ 1,334 bilhão) em 20 anos.

A nova arena deve se chamar Abu Dhabi Santiago Bernabeu, como referência à cidade sede da companhia. Outra opção da empresa é dar o nome de Cepsa Santiago Bernabeu, em referência à empresa de petróleo espanhola que faz parte da holding da IPIC.Com a reforma, o estádio terá teto retrátil, hotel e complexo comercial e de lazer. As obras devem custar entre € 400 milhões e € 500 milhões e irão ampliar a capacidade do estádio para 90 mil pessoas.

E aí, ainda tem dúvidas que um bom trabalho de “Naming Right” gera uma forte captação de receitas?

Muito trabalho pela frente.






























BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor, do blog Eliane de Lacerda e do blog do Drummond. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Renan e sua afronta ao STF (Por Thiago Muniz)

Renan Calheiros será eternizado na História da República por dois precedentes desastrosos que fragilizam a ordem institucional e a segurança jurídica.

Não satisfeito em articular um processo de impeachment em que a Presidente afastada não perde os direitos políticos (atropelando um item da Constituição sobre o qual não há espaço para interpretações), realizou a proeza de descumprir uma liminar do Supremo Tribunal Federal, algo inédito na história da frágil democracia brasileira.

Graças a Renan, a partir de hoje, a famosa frase "decisão judicial não se discute, cumpre-se!" fica, digamos, sub-judice. Pelo andar da carruagem, Renan poderá ser defenestrado da vida pública mais cedo do que gostaria, mas o estrago causado por seus gestos permanecerá por mais tempo do que o Brasil merece.

Eu sinceramente espero que o STF, reaja de maneira enérgica, de maneira a coibir tais atos! Estamos vivendo o apogeu da imoralidade. O que assusta nesse incidente é que ele não tem precedentes em tempos de "democracia" no Brasil. Mesa do Senado justificar por escrito não cumprimento de liminar do STF? Protegendo um de seus membros que vem a ser Presidente do Senado?

Não consigo entender como este cidadão consegue descumprir tal decisão judicial sem que seja sumariamente punido por isso. Continua lá, na sua mesma cadeira, no mesmo conforto do seu poder? Isso é devido à imunidade parlamentar, que impede o STJ de dar-lhe devidas algemas? Não entendo como o STJ não pode-se fazer respeitar.

Vão se engolir vivos. A vaidade e a guerra para permanecer no poder não tem limites. Os interesses da nação são sempre os últimos a considerar.

O Senado não respeita o STF, que não se respeita e faz tempo que o povo ninguém respeita.
Renan se considera uma espécie de Rainha Elizabeth II do Brasil. A cadeira da presidência no planalto seria por espécie de Primeiro Ministro. Alagoas é seu feudo onde faz o que quer com o objeto/gente o que ele bem desejar. E ele deseja muito, muito mesmo. Mas, por desejar tanto, quis expandir seu feudo e tomar todo o Brasil.

Ao manter o Renan Calheiros na presidência do Senado Federal, o STF deixou claro que o maior compromisso da maioria dos seus ministros é com os interesses da política, mesmo que seja necessário julgar de forma seletiva, passando por cima de suas próprias decisões e atribuições constitucionais. É lamentável, triste, desanimador.

Não podemos esquecer que o Renan Calheiros não é um principiante. 

Numa sessão do impeachment. Quando alguns senadores batiam boca. Ele alertou aos parlamentares que estavam passando “ao Brasil e ao mundo” a imagem de que o Senado é um “hospício”. Que a confrontação política na sessão de julgamento era uma “demonstração de que a burrice é infinita”. O Renan é da turma do Eduardo Cunha, homens inteligentes e articulados.

Não me surpreenderia vê-lo renunciar mais uma vez, para se livrar da cassação.

Uma insolência sem precedentes no mundo democrático. Mas vindo dos coronéis do poder, não dá para pensar em vergonha do futuro histórico.

O importante para eles é a fortuna amealhada com o sofrimento alheio. Essa nova classe governante nunca rompeu com o passado. Pelo contrário, beneficiou-se e conviveu a todo momento com aquilo que havia de pior na nossa tradição — o mandonismo, o clientelismo, a pilhagem do Estado e a deferência subserviente aos caciques regionais.








BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor, do blog Eliane de Lacerda e do blog do Drummond. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.