sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O Rio de Janeiro tomado pela violência (Por Thiago Muniz)

"Os verdadeiros traficantes estão no Congresso Nacional atuando para atrasar o avanço de leis e pautas que possam de fato interromper o fluxo financeiro que o tráfico de drogas gera! Os milhões de dólares de receita econômica que recebem sem pagar um centavo qualquer ao Estado. Lavando dinheiro em bancos, em igrejas, em todo tipo de instituição legal. Tendo seus aviões e helicópteros com pasta de cocaína presos diante do cinismo de uma sociedade que se recusa a debater de forma honesta a questão da regulamentação das drogas." (Tico Santa Cruz)

"O "caos" em questão não é a instauração de um governo ilegal e brutalizado saído dos porões das casernas. Ao que parece, "caos" seria a situação atual de corrupção generalizada. Só que alguém poderia explicar à população de qual delírio saiu a crença de que as Forças Armadas brasileiras têm alguma moral para prometer redenção moral do país?" (Vladimir Saflate)

O Rio de Janeiro está jogado as moscas. A violência toma conta da cidade; assaltos, latrocínios, arrastões, tiros, guerra de facções. O que mais precisa pra detectarmos que estamos numa guerra civil?

A preocupação da imprensa e governo é com o Leblon ou com o morador da Rocinha? Essa histeria busca a melhoria de vida do morador da favela ou é você que não vai poder ir no Rock in Rio?

Por isso que quando pega um morro próximo a Zona Sul, se alardeia todo esse processo que estamos vendo. Só ganha visibilidade quando chega perto dos mais ricos.

Quando é Zona Sul é o CAOS.
Quando é Subúrbio é uma DOCE ROTINA.

"Operação Inteligente", é avisar os bandidos cada passo da invasão policial com transmissão ao vivo no Globocop.

Essa guerra na Rocinha por exemplo está apenas descortinando quão hipócrita é boa parte de nossa sociedade. Vários mortos, alguns queimados vivos, moradores baleados, moradores tendo seus carros roubados, casas invadidas, tendo seus bens destruídos Mas... ninguém, absolutamente ninguém fala nada.

Onde estão os demagogos para fazerem grandes textos nas redes sociais? Os problemas são muito profundos para serem tratados de forma simplificada e com discursos rasos que são adotados por figuras midiáticas e populistas, com seus jargões que na prática não oferecem nenhuma real condição de estabelecer uma ordem social e econômica para a questão da violência.

Onde estão as manifestações, ônibus queimados, moradores desocupados pedindo justiça?

Onde está aquele advogado de porta de cadeia que só aparece se a vítima for morta por agentes do estado? Onde ele está, para ajudar as famílias dos mortos nessa guerra?

Onde estão os policiólogos, sociólogos, maconhólogos com suas teses cretinas e estapafúrdias, falando daquilo que não sabe e não conhece?

Agora vemos todos atônitos verem mais de 60 vagabundos armados de fuzis patrulhando as ruas da favela, um absurdo! Mas quando colocaram alguém lá que barrou essa putaria, armaram para ele é o tiraram de lá! Agora paguem o preço! E aguardem que vai ficar pior, em breve quando eles vierem para o asfalto! Quem sobreviver, verá!

Tem que acabar com essa entrada imoral e ilegal de fuzis, enquanto esse esquema imundo das forças policiais, forças armadas e política continuar o ciclo vicioso da violência e venda de drogas continuará, não mudará. Nossas fronteiras não estão sendo cuidadas, nosso litoral também não. Entram toneladas de armamento todos os dias com anuência desse mesmo Estado que falido, não consegue dar conta do básico.

A ameaça a soberania do país não vem mais de nações vizinhas e sim do tráfico e do crime organizado que impõem a população leis e decisões que não pertencem a Constituição do Brasil. O problema não é o Estado como Estado, e sim os grupos que tomam o poder desse Estado para usarem em benefício próprio. Lembrando, muitos deles a serviço das empresas privadas.

O tráfico na favela é a senzala armada, os bois de piranha dos verdadeiros nocivos da sociedade. O verdadeiro traficante não está na favela! Ali estão os soldados, os descartáveis, os que morrerão e serão trocados por outros, numa fila interminável.

Vários fatores são responsáveis por esse quadro no Brasil, a violência está completamente ligada com a desigualdade social, que por sua vez é mantida pela falta de investimentos públicos reais em educação, que por sua vez colocam jovens em situação de vulnerabilidade e falta de oportunidades para conseguir empregos, que por sua vez num país arruinado por uma crise política onde aqueles que deveriam estar trabalhando para nós, estão trabalhando para salvarem suas próprias peles!

O Rio de Janeiro está em guerra sim, mas sempre esteve... E infelizmente quem também acaba sofrendo sempre com essa guerra são os mais pobres, a periferia e a favela!













BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", dos sites Panorama TricolorEliane de Lacerdablog do Drummond e Mundial News FM. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




terça-feira, 19 de setembro de 2017

Cícero, meu primeiro amigo gay (Por Paulo-Roberto Andel)

Em alguns meses de 1975, meu pai ainda era um homem de algumas posses. Morávamos num prédio de quatro andares, sem elevador, na rua Santa Clara (posteriormente demolido para dar vez a um flat), em Copacabana. Até então, sempre tínhamos gente trabalhando em casa (desde criança, detestei a palavra "empregada", que me sugeria aparte social).

Um belo dia, minha mãe inovou e contratou o Cícero. De cara, já era diferente por ser homem numa atividade essencialmente ocupada por mulheres à época. E também por usar aquele chapéu de cozinheiro que eu acho um barato. E, finalmente, por ser homossexual assumido, o que causou verdadeiro horror nos nossos vizinhos.

Uma delas, Dona Mimi, uma senhora portuguesa branca, de bem, em nome de Deus, quis fazer um movimento para que nos mudássemos do prédio - era inaceitável para ela ver um "veado" nos corredores. Mas aí minha mãe, que era baixinha mas não era fácil, a viu num cochicho com outra vizinha e a enquadrou bonito. Nos corredores a palhaçada acabou. Quando eu saía com minha mãe para ir à escola, a idosa lusa e sua amiga ainda cochichavam, mas quase encolhidas. Hoje, sou capaz de supor qual era o teor da conversa baixa: "Essa mulher deixa um veado dentro de casa com uma criança".

Comi pratos sensacionais feitos pelo Cícero. Mais de 40 anos depois, sou capaz de lembrar do bife com arroz e fritas e da panqueca de carne. Foram muitos pratos. Ele sempre falava comigo, ria, me dava tchau, mas eu nunca entendia porque quando a minha mãe sempre insistia para que ele deixasse a cozinha para ficar perto de nós na sala, ele nunca vinha. Só falava comigo de longe, talvez a uns quatro metros de distância. Eu tinha que gritar para que ele escutasse.

Quando meu pai faliu, tivemos que mudar de apartamento, de bairro e de padrão. No dia da despedida, foi a única vez que vi Cícero de perto: ele deu um beijo e um abraço em minha mãe, agradeceu muito a ela, passou a mão na minha cabeça e foi embora. Ainda o vimos na rua, debochando alto das vizinhas fofoqueiras. Poucos dias depois, mudamos por alguns meses para um minúsculo apartamento em Vaz Lobo, para depois voltarmos a Copacabana, ficando dezesseis anos na Siqueira Campos, aí já sem ninguém trabalhando em casa.

Ainda pude viver mais trinta anos com meus pais, com todos os altos e baixos de uma família, mas fomos felizes. Contudo, nunca conversávamos sobre aquela época porque era dolorosa para todos nós: não queríamos ter mudado, passamos muita dificuldade financeira e quase fome, mas superamos tudo. Quando falávamos no Cícero, minha mãe ria e se divertia, tinha saudades dele. Mas só depois de muito tempo é que refleti.

Estávamos num momento de dificuldades. Ela era uma super hiper cozinheira e uma pessoa muito simples. Por que será que teria contratado um cozinheiro num momento em que estávamos tão apertados? E porque ele nunca chegava perto de mim, mesmo com ela insistindo para que viesse conversar conosco?

As respostas talvez não sejam exatas, mas levam à reflexão. Provavelmente minha mãe contratou Cícero porque ele estava com alguma dificuldade profissional, já que estávamos com pouquíssimo dinheiro - de alguma forma, ela o quis protegê-lo. E Cícero nunca chegou perto de mim porque tinha MEDO de ser visto em qualquer ato com uma criança, mesmo com a mãe perto: a ditadura militar-empresarial chegava a todos os lugares, quanto mais na minha casa (meu pai e meu tio foram presos no fim dos anos 1960 por "subversão"). E pior ainda que encontrasse um homossexual brincando com uma criança, não importando qual fosse o motivo.

Cícero é a primeira lembrança que tenho de um homossexual na vida - a segunda é de Serguei, que minha mãe adorava e que hoje tenho a honra de ser seu biógrafo, ao lado de Rodrigo Barros. Cícero sempre me tratou com todo o respeito, a ponto de se auto-mutilar socialmente. A ele devo excelentes pratos de comida deliciosa.

De lá para cá, foram muitos anos e muitos e muitos queridos amigos homossexuais, milhares de álbuns tocados por músicos homossexuais, livros fantásticos escritos por homossexuais. As artes, o cotidiano, o futebol - SiM! -, o trabalho, as faculdades, os bares, tudo. Ex-namoradas e ficantes. Amigas queridas e grandes admirações. Como poderia ousar discriminar o que faz parte da minha vida desde sempre?

Não vivi a orientação homossexual, mas jamais por preconceito e sim porque não é minha essência. Se fosse, creio que eu teria tido apoio de meus pais, teria que enfrentar inúmeros percalços mas, provavelmente, acabaria numa organização LGBT em luta pelos direitos e causas. Mas não preciso ser necessariamente homossexual para abraçar e me solidarizar com todos os homossexuais, amigos meus ou não, diante dessa idiotice agora rebatizada de "liminar da cura gay". Homossexualidade não foi, não é nem nunca será doença, exceto para aqueles que nem sempre são sexualmente seguros de si mesmos.

De alguma forma todos aqueles amigos homoafetivos são aqui representados pelo nome de Cícero, que foi o meu primeiro amigo gay quando eu nem sabia o que era sexo. Penso na dor daquele homem em 1975, temendo ser preso e desaparecido pelo simples fato de conversar com uma criança. Mas o pior é pensar que, 40 anos depois, parte do Brasil é ainda tão primitiva quanto naquele tempo.

Pela cura da ignorância já!


Paulo-Roberto Andel é escritor, cronista, editor do Panorama Tricolor. @pauloandel








terça-feira, 5 de setembro de 2017

Contra a privatização da UERJ (Por Thiago Muniz)

"Há muitas formas de destruir um país. Uma delas é acabando com a essência das universidades públicas com essa ladainha de privatização. O Brasil pede socorro." (Elika Takimoto)

Quando o povo vai deixar de ser gado!? Ninguém se revolta nesse país...aceitam tudo!

Ministério da Fazenda recomenda ao governo do Rio de Janeiro que privatize universidades públicas e demita servidores.

Não podemos deixar isso acontecer. Não vamos deixar que a educação, trabalhadores e aposentados sejam penalizados mais ainda por esta crise. Quem causou esta calamidade no Rio foi o governo do PMDB.

Sem dinheiro em caixa, por falta de repasses do governo fluminense, a UERJ resiste como pode. “A universidade está na UTI”, disse o reitor Ruy Garcia Marques.

Para quem ainda tinha dúvidas sobre o porquê do caos na Uerj, hoje veio a resposta oficial: o PMDB recomendou o fim de uma das maiores universidades do Brasil. Ou seja, para "recuperar" o Rio, o partido que destruiu o estado quer acabar de vez com um dos maiores patrimônios sociais e educacionais que temos – acabar para depois dar de bandeja a seus aliados, claro.

E não é só isso. Além de recomendar "o fim da oferta de ensino superior", o Ministério da Fazenda de Temer propôs:

💥 Extinção de empresas públicas, como a CEDAE;
💥 Demissão de servidores ativos;
💥 Contribuição previdenciária para inativos;
💥 Aumento contribuição previdenciária, além dos 14% já aprovados;
💥 Reforma do Regime Jurídico Único dos Servidores.

Onde vemos educação pública, Temer, Pezão e Meirelles veem migalhas pra alimentar bolsos amigos.
A gente não pode aguentar mais 1 ano desses caras governando e destruindo tudo o que nosso Estado conquistou ao longo dos anos. Somos referência na área de ensino, pesquisa em ciência e tecnologia.
Há 10 anos uma quadrilha se encastelou no Palácio Guanabara e hoje o resultado é esse.

A educação está precária e os professores que são pessoas importantíssimas para todo e qualquer cidadão, além do conviver com sala lotadas, sem nenhum tipo de suporte ainda tem que ficar sem salário. Mesmo na crise, UERJ ainda é uma das melhores do país. Porque querem acabar com ela e com o ensino público se este se prova a todo instante um dos melhores?

Confesso que não sei como conseguem continuar na luta política. Não sei! Acho desolador e desanimador demais todo esse cenário político carioca e nacional. Está difícil acreditar que nada deve ser impossível de mudar.

O Rio virou o laboratório do plano a futuro do poder econômico. Querem privatizar tudo e fazer negócios com o patrimônio público. Deixando ainda mais difícil a precária vida dos cariocas.

Vejo e escuto muita gente atribuir aos outros a obrigação de reclamar, lutar, ir para as ruas, disputar o espaço público, o vazio político. Não existe vitória sem a participação popular. É muito cômodo, esperar em casa que as coisas se resolvam por si só, passe de mágica. Parece que á população está sob efeito de hipnose ninguém reage, aceitam tudo na maior naturalidade. E é exatamente o que os ladrões querem: um povo sem ação.

Existe uma conta que nunca vai fechar, além do roubo, que é o pagamento da dívida e dos juros que consomem mais de 40% da riqueza produzida pelo país. Essa é a discussão central. A renda que o trabalhador produz vai para o sistema financeiro, o qual não produz nada e ainda tem as benesses desse sistema. Não há luz no fim do túnel, enquanto existir esses vermes que sugam a riqueza do país.

Quanta barbaridade! Acabam com centenas de vidas, com sonhos, com a juventude para enriquecerem vergonhosamente. O país todo está ameaçado com essa quadrilha que não para.

O dia que as pessoas entenderem que o diálogo de verdade só funciona quando ambos os lados tem o mesmo poder de barganha, o que NÃO é o nosso caso, definitivamente, talvez as coisas melhorem e avançamos para uma linguagem conhecida mundialmente: a truculência, vulgo porrada.

A Educação é lastimável e tem sido assim desde sempre. A hora é de unir forças. Historicamente quem muda as coisas são os estudantes. Mãos à obra. A UERJ é uma instituição de ensino,e não um palanque para esquerda ou direita.

O que está em jogo é sim, a diminuição do ensino público. Mas como diz um velho ditado: "povo burro não sabe votar".

#UerjResiste






















BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", dos sites Panorama TricolorEliane de Lacerdablog do Drummond e Mundial News FM. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.