sexta-feira, 24 de julho de 2015

Táxi x Uber (Por Thiago Muniz)

Acho que os taxistas deverão repensar qual papel de fato eles fazem na sociedade. Devem sair de suas zonas de conforto e pensarem que a população não é idiota e otária.

Não vou fazer lobby ao Uber, mas colocar corridas grátis até o valor de 50 reais no dia de hoje em contra ataque a paralisação dos taxistas numa via expressa do Rio de Janeiro foi uma tacada de mestre, faz com que mais adeptos surgem ao aplicativo e levantem alternativas para que as pessoas possam se locomover.

Lei da Oferta e da Procura existe em qualquer segmento de mercado, basta normas e regulamentação. Isso não quer dizer que o táxi irá morrer e nem o Uber vai preencher essa lacuna, mas cada um traçando estratégias para conquistar mais clientes. Esse é o lema.

Manifestação dos taxistas só vai levar a antipatia da população. Sinceramente, eu acho que os taxistas deram um tiro no pé com esta manifestação no Rio. Eu por exemplo, expliquei para quatro pessoas diferentes o motivo dela e elas ficaram conhecendo o Uber que nunca tinham ouvido falar.

Acho que o protesto deveria ser feito de uma forma que não atingisse o povo, tipo, não pagar a vistoria, por exemplo. Agora, quem não conhecia o Uber, ficou conhecendo. Uma covardia com esta classe tão trabalhadora que é o taxista, mas que a própria classe cava a própria cova através dos oportunistas.

E não me surpreendeu a atitude do secretário estadual de transportes, sr. Osório, que prometeu erradicar com os carros que prestam serviço através do Uber, isso é atitude normal de repressão do Estado.

Repreende, Pune pra depois um "possível" diálogo no futuro. Essa repressão também vale aos taxistas piratas ou aqueles oportunistas que dão o preço do trajeto antes de pegar o passageiro, isso é uma prática comum no carnaval e Réveillon.

A Uber não deve ser proibida, mas ou se enquadra em uma legislação que seja tão rigorosa em termos de fiscalização e tributos que os taxistas, ou facilitam a vida fiscal e tributária dos taxistas. Do jeito que está, é muito mais negócio ser da Uber, que ter um táxi.

A Uber não pode ser proibida, mas o taxista também não pode morrer de fome. Pois o mesmo está enquadrado em um regime oneroso e rigoroso.

Uma pergunta, qual é a organização sindical desses membros da Uber. Esse tipo de serviço é regulamentado frente ao ministério do trabalho.

Não se esqueçam que não é de hoje que o Paes está se chocando contra os taxistas. Pois o mesmo tem o interesse em controlar financeiramente esse serviço.

Eu não pego Uber. Tenho conhecidos taxistas e sei bem a luta que os mesmos tiveram para conseguir uma autonomia e um carro para trabalhar.

Acho que os taxistas não podem é continuar em suas zonas de conforto achando que são a "última bolacha do pacote". Eu já fui lesado por taxista, conheço inúmeras pessoas que foram lesadas por taxistas oportunistas mas nem por isso deixei de pegar o táxi porque eu confio no serviço, mas ainda existem os táxis piratas e os oportunistas de plantão que escolhem itinerários e os bandidos que dão o preço antes de pegar o passageiro.

O Uber não surgiu do "nada". Com certeza foi oriundo de uma pesquisa de satisfação e de mercado. E essa insatisfação com os taxistas é de âmbito global, não é restrito somente ao município do Rio de Janeiro.

Com a proibição do Uber pela cidade de São Paulo as redes sociais foram tomadas de assalto por gritos de desespero dos cidadãos que não entendem como podemos ter uma medida tão retrógrada, que não se pode ir contra a inovação, que a tecnologia sempre vence e por aí vai. Considero que a discussão não é tão simples e nem tão maniqueísta como a maioria está se propondo.

Mas não podemos esquecer de uma das visões de longo prazo do CEO do Uber é bem tecnológica: empregar carros robôs que se auto-dirigem. Ou seja, hoje ele utiliza os humanos apenas como um meio no médio prazo de manter uma cliente para seu futuro exército de carros-robôs.

Parece para mim um futuro digno do "uma bota na face humana" profetizado em "1984" de George Orwell: nosso deslocamento atrelado a um grande monopólio.

Não concordo que o Uber foi feito como uma maneira de ostentar. O Uber preenche um nicho de mercado que o Taxi infelizmente não preencheu. Mas porque não preencheu? Devido a má qualidade de seus serviços num todo. É óbvio que existe bons taxistas, estaria cometendo uma infâmia de afirmar que todo taxista é um merda, pelo contrário.

O que os taxistas não entenderam e não querem entender é que na prática o Uber não é um concorrente direto do Taxi. Os taxistas já fizeram isso com as Vans e historicamente há muita política envolvida nisso. Atentamos que tem muitos políticos donos de frotas de taxis.

Reitero que o intuito não é ostentação, e sim conforto e qualidade. Carros sedãs de luxo (e de preços caros aqui no Brasil) é pra preencherem uma demanda que tem poder aquisitivo para isso. Nichos de mercado são segmentos ou públicos cujas necessidades particulares são pouco exploradas ou inexistentes.

A estratégia de aproveitamento de nichos está justamente na identificação das bases de segmentação que, quando explorados, representam o diferencial ou vantagem competitiva à empresa (ou pessoa).

Sabemos que tem taxistas que se desdobram pra colocar dinheiro em casa e matarem um leão por dia pela sobrevivência. Mas é notório que num conjunto, a qualidade do serviço de táxi recaiu muito.

Não é uma palavra só minha, é de milhares de pessoas.

É aquilo que eu disse, é um serviço confiável, mas caiu no medíocre. Não entendas que estou falando do taxista X ou do Y, não é isso; mas a análise do conjunto da obra, o serviço num todo.

Pois bem;

É válido os taxistas saírem agredindo os motoristas e também os passageiros do Uber?

É válido os taxistas pararem uma via de acesso importante como o Aterro do Flamengo?

Eu substituiria Ostentação por Diferenciação. Como você mesmo citou, porque não ofereceria carros populares?

Porque aí que seria um concorrente direto dos taxistas, aí que os taxistas sofreriam mais ainda. Carro popular com serviço de qualidade e exclusivo a um preço digamos justo. O Uber preenche nicho e não uma demanda completa que as frotas de taxis conseguem preencher, está até com taxis demais na cidade.

Se você é professor e fecha uma avenida para reclamar do péssimo estado da educação na cidade, você apanha da PM. Se você é um taxista e reclama que um aplicativo está tratando as pessoas bem e roubando seus clientes você pode fechar a cidade inteira que a PM não faz nada.

É Taxistas...deixem de ser idiotas!

Marionetes dos grandes empresários e dos políticos mafiosos envolvidos no setor, só prejudicam a população fechando as vias de acesso, não se ganha na base do porrete, se ganha com bom atendimento e qualidade no serviço. Desta maneira só ganha antipatia da opinião pública.

Uma pergunta: Quem pagará a diária de vocês? Subsídio ou Abono?
























BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




segunda-feira, 20 de julho de 2015

Papa Francisco: o estadista sustentável (Por Thiago Muniz)

O reformador Bergoglio recupera a palavra de Cristo e o valor da Caridade, que se tornaram letra morta em largos momentos da história da Igreja.

Deve ser bem difícil administrar a mais antiga organização política em atividade do mundo, a mesma que patrocinou e apoiou todos os golpes sanguinários de direita no continente latino-americano e ao mesmo tempo, organizou e formou boa parte da resistência de esquerda a esses mesmos golpistas. É de desejar boa sorte, porque trata-se de uma entidade absolutamente assustadora e obscura.

Papa Francisco é hoje em dia o único, grande estadista de dimensões mundiais, reformador determinado, corajoso, inspirado. 

Óbvio nele o propósito de reparar os males provocados à Igreja Católica pelos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, dignos da politicagem e da devassidão das cortes papais da Renascença e responsáveis por uma conspícua evasão de fiéis. 

A par disso, entretanto, é ele quem se ergue contra o que define como a “ditadura sutil” imposta à humanidade pelo poder do dinheiro, para aprofundar vertiginosamente o abismo entre ricos e pobres.

Ao escolher seu nome no momento de tomar assento na cadeira de Pedro, o jesuíta Bergoglio deu um claro indício dos rumos desejados para sua ação, como se a cultura própria da ordem de Inácio de Loyola se aliasse ao despojamento cristão do Pobrezinho de Assis, para assinalar o retorno à palavra de Cristo, pregador do amor ao próximo como fonte da igualdade, ideia revolucionária illo tempore até o nosso presente.

Como escreveu Ronald A. Knox em seu Enthusiasm, a Chapter in the History of Religion, a crença de que “o primeiro período da Igreja foi uma idade do ouro” revelou-se bastante questionável. De fato a pretensão de manter intacta a lição de Cristo foi frequentemente geradora de desvios e equívocos, cismas e heresias. De certa forma, papa Francisco, como Paulo de Tarso, emite sua Epístola aos Coríntios (nada a ver com os torcedores corintianos), sobretudo na passagem que diz respeito à Caridade, a mais importante entre as virtudes teologais.

Corinto no século I era cidade do mais desbragado meretrício, mesmo entre os católicos a licenciosidade dominava, e o ex-soldado fulgurado por um raio divino a caminho de Damasco cuidava de colocar no bom caminho a sua grei. As questões que a Epístola de Paulo levanta são distantes das atuais, mas a Caridade é invocada com energia, e a virtude se coaduna à perfeição com a pregação de Cristo.

Paulo é figura controversa, como verdadeiro fundador de uma Igreja que ao longo dos séculos se afastou das ideias de quem a apoiou sobre uma pedra chamada Pedro, acabou por dividir com o Imperador do Sagrado Romano Império o poder do mundo, e assumiu até as feições de monarquia mundana depois da doação do Castelo de Sutri pelo rei longobardo Astolfo, no VIII século. Não foi por acaso que o papa coroou em Roma Carlos Magno imperador, e alguns dos seus sucessores, e humilhou outro, Henrique III.

O papa tornou-se dono de toda a Itália central, impediu a unificação do país e a criação de um Estado Nacional até a segunda metade do século XIX, e, sempre que se sentiu ameaçado, não hesitou em pedir socorro aos reis europeus e seus exércitos, de sorte a garantir a divisão da península. A palavra de Cristo foi letra morta, em benefício do mais duradouro poder temporal por direito divino em dois milênios.

Ao cuidar de sua grei, papa Francisco tem de redimir a Igreja dos seus pecados, e neste sentido há de se mover sua modernização, para o entendimento das dinâmicas desencadeadas pela melhor compreensão da natureza e da evolução humana ao sabor do conhecimento. E ainda, e sempre, pela tolerância, mais ainda, pela misericórdia, na medição dos limites do ser humano, de resto determinados pelo Criador, segundo quem acredita, e tão pouco respeitados por quem até ontem mandou urbi et orbi.

Com Francisco, ocorre o retorno à ideia da igualdade, contra o neoliberalismo em pleno vigor e contra a miséria que resulta dele, em proveito da felicidade terrena de banqueiros, especuladores e rentistas, diante da passividade, ou mesmo da resignação de quantos haveriam de se opor. A viagem papal pela América Latina confirma e fortalece a postura do estadista, bem como a contrariedade daqueles que, além dos expoentes da Cúria Vaticana finalmente tirados de cena, a linha papal constrange e ameaça.

Um colunista nativo clama contra “a monstruosidade herética” com que Evo Morales, “protoditador da Bolívia”, presenteou “o argentino Bergoglio”: um Cristo “que suja as mãos com o sangue de 150 milhões de crucificados”. Mal sabe o colunista que em algum canto do Vaticano está guardado outro emblema vermelho.

Regresso súbito ao Brasil em 1961. Jânio renuncia e seu vice, João Goulart, é tido em odor de comunismo pelos senhores da casa-grande e por seu porta-voz, a mídia nativa, sempre alerta. Daí, fortes resistências, manu militari, à sua posse no posto abandonado. Ao cabo, desenha-se o compromisso e Jango assume à sombra do Parlamentarismo, pelo qual hoje se bate o senador José Serra. Um ano depois, Jango, juntamente com esposa e filhos, Denize e João Vicente, visita João XXIII, de muitos pontos de vista política e espiritualmente aparentado com Francisco.

Uma caixa de madeira forrada de veludo e ricamente entalhada é o presente de Goulart ao papa Roncalli. João Vicente, incansável na evocação da figura paterna, ouviu de Darcy Ribeiro uma história, publicamente divulgada em um livro (Invenção e Descaminho, Editora Avenir, 1978). Autor da caixa, o marceneiro Manoel, o qual, tempo depois da visita de Jango ao Vaticano, procurou Darcy, então chefe do Gabinete Civil da Presidência, e confessou, não sem candura: “No fundo da caixa, entalhei a foice e o martelo”. Comentaria Darcy, ao recordar: “Naquele palácio, o único comunista era mesmo o seo Manoel”.

A encíclica ambientalista do papa Francisco era aguardada com muita expectativa por amigos e inimigos. A apresentação oficial, na quinta-feira 18, na sala do Sínodo no Vaticano, foi prejudicada pelo vazamento do conteúdo ao semanário italiano l’Espresso. No blog mantido pelo vaticanista da revista, uma versão aparentemente integral do documento foi publicada três dias antes. Com frontispício papal original, um texto de 191 páginas dividido em seis capítulos e 246 parágrafos, a encíclica intitulada Laudato si’, sobre o cuidado necessário com a casa comum, acabou divulgada para o mundo inteiro dessa maneira surpreendente e um tanto rocambolesca. Iniciativa simplesmente “incorreta”, como denunciou o serviço de imprensa da Cúria, ou maliciosa manobra inspirada pelos inimigos de Francisco?

Inevitavelmente, os órgãos oficiais do Vaticano manifestaram grande irritação e negaram se tratar do texto final, mas, poucas horas depois, ambientes próximos do papa deixaram vazar algumas palavras do pontífice imbuídas do objetivo de aliviar o clima. Com a costumeira ironia, Francisco teria comentado: “O rascunho é quase idêntico ao original... mas tanto faz: vocês sabem que eu gosto de bagunça”. De todo modo, a seráfica reação do papa não evitou que o incauto jornalista italiano, Sandro Magister, tivesse seu nome retirado sine die da lista de vaticanistas “com credibilidade”.

Conforme sublinhado durante a apresentação oficial, nunca houve uma espera tão intensa e prolongada por um documento particular da Igreja. Justificável. A Laudato si’ é uma obra que nasce para deixar uma marca fortíssima não só em âmbito religioso. Tamanha é a sua profundidade espiritual, amplitude cultural e contundência política que o debate sobre os rumos do planeta neste século não poderá prescindir dela, seja para apoiá-la, seja para combatê-la.

A encíclica (do latim encyclios, que significa circular, que abraça tudo) começa com a reprodução de um trecho de um texto de São Francisco de Assis, considerado o patrono dos ambientalistas: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”. A partir dessas palavras iniciais do Cântico das Criaturas, a primeira obra literária da língua italiana, o santo de Assis celebrava poética e espiritualmente a maravilha da Criação. Na sequência o papa lembra que o gênero humano compartilha uma casa comum, que, como mãe amorosa e bela, “nos acolhe em seus braços”.

A dimensão contemplativa e espiritual, própria dessa dedicatória, deixa logo espaço à inspiração pastoral dirigida ao bem e à justiça, com clara influência da Teologia da Libertação. Em nova referência a São Francisco, o papa lembra: “Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior”. Na linha do compromisso integral, a encíclica não se dirige só aos cristãos, pois todos moramos na “nossa casa comum”.

Francisco, o papa, recorda que sua peculiar sensibilidade ao meio ambiente não é uma novidade para a Igreja, mas é filha da atenção dedicada por vários antecessores à questão. Digna de menção é a homenagem ao patriarca ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu, a quem é implicitamente reconhecido um papel de precursor, por ter afirmado em 1997 que “um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus”.

Surpreende positivamente o estilo da encíclica, a primeira completamente inspirada e escrita pessoalmente por Francisco. Linguagem simples e fresca, que permite fácil compreensão de questões complexas e enfrenta com terminologias laicas os principais problemas contemporâneos.

O primeiro dos seis capítulos apresenta uma análise da atual crise ambiental, com a finalidade de assumir os melhores frutos da pesquisa científica e oferecer uma base concreta para o percurso ético e espiritual posteriormente traçado. A argumentação fundamental é de que a civilização moderna, ao distorcer a correta interpretação das Escrituras, tem exaltado a missão humana de dominação da natureza e esquecido a dimensão da custódia. Portanto, a primeira tarefa à qual Francisco se propõe é a de desmitificar essa visão, acabar com a confiança irracional nas capacidades humanas desmedidas e com a ilusão do progresso infinito, desmentido, aliás, pelas mais recentes descobertas da ciência.

Segundo o papa, falar de poluição e mudança climática, ou de perda da biodiversidade, significa não só focalizar os abusos cometidos contra a natureza, mas refletir sobre a cultura do descarte ou evidenciar que as primeiras vítimas desses fenômenos são os pobres. Ao mesmo tempo, escreve, o “acesso a água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas”. Nítida, por consequência, a oposição a todas as formas de privatização da água.

Uma breve síntese do documento permite ressaltar que a ideia de uma ecologia integral é o recado central de Francisco. Esse conceito é repetido inúmeras vezes no texto e dá nome ao quarto capítulo. “É fundamental”, anota Bergoglio, “procurar soluções integrais que levem em conta as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais.

Não existem duas crises separadas, a ambiental e a social, mas uma só e complexa crise socioambiental.” Degradação do meio ambiente e pobreza são os dois lados da mesma moeda.

A ecologia integral inclui os variados componentes da vida humana e considera a interconexão entre todos os fenômenos (“tudo é intimamente relacionado”). O passo para enfrentar os desafios cruciais da contemporaneidade é breve: “A política não deve se submeter à economia, e esta não deve se submeter aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje é imperioso que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente a serviço da vida humana. A salvação dos bancos a todo custo, fazendo a população pagar o preço, sem a firme decisão de rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois de longa, custosa e aparente cura”.

O texto também enfrenta com espírito radicalmente crítico questões como a crise do antropocentrismo moderno, a cultura do relativismo prático ou a necessidade de se defender o trabalho e de uma parte da humanidade aceitar o decrescimento, só para citar as questões mais delicadas.

Foi o suficiente, porém, para desencadear imediatas reações de hostilidade contra o papa. Desde a divulgação oficial da encíclica, cardeais conservadores norte-americanos espumam de raiva, enquanto mais abertamente o senador republicano de Oklahoma, James Inhofe, conhecido negacionista da existência e dos efeitos do aquecimento global, convida o papa a “se ocupar dos seus problemas”. Jeb Bush, o terceiro integrante da família a aspirar à Presidência da República nos Estados Unidos (o pai e o irmão conseguiram), comentou lapidarmente: “Não vou receber ordens do pontífice”.

Graças à involuntária ou cúmplice colaboração de quem adiantou a divulgação do texto, os inimigos da visão humanista de Francisco puderam se manifestar até antes da publicação da encíclica. Foram só as primeiras escaramuças da batalha. Esperam-se ataques furibundos no futuro próximo. Pela estirpe dos críticos, o papa acertou em cheio.


Ser discípulo de Cristo é renunciar a tudo o que se tem

Quando se resolve uma desavença, abre-se mão de alguns valores. Mas há valores que são irrenunciáveis.

Se alguém quer vir após mim, negue- se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. (Lc 9,23).

Quando uma pessoa vai conversar com outra para resolver alguma desavença, ela sempre leva consigo alguns valores, valores renunciáveis que deve haver de ambas as partes para que o acordo seja feito, e também aqueles valores dos quais não abre mão: os valores irrenunciáveis.

Acredito que não é segredo para ninguém que um valor grandioso que carrego comigo é a fé católica que professo. E não sou católico que desconhece o significado da palavra “católico”, que não conhece Jesus Cristo nem a Sua Igreja e tampouco o evangelho. Sou católico por convicção, ou, como bem dizia o meu ex-pároco, frei Inocêncio Pacchioni: “Não sou tão leigo assim”. Não sou perfeito; só Deus é perfeito. Carrego comigo, como todas as pessoas falhas, pecados que precisam constantemente ser corrigidos ao longo da vida. E tenho essa convicção porque fui chamado “pessoalmente” pelo Senhor. Desde que me aproximei d’Ele, inicialmente por caminhos tortuosos, mas que serviram para fazer de mim quem hoje sou, Ele não me abandonou e a minha convicção é tão grande que considero preferível ser ateu a professar uma fé que não seja a fé católica.

No trecho de Lucas acima citado, Jesus coloca duas condições para segui-lo: “negar a si mesmo” e “carregar a sua cruz”. A primeira tem relação com a segunda. O que seria negar a si mesmo senão deixar de lado os próprios instintos puramente carnais? E que cruz seria essa senão a de ter que negar a si mesmo, as próprias vontades e desejos? De fato, “minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou” (Jo 7,16). Por isso o verdadeiro discípulo de Cristo “não anuncia a si mesmo” (v.18), as suas convicções, os seus desejos e pensamentos, mas Aquele que o chamou e escolheu. Acontece, porém, que o sistema inteiro sob o qual vivemos é muito, muito afastado de Cristo. Pode não haver respostas, mas nós temos que fazer pelo menos as perguntas. A nossa inteligência, como católicos, não pode deixar de notar a violência satânica e cheia de segredos terríveis que é perpetrada pelo nosso governo!

A fé católica nos convida à pobreza, à castidade e à obediência. E o que eu descobri é que estes três estados de vida são incrivelmente empolgantes e desafiadores! Eles nos dão um tipo de liberdade e de “consciência de ser” que é completamente inexistente no meio da nossa cultura entorpecente. O fato é que quanto mais nos aproximamos de Cristo, e consequentemente da Igreja Católica, que é o Seu Corpo, mais nos assemelhamos a Ele no agir, no pensar e no falar, e, por isso, recebemos em nosso corpo as marcas (chagas) do corpo de Jesus (cf. Gl 6,17). O que são estas feridas senão a oposição do mundo? De fato, se alguém se diz cristão e não possui em si as chagas do crucificado, é mentiroso. Se alguém se diz católico e não sofre quando vê a Igreja de Cristo sofrer ataques de todas as formas e não sente em si mesmo esta dor, é mentiroso; pois se a Igreja é o Corpo do Senhor e nós somos membros deste Corpo, e, conforme o apóstolo Paulo, “se um membro sofre, todo o corpo sofre com ele” (cf. 1Cor 12,26), como posso eu, membro do corpo, não sentir as dores do corpo ainda que a ferida não esteja diretamente em mim?

É hora de os filhos de Deus se revelarem ao mundo e é pelos frutos que os conhecemos. A fé acompanhada de obras mostra quem é verdadeiramente discípulo de Cristo! E Cristo não aceita titubeios: ou se “está com Ele ou não está” (cf. Mt 12,30). Não há meio termo: “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Antes fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, eu te vomitarei” (Ap 3,15-16). É por isso que repito: se alguém não crê na mensagem de Jesus que nos é transmitida por meio da Sua Igreja Católica (cf. Lc 10,16), se alguém não está disposto a se tornar pequeno como uma criança (cf. Mt 18,3), a renunciar a tudo o que tem (cf. Lc 14,33), a negar a si mesmo, a carregar a sua cruz (cf. Lc 9,23) sem “olhar para trás” (cf. Lc 9,62), esse alguém não é digno do Senhor, não é digno do Seu Reino, não pertence à Sua Igreja e não possui a Deus por Pai. É neste sentido que aquilo que professamos com a boca deve corresponder ao nosso comportamento e também ao nosso pensamento. Examinemos, pois, as nossas verdadeiras intenções, os nossos pensamentos, e vejamos se correspondem ao nosso proceder.



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Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Barão de Mauá: um pioneiro a frente de uma nação arcaica (Por Thiago Muniz)

Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o Barão de Mauá, e mais tarde Visconde de Mauá foi um notável empresário, industrial, banqueiro, político e diplomata brasileiro. Foi um símbolo dos capitalistas empreendedores brasileiros do século XIX.

O Barão de Mauá nasceu em Arroio Grande, município de Jaguarão, Rio Grande do Sul. Órfão de pai viajou para o Rio de Janeiro, em companhia de um tio, capitão da marinha mercante e, aos 11 anos, empregou-se como balconista de uma loja de tecidos. Passando a trabalhar na firma importadora de Ricardo Carruthers (1830), este lhe ensinou inglês, contabilidade e a arte de comerciar.

Aos 23 anos tornou-se gerente e logo depois sócio da firma. A viagem que fez à Inglaterra em busca de recursos (1840), convenceu-o de que o Brasil deveria caminhar para a industrialização. Iniciando sozinho afrente do ousado empreendimento de construir os estaleiros da Companhia Ponta da Areia, fundou a indústria naval brasileira (1846), em Niterói, RJ, e, em um ano, já tinha a maior indústria do país, empregando mais de mil operários e produzindo navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, armas e tubos para encanamentos de água.

Ao longo de sua vida foi merecedor, por contribuição à industrialização do Brasil no período do Império (1822-1889), dos títulos nobiliárquicos primeiro de barão (1854) e depois de Visconde de Mauá (1874). Foi pioneiro em várias áreas da economia do Brasil. Dentre as suas maiores realizações encontra-se a implantação da primeira fundição de ferro e estaleiro no país, a construção da primeira ferrovia brasileira, a estrada de ferro Mauá, no atual estado do Rio de Janeiro, o início da exploração do rio Amazonas e afluentes, bem como o Guaíba e afluentes, no Rio Grande do Sul, com barcos a vapor, a instalação da iluminação pública a gás na cidade do Rio de Janeiro, a criação do primeiro Banco do Brasil, e a instalação do cabo submarino telegráfico entre a América do Sul e a Europa.

Primeiro como barão, título recebido após construir a primeira estrada de ferro da América do Sul, e vinte anos depois, Visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Sousa é o principal representante dos primórdios do capitalismo na América do Sul, ao incorporar e adotar, no Brasil, ainda no período do Império brasileiro (1822-1889), em suas empresas, os recursos e maquinários aplicados na Europa e nos Estados Unidos no período da Revolução Industrial do século XIX. É considerado, pelos registros históricos, como o primeiro grande industrial brasileiro. Foi um dos grandes opositores da escravatura e do tráfico de escravos, entendendo que somente a partir de um comércio livre e trabalhadores libertos e com rendimentos poderia o Brasil alcançar situação de prosperidade. Todavia, somente com a Lei Áurea, de 1888, foi abolida a escravatura no Brasil, assinada pela princesa regente Isabel.

Em 1837 adquire uma chácara no Morro de Santa Teresa. Chamava seus empregados de meus auxiliares. Criou antipatia de senhores de engenho e também da corte, por dar abrigo a escravos foragidos. Em 1840 vai buscar sua mãe, sua irmã, e sua sobrinha adolescente Maria Joaquina. As três se instalaram em sua chácara. Mauá vai para a Inglaterra e traz um anel de ouro. Presenteia a sobrinha, era o pedido de casamento. Casaram-se em 1841 e juntos tiveram 12 filhos. Dona Guilhermina, sua irmã e sogra, comandava a casa, agora uma mansão na rua do Catete.

Da Ponta da Areia saíram os navios e canhões para as lutas contra Oribe, Rosas e López. A partir de então, dividiu-se entre as atividades de industrial e banqueiro.O Barão de Mauá foi pioneiro no campo dos serviços públicos: fundou uma companhia de gás para a iluminação pública do Rio de Janeiro (1851),organizou as companhias de navegação a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas (1852), implantou a primeira estrada de ferro, da Raiz da Serra a cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro (1854), inaugurou o trecho inicial da União e Indústria, primeira rodovia pavimentada do país, entre Petrópolis e Juiz de Fora (1854), realizou o assentamento do cabo submarino (1874) e muitas outras iniciativas.Em sociedade com capitalistas ingleses e cafeicultores paulistas, participou da construção da Recife and São Francisco Railway Company, da ferrovia dom Pedro II (atual Central do Brasil) e da São Paulo Railway (hoje Santos-Jundiaí).Iniciou a construção do canal do mangue no Rio de Janeiro e foi o responsável pela instalação dos primeiros cabos telegráficos submarinos, ligando o Brasil à Europa.

Uma viagem de negócios que fez à Inglaterra, em busca de recursos (1840), permitiu a Irineu conhecer fábricas, fundições de ferro e o mundo dos empreendimentos capitalistas, convencendo-o de que o Brasil deveria trilhar o caminho da industrialização. A Inglaterra fora o cerne da Revolução Industrial, e o Brasil ainda era um país de produção rural. Ao retornar, diante da decretação da chamada tarifa Alves Branco (1844) e da alta dos preços do café no mercado internacional no período, decidiu tornar-se um industrial.

Tendo obtido junto ao governo imperial brasileiro a concessão do fornecimento de tubos de ferro para a canalização do rio Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro (1845), liquidou os interesses da Casa Carruthers e, no ano seguinte, adquiriu uma pequena fundição situada na Ponta da Areia, em Niterói, na então Província do Rio de Janeiro. Imprimindo-lhe nova dinâmica empresarial, transformou-a em um estaleiro de construções navais, dando início à indústria naval brasileira.

No ano seguinte, o Estabelecimento de Fundição e Companhia Estaleiro da Ponta da Areia já multiplicara por quatro o seu patrimônio inicial, tornando-se o maior empreendimento industrial do país, empregando mais de mil operários e produzindo navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, além de artilharia, postes para iluminação e canos de ferro para águas e gás. Deste complexo saíram mais de setenta e dois navios em onze anos, entre os quais as embarcações brasileiras utilizadas nas intervenções platinas e as embarcações para o tráfego no rio Amazonas. Em 1849 construiu o maior navio mercante até então construído no país, o Serpente, um navio negreiro rápido, encomendado por Manuel Pinto da Fonseca, que depois de realizar uma única viagem de tráfico de escravos à África, foi vendido à Marinha do Brasil e rebatizado Golfinho.

O estaleiro, na Ponta da Areia, Niterói, Rio de janeiro, foi destruído por um incêndio em 1857 e reconstruído três anos mais tarde. Nos seus onze primeiros anos, antes do incêndio, havia fabricado 72 navios, dentre os a vapor e à vela. Acabou-se de vez quando a lei de 1860 isentou de direitos a entrada de navios construídos fora do país. Isso conduziu a empresa à falência. Na época, o tráfico de escravos gerava muito dinheiro. Porém, Irineu utilizou os recursos usados para a compra de africanos para financiar suas ideias promissoras.

No final da década de 1850, o visconde fundou o Banco Mauá, MacGregor &Cia, com filiais em várias capitais brasileiras e em Londres, Nova Iorque,Buenos Aires e Montevidéu.Liberal, abolicionista e contrário à Guerra do Paraguai, forneceu os recursos financeiros necessários à defesa de Montevidéu quando o governo imperial decidiu intervir nas questões do Prata (1850) e, assim, tornou-se persona non grata no Império. Suas fábricas passaram a ser alvo de sabotagens criminosas e seus negócios foram abalados pela legislação que sobretaxava as importações.

De ideias políticas de caráter liberal e defensor do abolicionismo, forneceu os recursos financeiros necessários à defesa de Montevidéu quando o governo imperial decidiu intervir nas questões platinas (1850). Contrário à Guerra do Paraguai, foi deputado pela Província do Rio Grande do Sul em diversas legislaturas (1856, 1859-1860, 1861-1864, 1864-1866 e 1872-1875), tendo renunciado ao mandato em 1873 para melhor cuidar de seus negócios, ameaçados desde a crise bancária que se iniciara em 1864.

Teve influência política no Uruguai desde 1850, quando a pedido do amigo Paulino José Soares de Sousa, visconde do Uruguai e então Ministro dos Estrangeiros, ajuda financeiramente os liberais sitiados em Montevidéu. Lá suas ações passaram a receber favores ou revezes, de acordo com o domínio de blancos ou colorados. No Brasil, mesmo eleito pelo Partido Liberal, apoiou o gabinete de seu amigo visconde do Rio Branco (1871-1875).

A combinação das suas ideias, juntamente com o agravamento da instabilidade política da região platina, tornou-o alvo das intrigas dos conservadores. 

As suas instalações passaram a ser alvo de sabotagens criminosas e os seus negócios foram abalados pela legislação que reduziu as taxas de importação sobre as importações de máquinas, ferramentas e ferragens (tarifa Silva Ferraz, 1860). Com a falência do Banco Mauá (1875), pediu moratória por três anos, sendo obrigado a vender a maioria de suas empresas a capitalistas estrangeiros e ainda os seus bens pessoais para liquidar as dívidas.

Doente, minado pelo diabetes, após liquidar as suas dívidas, encerrou um capítulo da sua vida empresarial. Com o pouco que lhe restou e o auxílio de familiares, dedicou-se à corretagem de café até falecer, aos 76 anos de idade, em sua residência na cidade de Petrópolis poucas semanas antes da queda do Império. Seu corpo foi trazido à corte de trem, pela mesma estrada de ferro que construíra anos antes, e sepultado no mausoléu de sua família (hoje em ruínas), no Cemitério de São Francisco de Paula, no bairro do Catumbi.

O Barão de Mauá foi deputado pelo Rio Grande do Sul em diversas legislaturas, mas renunciou ao mandato (1873) para cuidar de seus negócios, ameaçados desde a crise bancária (1864).

Com a falência do Banco Mauá (1875) o visconde viu-se obrigado a vender a maioria de suas empresas acapitalistas estrangeiros. Doente, minado pelo diabetes, só descansou depois de pagar todas as dívidas, encerrando com nobreza, embora sem patrimônio.

Convivendo em uma sociedade rural e escravocrata, o contato com a mentalidade empresarial britânica que, nos meados do século XIX, gestava a segunda fase da Revolução Industrial, foi determinante para a formação do pensamento de Mauá.

O seu estilo liberal de administrar era personalíssimo para o Brasil, país acostumado à forte centralização monárquica que o Poder Moderador, expresso na Constituição de 1824, havia reafirmado. Sua característica principal, em qualquer setor econômico que atuou, foi o pioneirismo.

Com menos de trinta anos, já possuía fortuna que, segundo ele próprio, "assegurava [a ele] a mais completa independência".

Os seus primeiros passos como empresário foram marcados pela ousadia de projeto, apostando no emprego à tecnologia de ponta. Em toda a sua carreira preocupou-se com a correta gestão de recursos, marcada por uma administração descentralizada, onde a responsabilidade de cada indivíduo na cadeia de comando era valorizada. A sua política salarial expressava, em si própria, um investimento nos talentos de seus empregados, tendo sido pioneiro, no país, na distribuição de lucros da empresa aos funcionários. Em complemento, incentivava os seus colaboradores mais próximos a montar empresas e a fazer negócios por conta própria. O nível de gerência era contemplado com créditos e apoio logístico para operar os empreendimentos, o que combinado com a autonomia administrativa e com a participação nos lucros, permitia fazer face à maioria das dificuldades.

Desse modo, Mauá controlou oito das dez maiores empresas do país: as restantes eram o Banco do Brasil e a Estrada de Ferro Dom Pedro II, ambas empreendimentos estatais. Chegou a controlar dezessete empresas, com filiais operando em seis países. Sua fortuna em 1867, atingiu o valor de 115 mil contos de réis, enquanto o orçamento do Império do Brasil para aquele ano contava apenas com 97 mil contos de réis. Estima-se que a sua fortuna seria equivalente a 60 bilhões de dólares, nos dias de hoje.

Mauá também foi muito conhecido por suas ideias contrárias à escravidão, o que o distanciava das elites políticas do Império, o que se ressentiu indiretamente nos seus interesses comerciais. Com o passar dos anos, Mauá foi se afundando em dívidas, pois sempre que não conseguia recursos, fosse através de subscrições, ou através do apoio financeiro do governo, lançava mão das reservas de sua base de operações: o Banco Mauá & Cia.

No dia 1 de maio de 1910 a prefeitura do então Distrito Federal inaugurou um monumento público em homenagem a Mauá. Uma estátua em bronze do Visconde em tamanho natural sob uma coluna de granito de cerca de oito metros de altura, de autoria do escultor Rodolfo Bernardelli, foi colocada no centro da Praça Mauá, próximo ao cais do porto carioca.

No dia 1 de junho 1914 Foi fundada a Escola Tecnica Estadual Visconde de Mauá no bairro de Marechal Hermes, Rio de Janeiro (Hoje faz parte da rede FAETEC). Em 1926 foi inaugurado o prédio da Estação Barão de Mauá, início da Estrada de Ferro Leopoldina (hoje abandonada).

Em 1936, a Casa da Moeda do Brasil lançou uma moeda de cupro-níquel comemorativa de 200 réis (série "Brasileiros Ilustres") com a efígie de Mauá no verso e da locomotiva "Baronesa" no anverso, com reedições em 1937 e 1938.

Em 1963, os Correios brasileiros emitiram selo com a imagem do Visconde (Barão) de Mauá.

Em 2010, os Correios emitiram o selo comemorativo alusivo aos 150 do Ministério dos Transportes, com a imagem do Barão de Mauá (considerado Patrono dos Transportes).

Em 2013, por ocasião de seu bicentenário, na PUCRS, Porto Alegre, aconteceu evento comemorativo à data que contou com inauguração de Busto de Mauá na Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia - FACE - da PUCRS (cujo Centro Acadêmico leva, desde 1931, o nome de "Visconde de Mauá"), lançamento de Troféu aos melhores estudantes, a ser concedido anualmente, premiação a figuras do mundo acadêmico e industrial e lançamento do livro Mauá: paradoxos de um visionário - obra comemorativa dos 200 anos de nascimento do Visconde de Mauá.

Diversas escolas de samba desenvolveram enredos referindo Irineu Evangelista de Sousa. No carnaval do Rio de Janeiro, em 1963 o GRES Portela com o enredo "Barão de Mauá e suas Realizações", ficou em 4º lugar no Grupo Especial, e, em 2012, a GRES Acadêmicos do Cubango, com o enredo "Barão de Mauá - Sonho de um Brasil Moderno" obteve o 4º lugar no Grupo Acesso A. Na terra natal do personagem, a Escola de Samba Unidos da São Gabriel homenageou-o em 1992 com o enredo "O Apito do Trem", vindo a ser campeã naquele ano.

No bairro de Praia das Palmeiras, em Caraguatatuba, São Paulo, Código de Endereçamento Postal 11666-740, recebe o nome de Rua Irineu Evangelista de Souza. Com a mesma denominação existem logradouros em: bairro de Isaura Parente, Código de Endereçamento Postal 69918-272 e bairro da [[Paz}} e Conjunto Mariana, em Rio Branco, Capital do Estado do Acre, Código de Endereçamento Postal 69919-202/230; no bairro Porto de Santana, na Cidade de Cariacica, Estado do Espírito Santo, Código de Endereçamento Postal 29153-045; na Vila Serradinho, em Campo Grande, Capital do Estado do Mato Grosso, Código de Endereçamento Postal 79104-030; em Indianópolis, na Cidade de Caruaru, Estado de Pernambuco, Código de Endereçamento Postal 55026-120; e no Estado do Paraná, na Cidade de Ponta Grossa, bairro da Estrela, Código de Endereçamento Postal 84040-190, e na Capital Curitiba, no bairro de Fazendinha, Código de Endereçamento Postal 81330-330.

A Associação Comercial do Rio de Janeiro é conhecida como A Casa de Mauá, em homenagem ao ilustre brasileiro.








BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.