terça-feira, 14 de março de 2017

Goleiro Bruno: Onde o crime compensa (Por Thiago Muniz)

O goleiro Bruno está preso desde 2010, acusado de envolvimento no assassinato de Eliza Samudio. Ele foi condenado em 2013 a 22 anos e 3 meses de prisão, em regime fechado, por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver contra a ex-amante, além de sequestro e cárcere privado do filho que ele teve com Eliza. O jogador recorreu da decisão e estava preso por decisão de primeira instância há quase 7 anos.

As coisas podem sempre mudar na vida. Às vezes, mudanças são radicais. No mundo do futebol, nenhuma reviravolta foi tão brutal quanto a que ocorreu com Bruno. De ídolo do Flamengo a presidiário, o mineiro polêmico hoje é figura esquecida do mundo do futebol e enfrenta todos como se o passado tivesse sido apagado.

Bruno é a perfeita caracterização da personagem de Franz Kafka, em edição revista e ampliada. Quando Bruno Souza despertou, certa manhã, de um sonho agitado, viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de inseto.

Fico chocado lendo as pessoas enviando mensagens de apoio ou justificando que existem pessoas piores soltas. Me pergunto, porque será que o Brasil é tão impune? Será que a sociedade não é conivente? Ficam aplaudindo situações brutais como essa.

Gente que defende assassino, vota em ladrão, defende criminosos, pratica pequenas fraudes todos os dias até aparecer oportunidade para praticar um golpe grande... Esperar o que de um povo com esse comportamento? Esperar o que de um país que tolera esse tipo de gente?

Para termos uma idéia da magnitude da atrocidade que ele cometeu, se este mesmo crime tivesse sido feito nos Estados Unidos, dependendo do Estado já seria passivo de pena de morte, aguardando o dia da sua execução, e refletindo sobre aquilo que fêz.

Brasil o país da impunidade, mais um assassino solto. Uma vergonha. Clube que acolhe assassino é a favor de bandido.

Legalmente, nada a reparar na contratação do goleiro Bruno, não há o que se discutir. O que a gente está discutindo é o tipo de ressocialização do indivíduo. Então o Bruno, que há sete anos foi mandante de um assassinato brutal, premeditado, chocante, odioso, vai aparecer agora em rede nacional sendo herói de uma defesa, dando entrevista por ser melhor em campo.

Aposto que as crianças de Varginha olham para o time e se espelham nos jogadores, querem ser o lateral-direito, o goleiro, o volante, o centroavante... Jogador de futebol no Brasil, bem sucedido, é exemplo para outras pessoas. Será que é interessante que o goleiro Bruno seja um exemplo para as pessoas?

A liberação do goleiro Bruno pela Justiça e sua contratação pelo Boa Esporte Clube, da cidade mineira de Varginha, reabriram uma ferida transmitida em rede nacional por longos meses. Penso que este seja mais um caso representativo de como estamos lidando de modo passional e imediatista com diversos fenômenos de ordem social e política. 

Vimos isso com relação ao cinema, por exemplo, quando a direção e a equipe do filme Aquarius fizeram uma manifestação em Cannes e foram hostilizadas por uns e endeuzadas por outros. Estamos vivendo isso fortemente no campo político, sobretudo com o reavivamento de manifestações fascistas, as quais se espalham para diversos outros campos, como as críticas aos direitos da população negra, de LGBTs, de mulheres, etc. 

E o “caso Bruno” é emblemático para alimentar as mais diversas facetas do punitivismo que caracteriza nosso modo de lidar com o crime e com a responsabilização das pessoas que os cometem.

O New York Post, dos Estados Unidos, deu o título de “Goleiro que matou ex e alimentou cachorro, assina com novo clube”. O tabloide Daily Mail, da Inglaterra, foi pelo mesmo caminho, afirmando que “goleiro que ordenou o assassinato de sua namorada, antes de alimentar seu rottweiler com o corpo, assina com novo clube após cumprir pena por apenas sete anos”.

Ainda dá tempo do Boa Esporte reparar o dano moral que fez.

E para o goleiro Bruno, uma pergunta em que ele não teve coragem de responder: Você acha que é um bom exemplo para um pai levar uma criança a um estádio para te aplaudir?































Esta foto de Marcos Alves em O Globo não precisa de legenda, explicação ou tese. É o retrato do Brasil ignorante, acrítico e boçal, assim transformado pela deletéria ação da mass-media. E assim vamos nós, a caminho da barbárie.







BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", dos sites Panorama TricolorEliane de Lacerdablog do Drummond e Mundial News FM. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



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