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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O ato falho da MP do Ensino Médio (Por Thiago Muniz)

A MP do ensino médio é um evidente ato-falho.

Para resolver o atávico problema da medíocre formação de nossos adolescentes, os responsáveis pela MP deixaram claro o que entendem por educação.

Para ele, Artes deve ser colagem e Educação Física deve ser queimada.

Filosofia e sociologia são papo de bar.
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A MP do ensino médio é uma decisão burocrática.

Uma decisão tomada claramente por quem sofre de pragmatismo patológico.

Deixa claro que para eles o conhecimento vem exclusivamente dos livros, das fórmulas, da gramática e não da arte, do movimento, da discussão.
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A MP do ensino médio é uma enorme oportunidade desperdiçada.

Considerando a medíocre performance de nossos alunos, que despencaram nos rankings mundiais de aprendizagem nos últimos anos, essa era a hora de colocar gente séria, comprometida, para determinar o futuro dessa geração.

Optaram pelo caminho simplório de dividir conhecimento em caixinhas muito bem delimitadas.
Enquanto países como a Finlândia disparam para o topo do ranking com uma educação holística, com menos horas na escola, nós criamos uma medida sem pé nem cabeça.

Estranho como processos alternativos (no bom sentido), como antroposofia ou escola montressoriana, estão cada vez mais sendo valorizadas pela sociedade, pelo mercado e pelos próprios educadores, e absolutamente os técnicos do governo fingem que isso tudo não existe.

E nos remetem a processos educacionais cada vez mais obtusos e limitantes. Mas se você olhar que tipo de cidadão estará nas ruas e nas urnas daqui a pouco, é até compreensível.
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A MP do ensino médio é, enfim, uma triste metáfora. Que o currículo do ensino médio precisa ser revisto e aprimorado, isto é um fato inquestionável. Mas fazê-lo por meio de uma medida provisória, sem mais amplas discussões, nem com o Congresso, nem com a própria comunidade escolar, a maior interessada no projeto, esta é uma atitude altamente questionável.

Vivemos tempos provisórios. O Presidente que está aí, é um tapa-buraco. Uma mistura de passado recente com presente remendado.

É o que temos para o momento.

As reformas política, trabalhista, da previdência, do ensino médio, deveriam ter sido feitas há anos.
Mas agora vão saindo. Provisoriamente.

Ninguém sabe direito de onde vieram ou para onde vão.

Em matéria de Ensino, no geral, estamos mais atrasados que meteoro que sai da rota. Isso evidencia a grande falta de verdadeiros didáticos e conscientizados sobre a defasagem do ensino médio. Já lecionei, estive nesse meio e vi as incoerências, já naquela época, entre realidade, profissão e o que estava sendo ensinado.

Essa MP veio para tentar sanar uma evasão escolar galopante que acontece nos primeiros anos do EM, mas o que o governo não entendeu é que essa evasão esta muito mais ligada a um ensino precário no ensino fundamental do que a obrigatoriedade de matérias como artes e educação física.

É preciso sim uma reforma nos ano ensino fundamental para que esse aluno que se sente despreparado para o ensino médio não desista de sua educação.

A regra é clara: quanto menos ensinar mais terão 'boi de manobra'. Aconteceu na década de 70 e está acontecendo de novo. Lá na frente eles vão criar mais cotas porque as escolas particulares dão uma banana para eles e ensinam diferenciado. Quem vai pagar a conta somos nós, de novo.

A era de obscurantismo dos recentes governos vai nos assombrar por muito tempo ainda.

Só tenho uma palavra para política de educação nesse país: subdesenvolvida.


















BIO

Thiago Muniz é colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor, do blog Eliane de Lacerda e do site Jornal Correio Eletrônico. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Dez anos de CEFET (Por Elika Takimoto)

Há exatamente dez anos, assinei meu termo de posse. 

Na ocasião, o diretor fez um discurso do qual jamais esquecerei. Ele disse para os novos professores que não veríamos um colega sequer reclamar da instituição. 

Oras, quando ouvi aquilo, ri. Desacreditei. 

Professor sem reclamar? Como assim? 

Eu tinha duas matrículas no Estado e trabalhava em uma escola particular. A sala dos professores de ambas instituições era um verdadeiro martírio. Eu SÓ ouvia reclamação. Ou falavam mal dos alunos ou dos colegas ou do patrão. No Estado, falavam, óbvio, muito mal do salário também.

Como assim não vou ouvir professor reclamando do trabalho no CEFET?

Pois então, com o tempo vi que ninguém havia me enganado. Por ser dedicação exclusiva, pedi demissão de todos os lugares. Em dez anos, terminei o meu mestrado, fiz meu doutorado (com redução de carga e não de salário), participei de vários congressos (com tudo pago) e ainda vi meus colegas crescendo academicamente e tendo o cérebro bem oxigenado de tanto que somos incentivados a pesquisar.

Hoje, além de professora, sou coordenadora de Física do CEFET. A minha equipe é formada de professores que ou tem doutorado ou estão caminhando para ter o título. As exceções estão desenvolvendo algum tipo de atividade bacana. 

Jamais os professores só dão aula ali dentro. Temos liberdade para dar a aula do jeito que acharmos melhor. Não é á toa que CEFET é uma referência em Ensino. Os professores ousam e os alunos ganham muito com isso.

Na maioria das salas, temos projetores e aparelhos de ar condicionado. Os nossos laboratórios estão todos bem equipados. Nossos alunos são os melhores para se trabalhar. São alunos interessados, concursados e que em sua grande maioria respeitam o professor e sentem orgulho da instituição. É a receita perfeita para a felicidade e o sucesso. 

Ainda que tenhamos muito a melhorar, estamos, sem dúvida, no topo da cadeia alimentar.

Estou, pasmem, muito satisfeita com meu salário.

Enfim, foram dez anos muito felizes. Com o andar da carroagem e com os cortes que já estamos sentindo, temo que os próximos dez anos não serão com toda essa satisfação.

Ainda assim, seguirei trabalhando e aproveitando da liberdade e das instalações até onde o Deus de Janaína permitir.

Obrigada, CEFET, por tanta alegria que me deu nesses anos. Orgulho de pertencer a este lugar.















Elika Takimoto é vencedora do Prêmio Saraiva de Literatura, doutora em Filosofia, mestre em História, professora de Física.