quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Pode pruma coisa, não pode proutra coisa? (Por Thiago Muniz)

"...Nas óperas sempre há uma cantora gorda que só canta uma ária. Enquanto ela não cantar, a ópera não termina.

Não há nenhuma cantora gorda no nosso futuro, leitor. Enquanto ela não chegar, evite olhar-se no espelho e descobrir que, nesta ópera, o palhaço somos nós.
"

(Luiz Fernando Veríssimo)

Prefiro o luto da lucidez do que a bonança da ignorância.

O Brasil é um país fluído. Moralmente, politicamente, legalmente fluído.. Dilma foi deposta da presidência acusada de crime de responsabilidade. Perdeu a presidência, mas manteve direitos políticos, ‘’Criminosa’’, mas nem tanto. Meia condenada, pode se candidatar amanhã ao que bem quiser., ou se abrigar em algum cargo público pra se esquivar de Sérgio Moro.

A lei brasileira é movediça e se presta sempre a olhar para os interesses de quem a traduz ( e ainda falam em instituições sólidas...). A decisão de desmembrar a acusação e a condenação da ex- presidente abre precedente pra salvaguardar os mesmos direitos a Eduardo Cunha e toda a classe de corruptos do país. 

Com ajuda do PMDB e do PT, partido que acusava Cunha pelo impeachment de Dilma. O PT agora abre a possibilidade de meia salvação para seu algoz favorito Eduardo Cunha, bem como todos os acusados da lava-jato. 

Um acordo de purificação coletiva para crimes em comum entre políticos que ora se odeiam, ora se amam, ora se perdoam, para salvação de todos e condenação da população, sempre feita de idiota – conscientemente ,às vezes, inclusive pelo próprio voto.

Se a maioria da classe política é criminosa, o perdão entre os pares é absolvição divina pela qual o congresso se banha em redenção. Deuses congressistas que se absolvem de seus pecados humanos. O povo, sempre condenado a ficar à margem das decisões dos deuses que elegem para ludibriá-lo de forma mais convincente.

Inconsistente uma votação no Senado que afasta uma presidente da República eleita democraticamente, mas mantém seus direitos de ocupar cargos públicos.

Que crime de responsabilidade é tão grave para permitir uma ruptura tão aguda na representação política e, ao mesmo tempo, permite que a ré para outras funções, inclusive se candidatar em próximas eleições?

O sistema político brasileiro não está condenando a Dilma. Mas se absolvendo. É isso que transforma toda essa farsa em tragédia.

Como Dilma sofreu impeachment e manteve os direitos políticos e o vice tomou posse, sendo inelegível?

Quem diria, até o Fernando Gabeira saiu da toca e foi ao Senado posar ao lado daquele garoto idiota, o Kim Kataguiri. Sinceramente, me dá vergonha alheia.

Junto com a Dilma caíram a minha convicção de que vale a pena assistir aos debates, de que vale a pena sair de casa e ir votar, de que a voz da maioria será respeitada. Votei nela as duas vezes. A primeira por achar que ela era a melhor e a segunda por achar que era a menos pior.

Processo de impedimento honesto"? Com o Collor, Aécio, Caiado e outros mais julgando?

Infelizmente venceu a minoria e a democracia virou chacota. Perderam no campo e viraram a mesa como faziam nos campeonatos de futebol e como fazem em outras instituições.

Me sinto envergonhado e pela segunda vez na semana estão tentando me convencer que Baré e Coca-Cola são a mesma coisa.

Será que são?

Golpe confirmado.

Agora é escutar os foguetes e as buzinas celebrando o fim da corrupção e o ótimo futuro que temos pela frente, sem nenhum tipo de problema. 

A hipocrisia será gritante, ao contrário das panelas que, ironicamente, não serão mais ouvidas como já não estão sendo, mesmo com os incontáveis absurdos já feitos por Temer, que fará muito mais.

Critiquei e continuo e continuarei criticando os governos de Lula e Dilma, que assim como o de FHC e outros, tiveram seus méritos e problemas, mas o retrocesso é claro, assim como as más notícias e o péssimo cenário.

Em um governo que desdenha dos nossos direitos usando a crise como desculpa, congelar gastos públicos com saúde, educação e abono salarial por 20 anos é apenas a ponta do iceberg que me faz temer (irônico, não?) um retrocesso incalculável e incontáveis e enormes perdas que teremos.

Infelizmente, o povo foi usado como massa de manobra, como em tantas outras vezes, e muitos bobos caíram direitinho. Alguns poucos ainda acreditam, ingenuamente, que Temer e companhia também irão cair. Dilma não caiu porque vocês queriam, e sim porque eles queriam e usaram vocês para isso.

O mundo inteiro vê, menos alguns bobos que vivem por aqui. O impeachment não vai salvar o Brasil. Nem melhorar. Aliás, muito pelo contrário.

Nossa democracia e o voto foram jogados no lixo. Milhões vão sofrer - principalmente a camada mais necessitada da nossa população, sempre esquecida - e terão suas vidas muito afetadas negativamente. Mas tá tudo bem, é dia de celebrar, soltar foguetes e buzinar. É dia de ser alienado e tratar o futuro do nosso país como um jogo de futebol.

Michel Temer chega ao cargo já com alta taxa de reprovação (68%) e precisará aprovar ajustes econômicos impopulares. "Não vai ser como o governo de Itamar Franco (que assumiu após impeachment de Collor). Toda a sociedade estava contra o Collor. As circunstâncias agora são diferentes.

































BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor, do blog Eliane de Lacerda e do site Jornal Correio Eletrônico. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.

* Texto com colaboração do jornalista Felix Junior - Jornal Correio Eletrônico



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