sábado, 17 de fevereiro de 2018

Vai começar a carnificina no RJ (Por Thiago Muniz)

"Muda a cor da farda do atirador, só não muda a cor da pele de quem morre." (Ernesto Xavier)

Quando o vulgo golpista vampiro, mas então presidente Michel Temer decretou a intervenção federal na segurança pública no Estado do Rio de Janeiro; foi uma forma de conquistar o seu próprio partido, o MDB/PMDB, que está rachado devido a Reforma da Previdência. O governador em exercício, senhor Luiz Fernando Pezão, é um desses membros do partido que estava nessa sinuca de bico. Então qual foi a moeda de troca? Entregar a segurança de um estado como o Rio de Janeiro em favor de algumas moedas de prata, assim como Judas fez com Jesus.

Como diria Raul Seixas: "A solução é alugar o país...". Pezão alugou a segurança pública para o governo federal, onde nomeou um general quatro estrelas para ser o interventor do estado. Mas o senhor Temer deixou bem claro que a intervenção só será colocada em prática depois da votação da Reforma da Previdência; ou seja, uma mão lava a outra.

Mal o general assumiu o posto de interventor já declarou que "O clima não é tão ruim assim...".

Como assim general? Não conheces a realidade do Rio de Janeiro? Faça uma ronda pessoalmente por toda a cidade do RJ, baixada e adjacências e verás que o buraco é muito mais embaixo do que pensas ou mandaram dizeres publicamente. Dê uma volta com trajes civis de preferência na Linha Vermelha e Linha Amarela. Verás que a hostilidade está bem aguda.

Intervenção Federal? Na prática será só nas zonas Norte, Oeste, Baixada e talvez a região Metropolitana. Porque o playboy filhote de empresário ou de magistrado continuará acendendo o seu baseado no Arpoador ou puxando uma carreirinha de cocaína em alguma festa no Leblon.

A intervenção só apareceu depois do caos na Rocinha, ou seja, zona Sul carioca, maior comunidade da América Latina, PIB maior que muitas cidades do país, reduto do consumo e demanda das drogas. Na Pavuna por exemplo está tão pior quanto, as empresas estão fugindo do RJ por terem que obrigatoriamente passarem por aquela região (Pavuna, Acari, Costa Barros, Jardim América...) e literalmente os caminhões são saqueados todos os dias. Isso já perdura há mais de 2 anos. E só agora vem uma intervenção federal?

Nossas praças não serão salão de festas do crime organizado. Já sabem o que significa, né? E não, não era do bloco de carnaval em Ipanema que o Temer falava. A narrativa vinha sendo construída desde o início da semana, e não pela primeira vez (arrastões em 1992, fechamento de escolas e comércio em 2002...).

Um fuzil na clandestinidade pode estar valendo até uns 50 mil reais, a vista e em dinheiro vivo. A quem interessa mesmo a não apreensão e incineração desta arma? Enquanto não houver uma reforma na segurança pública, os agentes policiais continuarão mantendo as suas vidas paralelas com alta rentabilidade e influências. Seja através de milícias, contravenções e política; manter o comércio armamentista ilegal ativo é o objetivo fundamental para a máquina paralela.

Os militares vão moralizar o Rio de Janeiro? Não, peraí! Leiam as matérias abaixo:

Matéria de 18 de janeiro de 2018.
* Matéria de 11 de dezembro de 2017.
* Matéria de 13 de outubro de 2017.
* Matéria de 05 de dezembro de 2017.

Em primeiro lugar a opinião pública no Brasil é pautada pela mídia, especialmente a TV. Estou errado? Se a mídia oligárquica quiser ela faz a imagem de uma instituição ou a derruba. Portanto, não podemos pautar a credibilidade pela opinião pública, já que ela não é tão espontânea assim. Aliás, pergunte para moradores de comunidades pobres o que elas acham das forças militares. Creio que terá muitas histórias tristes para ouvir. Tem gente boa? Tem. Mas a estrutura é corrompida, preconceituosa, desumanizada.

Devemos ter alguma ação na segurança? Sim. Urgentemente. Mas ela deve partir das forças estaduais. O exército não é treinado para o combate e patrulhamento de rotina nas cidades. Além disso, a intervenção no Rio é meramente política. Estados com o o RN e CE necessitam muito mais de ações de segurança do que o Rio, mas o estado do RJ é vitrine política.

O trabalho de longo prazo sempre é colocado em último lugar e seguimos enxugando gelo. À criminalidade não vai acabar porque a desigualdade social não vai acabar. Assim é que se combate a violência . Outro ponto: existe um poder simbólico do Estado que é exercido sobre o cidadão. A sensação de ausência da presença do Estado leva ao caos, à desobediência civil. Não sou eu que estou afirmando isso. São os maiores sociólogos do mundo, Bourdieu como o principal. Se o Estado não se faz presente, o sujeito age como bem entende e tende à desordem. Assim é com todas as instituições .

O povo não vê hospital funcionando, nem viatura, nem esgoto, nem luz, nada. Ele vai se revoltar. Ele vai desobedecer. Agora o Estado quer entrar com armas? Qual é a leitura que o povo vai ter? A de que eles são horríveis, desprezíveis. Então, a segurança é pra quem? Pro povo como um todo ou pro morador da zona sul? Acho que fica óbvio para quem se destina.

Temos 79,9% dos 60 mil homicídios no Brasil de pessoas negras. Isso é algo que surge porque os negros são naturalmente violentos? Ou porque fomos jogados à miséria desde 1565? É estrutural. E as polícias e forças armadas foram criadas no Brasil a partir da visão de que negro e pobres são ameaças e que devem defender a elite, a propriedade. Vide o brasão da PM no Rio de Janeiro.

E para terminar, vou citar na íntegra o que a professora Jaqueline Muniz, especialista em segurança pública da Universidade Federal Fluminense, fez na edição das 10 da Globo News hoje (17/02) ao vivo:

"Olha! A expectativa eu diria que não é otimista. É pior do que seis ou meia dúzia, ficou claro na fala do ministro né? A pergunta que a gente tem que fazer é a seguinte: Ninguém foi pego de surpresa com essa ação de intervenção colocada no decreto. Primeiro que o Rio de Janeiro desde 1992 com a ECO-92 vem experimentando formas diretas e indiretas de intervenção das Forças Armadas na segurança pública do Rio, ok? Então isto não é uma novidade. Segundo ponto que é importante chamar é usando a imagem do Carnaval é que a operação do GLO na Rocinha, no Salgueiro (São Gonçalo e não Tijuca) e antes disso na Maré serviram como uma espécie de ensaio técnico em que ninguém mostrou quais foram os quesitos e as notas que tiraram né? Até agora, apesar de terem gasto quase 300 milhões na Maré por mais 1 ano, aqueceu a panela de pressão sem produzir resultados substanciais, ninguém apresentou relatórios de eficácia, eficiência e efetividade no emprego das Forças Armadas em suporte a ação policial no Rio de Janeiro, o que nós vemos e temos assistido no Rio na verdade pra ser muito clara é substituição do arroz com feijão da segurança pública, que é o que funciona, correto? Não é invenção da roda, o dia a dia dos policiamentos por operações policiais sobe e desce morro, pela teatralidade operacional, que tem rendimento político e eleitoral, rendimento midiático, mas pouco efeito no cotidiano. Se é de fato pra combater o crime organizado não será esse efeito "espanta barata" que tem se produzido com sobe e desce morro chamado síndrome do Cabrito, agora articulada, envolvendo as Forças Armadas, que aliás tem plena consciência de sua incapacidade de agir como polícia, de tal maneira que demandaram o salvo conduto uma proteção através de um decreto que transfere os seus erros nas suas violações para a Justiça Militar. O jogo entre Estado e Governo Federal não tem como mudar, isso é um ilusionismo e é preciso ser claro com a população. Tem alguém enganando alguém, o governador passou a perna nas polícias ou as polícias fizeram um by pass no governador; por uma questão muito simples que a população precisa saber; há 15 dias atrás a Polícia Militar fazia um planejamento e um seminário, com apoio do Viva Rio, dentro da FIRJAN de planejamento estratégico dessa polícia do Futuro, a polícia de 2018. Estavam presentes o secretário de segurança, o ministro da defesa, todos estavam lá. E desenharam um plano, uma proposta; ouvindo setores da sociedade e entregar ao governador. Quinze dias depois todo mundo é pego de surpresa? A intervenção federal no Rio de Janeiro não é um efeito especial de escola de samba que ninguém sabe, fica sabendo no Sambódromo da insegurança pública do Rio, ok? Então, quem passou a perna em quem? De um lado o governador que entregou o Rio de Janeiro de porteira fechada, e quem abre mão da segurança abre mão da governabilidade, da capacidade de governo. Não é falando alto, gritando forte, que vai fazer as polícias funcionarem. Se tinha ingovernabilidade na segurança, não é o Exército falando alto, de bigode que vai conseguir produzir, porque afinal nem as Forças, as espadas no Brasil, das Forças Armadas a Polícia Federal ou a guarda da esquina não tem dispositivos de controle interno e externo de governabilidade, fazê-las funcionar é um gesto de boa vontade e camaradagem entre pares, é um pedido de Por favor, trabalhe ali na esquina. Esse é o primeiro ponto. Segundo e importante ponto, que a população do Rio tem que saber, o Ministério Público tem um ajustamento de conduta que esta há 2 anos do governo do Estado do RJ um plano de segurança, um conjunto de ações estruturais e sistêmicas pra reduzir a matança de policiais, a matança de civis, mudanças na estrutura da segurança pública do Rio de Janeiro, os prazos estão vencendo e o governador e mais ninguém apresentou. Por sua vez a Defensoria Pública do Rio de Janeiro tem uma ação civil de redução de perdas e danos exatamente para evitar também a matança com propostas substantivas de mudança continuada, pra que a gente não caia nessa fórmula fácil de achar que a espada sozinha resolve e vai cortar para todos os lados, inclusive a cabeça dos governantes e daqueles que hoje sentam na cadeira. Tem uma situação crítica, quem está enganando e porque? O plano de segurança era mais do mesmo, então volto a dizer o que tinha dito antes; vocês não acham estranho que exatamente o Ministério Público há mais de 1 ano desenhou o termo de ajustamento de conduta que envolve um conjunto de ações estruturais de mudança dentro das polícias pra fora, a mesma coisa a Defensoria Pública; o governo do Estado tinha que entregar a partir das audiências públicas, está devendo, aliás já passou do prazo, que tenha sido feito uma reunião com ONG´s, PM, empresariado, pra desenhar esse plano de ações, que aliás é simplório, é medíocre, é mais do mesmo, e que de repente todo mundo é pego de surpresa? Dá a impressão de que o comando militar chegou no Rio de Janeiro pra passar o Carnaval, gostou da cidade e resolveu governar. Não é assim! Tem uma articulação política por trás sim! Se é mesmo pra combater o chamado Crime Organizado como metástase, não existe Crime Organizado que não tenha chancela convivência e conivência com os setores do Estado e setores do Governo. Afinal, é através do dinheiro do crime que se faz caixa 2 de campanha, e que crime é esse? É através de mercadorias ilegais, que vai da banda larga ao tráfico de drogas, mas voltando ao ponto do Rio de Janeiro; porque a Polícia Civil foi intencionalmente sucateada no seu trabalho de inteligência, no seu sistema de dados, nas suas equipes de investigação e na atividade de perícia, porque pelo que eu saiba e pelo que o mundo saiba de pesquisa do que funciona e do que não funciona é a atividade discreta e não barulhenta espetacular, de investigação e inteligência consegue desbaratar economias criminosas e não o efeito espanta baratas da ostensividade, aqui se faz polícia de espetáculo, polícia ostentatória, cara, polícia ostentação. Por outro, transformaram a Polícia Militar numa mercadoria, venderam o policial, precarizaram o policial militar para a iniciativa privada: Lapa Presente, Lagoa Presente, Méier Presente, que até então todo mundo acha lindo. Porque acham lindo? Porque ninguém presta contas, é igual ao decreto do Temer, pode tudo mas eu não dou satisfação a ninguém. Mas e aí vai atuar como polícia? Não! Eu tenho medinho, eu só quero mandar: o sucesso é MEU, o fracasso é DE QUEM TÁ LÁ NA PONTA, o PM da esquina, o policial. Só pra fechar, é mesmo pra combater o crime organizado? Eu queria citar alguns pesquisadores, por exemplo a Camila Dias, que vem insistindo como muitos outros pesquisadores, da unidade de comando do PCC, que tem um governo criminoso, unidades de comando em todo o país se chama PCC. Alguma coisa está sendo feita em São Paulo? Já que é um governo criminoso, unidades de comando. Porque no Rio de Janeiro são franquias ocupacionais, mais fáceis de combater, uma vez que elas não tem disputa de poder e territórios, será que é isso? Ou não? Ou será que é um outro tipo de arranjo político que salva o governador de alguma coisa que a gente não sabe o que é, e ele entrega os seus votos e entrega o governo para as pessoas brincarem de governo militar. Sobre transparência, primeiro eles dizem que há integração, o que a gente sabe que não há. A primeira coisa é que não temos mecanismos de governabilidade das polícias no Brasil, não apenas no Rio de Janeiro. A segunda, os dados aqui são tratados como questões pessoais, intransferíveis e ambulantes, ou seja, não se produz inteligência, e sim disse me disse, fofoca de um e de outro, e mais grave que isso, tem agora a intervenção do limão e limonada, tem um governo militar? Porque o governo militar de retórica de ocupação através da paz foi a UPP que foi sabotado por dentro. Agora sobra a lógica da teatrilidade do confronto. Fechando; então se tem uma intervenção porque o Rio de Janeiro está ingovernável, se é essa a retórica, se quer fazer acreditar, é fundamental que se tenha uma auditoria imediata na Polícia Militar, pra saber em que estado ela está foi precarizada e em que estado o interventor vai entregar, o mesmo na Polícia Civil, o mesmo no Corpo de Bombeiros, o mesmo no sistema prisional. Mas é necessário observação externa e internacional, isso não é brincadeira, aqui ninguém presta contas, cadê os relatórios da operação do Salgueiro (São Gonçalo), na Rocinha; cadê a prestação de contas? O sucesso aqui tem a ver com a manipulação de dados. Como é que você diz que está seguro? Quando você esconde a informação e produz auto-censura, isto não é produzir segurança pública. Agora o que eu quero fechar é que muita gente vai ganhar com isso; o crime organizado agradece, o PCC agradece, os falsos professas da segurança pública agradecem e os mercadores agradecem. Estamos diante de uma temporada de abertura de chantagens corporativas e das negociatas da segurança. Que Deus nos proteja que ele ainda está no Rio de Janeiro."

Sem mais...

















BIO


Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", dos sites Panorama TricolorEliane de Lacerda Mundial News FM. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



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