segunda-feira, 8 de junho de 2015

Maria Madalena: oculta por trás de Jesus Cristo (Por Thiago Muniz)

Não há personagem histórico que tenha sofrido tanto o peso das projeções moralistas da sociedade patriarcal do que Maria Madalena. Vista como pecadora e prostituta, ela passou a representar a sombra do feminino, seu lado negativo, em oposição à luz da Virgem Maria, pura e sem pecado original.
Esta sombra afetou profundamente o psiquismo da mulher, provocando uma cisão em sua sexualidade e causando toda sorte de repressão e culpa.

Foram milênios de preconceitos transformados em acusações, maledicência, perseguição, violência, disfarçados em religião.

Há alguns anos vem sendo feitos estudos e pesquisas para resgatar a verdadeira história de Madalena, e nesse trabalho está sendo resgatado também o inconsciente do cristianismo, fragmentos de uma memória recalcada pelos primeiros patriarcas da Igreja. Na verdade, desde a noção de ‘pecado’, o que tenta se exorcizar é o sexo, em oposição ao espírito. E Madalena era uma mulher apaixonada, que se entregava inteira em tudo que fazia.

Segundo os evangelhos, sua devoção incondicional a Jesus despertou ciúmes e inveja entre os discípulos. Sua capacidade de mergulhar naquele estado que hoje conhecemos como ‘expansão da consciência’, permitiu que ela visse Jesus ressuscitado. Sua amorosidade fez com que ela se tornasse a discípula dileta, a companheira, filha e mãe de Jesus. Foi ela quem levou a notícia aos apóstolos de que Jesus estava vivo, após sua morte na cruz. E eles duvidaram... será que podemos confiar numa mulher?

Segundo os evangelhos, Jesus teria livrado a mulher ‘pecadora’ dos seus sete demônios. A partir daí ela se tornou sua fiel seguidora. Relatos históricos contam também que Ele teria desafiado os homens que queriam apedrejar a mulher adúltera, dizendo: ... que atire a primeira pedra quem nunca pecou...

Tantos ensinamentos cristãos sobre o amor incondicional e sobre o perdão não conseguiram aplacar o preconceito, o medo, o ‘horror feminae ‘dos homens -- esse medo irracional contra o feminino, contra tudo que lembra as antigas tradições pagãs da humanidade. A identificação da mulher com o mal corresponde à psicologia do “bode expiatório”, ou seja: o mal está fora de mim, portanto, eu sou bom.
E os primeiros padres da Igreja acharam por bem excluir das escrituras sagradas o registro da vida de uma mulher que manifestava uma sensualidade sem pudores e, ao mesmo tempo, uma espiritualidade à flor da pele. Não sabiam que esse é o jeito feminino de vivenciar a dimensão espiritual, corpo e alma juntos. O êxtase místico dá testemunho disso. Mas, o masculino (em ambos os sexos) tem dificuldade em conciliar os opostos, viver a dimensão material junto com a espiritual, integrar corpo, mente e coração.

O fato é que, quando os quatro evangelhos foram selecionados (entre centenas de outros escritos), por volta do ano 200 d.C. foi que surgiu a distinção entre evangelhos oficiais canônicos e os ‘apócrifos’, aqueles que não foram considerados em concordância com os cânones do cristianismo nascente. Certamente a ótica patriarcal prevaleceu nessa seleção, porque neles quase nada se fala sobre as mulheres que viveram nessas primeiras comunidades cristãs, e junto com seus companheiros foram igualmente perseguidas e torturadas pelos romanos.

Embora muitos tenham pressentido que havia um erro de julgamento nas afirmações das Escrituras sobre Madalena, isso só veio à tona recentemente. Desde o ano de 1896 encontra-se, no museu Nacional de Berlim, um texto escrito em 150 d.C., que teria sido encontrado no século IV, num antiquário da cidade de Achmin, no Egito. Esse texto, escrito na língua coopta e grega, narra episódios da vida de Jesus contados por uma mulher de nome Maria de Mágdala. Foi traduzido como O Evangelho de Maria Madalena e, tal como os outros quatro evangelhos da Igreja Católica, faz parte dos textos fundadores do cristianismo.

O teólogo francês Jean-Yves Leloup vê o surgimento desse texto, considerado ‘apócrifo’ pela Igreja, como a emergência da parte recalcada do cristianismo, aquela que foi negada, escondida, ocultada ao longo dos tempos. E que, ao ser resgatado, mostrou-se como um caminho mais humanizado e, sobretudo, feminino, de reconexão com o divino. Talvez porque Maria Madalena tenha sido uma pessoa que desejou ardentemente, com todos os seus sentidos, o homem e a Deus. Acima de tudo, ela demonstrou ser plenamente humana em sua inteireza, integrando dentro de si o poder viril de uma vontade forte e, ao mesmo tempo, um anseio feminino intenso pela transcendência. E aqui temos de concordar com Jung, que vê nesse arquétipo encarnado por Maria Madalena, um modelo psíquico do feminino, que pode nos inspirar a todos, homens e mulheres, no resgate de nossa inteireza humana.

O medo e a ignorância promoveram, no interior de homens e mulheres, a separação, do masculino e feminino, bem e mal, virtude e pecado, luz e sombra, sexo e espírito – e assim fragmentada, nossa humanidade adoeceu. Hoje, essa mesma humanidade dilacerada grita a dor deste esfacelamento. 

Como disse Roberto Crema,“ nós precisamos reconstruir o templo da inteireza dentro de nós”, para restaurar a saúde humana, individual e coletiva. Isto significa reconciliar os apelos de um erotismo sutil que emerge de nossa sexualidade, com a fome insaciável de nossa alma.

Penso que os sete demônios, dos quais fala a Bíblia, seriam esse caminho da energia/libido, desde o nível sexual até sua manifestação nos planos mais sutis. Temos sete chakras, ou centros de energia, cada um com seus desejos e apegos respectivos, que muitas vezes nos dominam e nos tornam seus escravos. Nesses momentos somos possuídos por eles, eis nossos sete demônios! Só quando a consciência os domina é que eles são transcendidos e se tornam nossos servos fieis.

Maria Madalena não é apenas um personagem do passado, meio mítica, meio histórica. Sua figura está presente mais que nunca, nesse novo milênio, quando mulheres em todo o mundo buscam uma representação do divino feminino para orientar sua sexualidade. Das brumas do tempo ela ressurge, envolta em seu manto vermelho, atiçando o arquétipo esquecido de nossa inteireza como mulheres.

Mito ou verdade: por que Maria Madalena ficou conhecida como prostituta?

Muita gente cresceu ouvindo que Maria Madalena foi uma prostituta que encontrou Jesus Cristo e, arrependida de seus pecados, pediu perdão e passou a segui-lo de forma fiel. No entanto, será que a parte em que diz que ela era uma “profissional do sexo” da época é verdadeira?

Bem, de acordo com inúmeras pesquisas e descobertas feitas para resgatar a verdadeira história, o fato de que Maria Madalena era uma pecadora e prostituta é falso, tanto que não existe nenhum registro nos evangelhos que dê a entender que isso era verdade.

Tudo indica que esse título para ela tenha sido uma invenção cuidadosa da igreja, que escolheu certos evangelhos para seguir e outros para ignorar. Dessa forma, a instituição combinou histórias e teceu informações que enterraram a verdade de uma das personagens femininas mais fortes da literatura antiga.

A bíblica Maria Madalena não só não era uma prostituta como era reverenciada como um apóstolo de Jesus. Tanto que essa revelação teria forçado a igreja a mudar seu pensamento de forma dramática.

Tudo porque a instituição ecumênica queria mostrar Maria Madalena como uma grave pecadora arrependida ou um exemplo de mulher redimida pela fé. E isso foi feito por um motivo.

Em outras teorias, Madalena teria sido esposa de Jesus e mãe de seus filhos. Ainda em outros estudos, ela seria um dos mais importantes apóstolos, uma pregadora e uma santa.

São muitas as hipóteses, mas o que se sabe com absoluta certeza é que ela não era uma prostituta, pois não há nenhuma menção real da prostituição em relação à Maria Madalena em quaisquer versículos da Bíblia.

É verdade sim que ela se considerava uma pecadora nos relatos da Bíblia, mas poderia ser referência a uma série de outras coisas. Seus pecados são mencionados, brevemente, na parte que conta que, antes de sua devoção a Cristo, ele a teria livrado de sete demônios. Porém, isso é muito vago e pode ser interpretado de várias maneiras.

Ela pode também ter recebido essa “má reputação” por ser confundida com várias outras mulheres que são apresentadas ao longo dos Evangelhos, incluindo uma mulher com os cabelos soltos (algo muito erótico para a época) que ungiu Cristo com óleo.

Existe outra teoria muito famosa — principalmente depois do lançamento do livro de Dan Brown, “O Código Da Vinci” — que diz que o apóstolo que está ao lado direito de Jesus na Santa Ceia (retratada pelo artista) não seria João e sim Maria Madalena. E, como Jesus não estava segurando uma taça, o cálice sagrado seria, na verdade, a própria Madalena, que estaria levando o sangue sagrado de Jesus, ou seja, um filho dele.

Há poucas referências concretas às suas ações nos Evangelhos que foram aceitos pela Igreja, incluindo sua recusa em abandonar a Cristo quando ele estava sendo crucificado e a descoberta da sua ressurreição.

Contando ainda com inúmeros personagens de nome Maria e muitas mulheres não identificadas, não é surpreendente que a sua interpretação tornou-se o emaranhado que se tornou. E tudo ainda foi mais “bagunçado” pelo Papa Gregório, 540-604 d.C., que declarou que Maria Madalena era a mesma mulher que todas as outras chamadas Maria nas escrituras sagradas (exceto a mãe de Jesus).

Revendo todas as evidências sobre Madalena, por que a Igreja quis fazer dela uma prostituta e extrema pecadora aos olhos dos fiéis? Segundo os estudiosos, isso aconteceu porque a Igreja queria utilizar as poucas e confusas “sugestões” (interpretando da forma dela) da Bíblia sobre Maria Madalena para manter as mulheres fora do clero.

Os evangelhos que continham mais escrituras sagradas sobre ela foram considerados “apócrifos”, ou seja, eles não estavam de acordo com os cânones do cristianismo nascente. Era mais conveniente para a Igreja excluí-los.

Os evangelhos, conforme conhecemos hoje, não foram estabelecidos como cânone até o quarto século, numa época em que a Igreja mais definitivamente queria deixar claro que os seus escalões superiores seriam formados apenas por homens.

Um texto que teria sido encontrado no século IV, no Egito, narra episódios da vida de Jesus contados por uma mulher de nome Maria de Mágdala e foi traduzido como "O Evangelho de Maria Madalena", tornando-se parte dos evangelhos fundadores do cristianismo.

De acordo com esse evangelho, ela não só foi um dos apóstolos, mas o único que não perdeu a fé em Cristo depois de sua morte. Ela aconselhava os outros, dizendo que ele ainda se comunicava com ela através de visões e optando por aparecer para ela em vez de outros por sua devota fé.

Este evangelho revelador, obviamente, se tornou uma ameaça para a Igreja e sua doutrinação fielmente masculina. As mesmas ideias que estavam por trás da criação da Maria Madalena como uma prostituta estavam por trás da divinização da Virgem Maria.

Tudo porque as mulheres eram consideradas criaturas sexuais, o que formava a sua identidade nas épocas antigas. A mãe de Jesus, por exemplo, raramente é referida em outras situações além de seu estado virginal. Fato é que a história de Maria Madalena foi e sempre será alvo de teorias, especulações e polêmica.

Em qual delas você acredita?

Jesus Cristo casou com Maria Madalena e com ela teve dois filhos, afirma antigo manuscrito

Um novo livro, baseado num manuscrito com cerca de 1.500 anos e que foi lançado em meados de Novembro, revela que Jesus Cristo casou com Maria Madalena e com ela teve dois filhos, noticiou a imprensa britânica.

O livro, baseado no chamado Evangelho Perdido, um manuscrito datado de há 1.450 anos descoberto naBritish Library, foi escrito pelo professor de estudos religiosos da universidade York, Toronto, Barrie Wilson, e pelo escritor e jornalista israelo-canadiano Simcha Jacobovici.

Segundo o jornal Sunday Times, o texto, que os dois autores passaram meses a traduzir do siríaco, língua próxima do aramaico (língua de Jesus), revela ainda que Jesus Cristo foi alvo de uma tentativa de assassínio quando tinha 20 anos.

Na sua página na internet, Barrie Wilson adianta que os investigadores sabem da existência do manuscrito há quase 200 anos anos, mas não sabiam o que fazer com ele.

Jacobovici, por seu lado, adiantou que o manuscrito, que tem 29 capítulos, é uma cópia datada do Século VI de um evangelho do Século I.

Escrito em pele de animal tratada, o manuscrito está nos arquivos da biblioteca britânica há 20 anos, onde foi colocado pelo museu britânico, que o comprou em 1847 a um comerciante que o terá obtido no antigo mosteiro de São Macário, no Egito.

O novo livro tem ainda revelações sobre as ligações políticas de Jesus com o imperador romano Tiberius e com um dos seus principais generais, Sejanus.

Há vários anos que circulam teorias sobre o casamento de Jesus. Uma das mais recentes desenvolveu-se a partir da descoberta, em Setembro de 2012, de um fragmento de papiro egípcio que alguns investigadores acreditam conter a primeira referência ao casamento de Jesus.

A descoberta foi desvalorizada, nomeadamente pela Igreja Católica, que afirma tratar-se de uma falsificação.

O texto contém na quarta linha as palavras: “E Jesus disse-lhes: ‘Eis a minha mulher” e na linha seguinte, “ela pode ser minha discípula”.

Testes científicos ao fragmento confirmaram que o que passou a chamar-se Evangelho da Mulher de Jesus é datado do Século VIII.

Sobre a polémica descoberta, o conceituado professor Karen L King, da universidade de Harvard, citado pelo jornal Boston Globe, disse: “Espero que possamos avançar para questões como o significado deste fragmento para a história do Cristianismo e para pensar sobre questões como: porque é que Jesus ser casado é tão importante? Porque é que as pessoas reagem de forma tão incrível a isso?”.

Relativamente a esta nova descoberta, a igreja de Inglaterra afirma já estar mais próxima da ficção do que da História.

“Parece partilhar mais semelhanças com Dan Brown (autor do livro «O Código Da Vinci», que desenvolve a teoria do casamento e dos filhos de Jesus com Maria Madalena) do que com os evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João)”, disse um porta-voz da igreja ao Sunday Times.

BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.

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