quinta-feira, 30 de junho de 2016

Para que Infra-estrutura se temos as Olimpíadas? (Por Thiago Muniz)

Num país onde se aplaude corruptos e espanca professores, o que esperar?

Policiais agridem professores e estudantes em protesto de profissionais da rede estadual de educação, na tarde desta quarta-feira no centro Rio de Janeiro

Após uma Assembleia que votou pela continuidade da greve na rede estadual de educação, professores e estudantes seguiram em um ato até o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Chegando lá, foram duramente reprimidos pela Polícia Militar, que usou de força desproporcional como: bombas de gás lacrimogêneo, spray de gengibre e cassetetes. 

Um manifestante chegou a ser preso arbitrariamente, e várias pessoas foram feridas, foram cacetadas na cabeça, braços quebrados e muita intoxicação pelo uso dos artefatos químicos. Os manifestantes feridos foram encaminhados ao Hospital Souza Aguiar.

Vergonha, caos, estamos caminhando para uma guerra civil. Logo eles vão matar um professor. O Estado está sem governo, precisaria de um intervenção. Não teremos, pois na esfera federal o caos também está instalado. Lamentável tudo isso.

A nossa polícia é a mais violenta e despreparada. Não tem diálogo, não tem autocontrole, não sabem diferenciar uma simples passeata de um arrastão. A polícia foi feita para proteger o Estado e não o cidadão. Como estão sendo humilhados pelo governo e não podem revidar, para externar sua revolta, batem em outros servidores estaduais que podem externar sua revolta nas ruas, são servidores iguais a eles, mas a ignorância não os deixam ver isso. Agem como sempre, sem pensar. Lembram os capitães do mato que perseguiam, torturavam e matavam negros como eles.

A luta dos professores é uma sensação de luta individualista, que apesar de um único coletivo, parece estar perdido em um mar de incertezas, onde o futuro nos remete a pensar onde vamos perder mais, ou onde vamos sofrer repressão em tons mais acentuados.

Nenhuma cidade brasileira tem condições de sediar os Jogos Olímpicos. Nem o Rio de Janeiro, a nossa cidade-candidata para 2016, que disputa a indicação com Chicago, Tóquio e Madri. Apesar de sua inegável beleza natural, isso não basta para ser a sede de um dos mais importantes eventos mundiais. A paisagem carioca não consegue esconder as mazelas da cidade.

As gritantes distorções sociais, a falta de infraestrutura urbana elementar, a violência urbana, os maus-tratos ao meio ambiente, a inexistência de mentalidade olímpica e a experiência negativa do Panamericano de 2007 são alguns fatores que deixam o Rio muito distante dos rigorosos quesitos impostos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

A segurança no Rio de Janeiro é outro fator preocupante. Pelos dados da Secretaria de Segurança Pública, em 2009 houve 2.759 assassinatos no Estado, 12,3% a mais do que os ocorridos no mesmo período em 2008. Isso sem contar outros tipos de crime que viraram banais, como os furtos e pequenos roubos.

E, como se não bastasse sermos o país mais pobre entre os candidatos, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) apresentou a proposta mais cara. Enquanto o Brasil não for, a exemplo das demais candidatas, medalha de ouro em saúde, educação, transporte, moradia, meio ambiente, segurança, alimentação, luz elétrica e esportes para todos, gastar tanto dinheiro em Jogos Olímpicos seria um ato de violência contra o povo mais pobre.

Antes de fazer jorrar dinheiro público para construção de "elefantes brancos", como houve no caso do Panamericano, o Brasil precisa melhorar seus índices sociais. Essa ideia de que os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro transformarão o Brasil em potência é equivocada. O caminho é justamente o inverso. Temos que, antes, ser socialmente grandes e justos para só então pensar em Olimpíadas.

Sediar uma Olimpíada pode ter sido uma grande glória no passado, mas tem se tornado um fardo político e econômico que cada vez menos cidades estão dispostas a carregar.

Quantias exorbitantes de dinheiro que desaparecem dos olhos da população. Ao fim de um evento desse porte, como as Olimpíadas - apos todos esses problemas que não podem deixar de serem discutidos - como será a situação do Estado do Rio de Janeiro, que desde agora já se encontra atolado de dividas? A pergunta é: O Estado do Rio de Janeiro, realmente tem condições de sediar um evento dessa amplitude?

É possível, que com toda essa situação preocupante e alarmante exista mesmo algum legado olímpico?

Sediar um megaevento surge então como um “trunfo” nessa acirrada competição por espaço no mercado. Além de aquecer a economia, esses eventos em escala mundial trazem a oportunidade de aceleradas intervenções urbanas (recuperação de áreas degradadas, melhoria da estrutura viária e do transporte público, aumento da oferta de emprego e etc.) oferecendo assim grandes benefícios para aqueles que usufruem da cidade que foi escolhida para sediá- los, o chamado legado social. 

A questão principal suscitada com o anúncio e, principalmente, com a realização da Copa do Mundo nesse ano, foi qual seria esse real legado tão anunciado para a população, que manifestou a sua insatisfação com os altos custos do evento aos cofres públicos. Levando milhares de brasileiros a se perguntarem “Copa e Olimpíadas para quem e para quê?”.

O Brasil foi o retrato do desbravador, do aventureiro, em sua candidatura para sediar os jogos Olímpicos em 2016, provando que esse negócio de que não poderia ganhar o direito de abrigar tamanho evento era uma lenda. 

Através de um presidente pop, de uma comitiva exageradamente emocionada e com apresentações louváveis, com um filme do cineasta Fernando Meirelles, esteticamente perfeito, o País implodiu o mito. Entretanto, esse feito não pode ofuscar o nosso senso crítico e que o entusiasmo não entorpeça a realidade do país.

Devo informá-los que sou carioca e desde já insisto que a Olimpíada não pertence ao Rio, mas a todo o Brasil. A vitória é de todos, tal qual as derrotas possíveis. Minha crítica não é destinada só ao Rio, mas ao País, pois, diante das mazelas que permeiam esta nação, sinto-me muito à vontade em adotar postura opositora à celebração do evento. Minhas opiniões são de um cidadão indignado com as falcatruas relacionadas ao fato.












BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blogs "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.



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