Há uma tensão diante do crescimento do PRB. A Igreja Universal do Reino de Deus, ligada ao partido, vem comprando horários em outras emissoras, não só na Record, encarecendo-os, fazendo uma gentrificação do espaço público.
Muitas lideranças da Assembleia de Deus e outras denominações veem com apreensão o crescimento de uma corrente que não lhes representa e é avassaladora em termos econômicos e de ocupação do espaço público.
Mas, por outro lado, desde pelo menos 2014, há um investimento de importantes lideranças evangélicas em torno de unidade para ocupação dos Executivos. No Legislativo, é mais fácil, você fala para um núcleo. Para o Executivo, tem de conciliar a fala para a base religiosa com a fala para a sociedade em geral.
A imunidade tributária dessas igrejas evangélicas deveria passar por controle da Receita Federal, com controle dos fluxos de dinheiro e só aquilo que fosse comprovadamente arrecadação de doações seria isento. Deve haver muita lavagem de dinheiro nesse meio. Sonegações de empresas que "viram" doações anônimas e vão abastecer campanhas políticas.
O crescimento do PRB, partido ligado à Igreja Universal, porém, causa tensão entre outras denominações, que se veem ameaçadas por seu poderio político e econômico.
Os resultados municipais de 2016 evidenciam uma mudança na estratégia, eles adotaram um jogo de visibilidade e ocultação da identidade evangélica dos candidatos. Crivella não se registrou na Justiça como bispo Crivella, diferente do que fez o pastor Everaldo [candidato presidencial do PSC em 2014], que, no registro, já ativou o lugar dele na hierarquia religiosa.
Em uma candidatura majoritária, não se pode ter referência apenas em uma base, você tem de falar para um público mais geral. E aí eles ativam elementos que não são evidentemente religiosos, como a forte inclinação para falar do cuidado com as pessoas, da atenção, e motivação da individualidade.
Em 2011, Marcello Crivella disse que Lula ajudou a Universal a se expandir dentro e fora do Brasil. Além disso, dirigentes do PSDB o apoiaram no segundo turno. Os evangélicos estão na política há muitos anos, tiveram papel importante na Constituinte e foram ganhando espaço desde então. Mas, a partir do primeiro mandato do ex-presidente Lula, os evangélicos que, de modo geral, apresentavam-se como minoria em termos percentuais e mesmo do seu lugar na agenda pública, crescem. Coincidência ou não, em 2003, a frente parlamentar evangélica passa por uma reestruturação. Os partidos e todo candidato têm interesse em números de massa. E as organizações religiosas são em estatística de associativismo das poucas que continuam crescendo.
O pastor Everaldo falou claramente na estratégia de assumir a 'cabeça', falou exatamente a palavra 'cabeça', em uma referência à importância da ocupação da Presidência, que é por onde passa a indicação para o Supremo Tribunal Federal.
A gente acompanha o crescimento de mobilização de juízes evangélicos ou sensíveis à causa evangélica na Associação de Juristas Evangélicos, que se espelha na Associação de Juristas Católicos, da qual Ives Gandra Martins é o grande representante.
Desde pelo menos 2006, o Judiciário tem sido o Poder que vinha possibilitando a garantia de direitos de algumas minorias, direitos esses ameaçados, digamos assim, pelo comportamento legislativo. Os evangélicos falam de uma judicialização da política e eles estavam se organizando para combatê-la.
A escolha de quadros na igreja para serem lançados passa por escolher pastores que têm importante representação na denominação, têm carisma. Outras vezes, as escolhas são feitas por relações familiares entre a liderança religiosa e o nome proposto, como no caso do Crivella, sobrinho de Edir Macedo, fundador da Universal.
O partido tem um projeto de poder maior que não se sustenta só em torno da religião. Então, a legenda escolhe candidatos com carisma, ampla visibilidade na sociedade, para angariar votos.
As concessões de evangélicos nas negociações políticas passam a ter pragmatismo, porque o universo politico demanda aliança, negociação com diferentes segmentos. E aí não dá para ser uma coisa só intrarreligiosa.
Mesmo esses religiosos no Congresso Nacional não representam todos os evangélicos no Brasil em todas as pautas. Na questão do aborto e LGBT, sim, há correspondência. Mas na pauta da arma e da pena de morte, há enorme descompasso, segundo o Datafolha. Os religiosos no Congresso são mais conservadores. Eles têm interesses para muito além do universo religioso, propriamente, passam por interesses pessoais e partidários.
Os evangélicos no Brasil são, em geral, contra a pena de morte, contra a ampliação do armamento e contra o Estado liberal, defendem o Estado protetor. Enquanto a maior parte dos políticos religiosos no Congresso é a favor do liberalismo. Tem um descompasso aí.
O crescimento do PRB, partido ligado à Igreja Universal, porém, causa tensão entre outras denominações, que se veem ameaçadas por seu poderio político e econômico.
Os resultados municipais de 2016 evidenciam uma mudança na estratégia, eles adotaram um jogo de visibilidade e ocultação da identidade evangélica dos candidatos. Crivella não se registrou na Justiça como bispo Crivella, diferente do que fez o pastor Everaldo [candidato presidencial do PSC em 2014], que, no registro, já ativou o lugar dele na hierarquia religiosa.
Em uma candidatura majoritária, não se pode ter referência apenas em uma base, você tem de falar para um público mais geral. E aí eles ativam elementos que não são evidentemente religiosos, como a forte inclinação para falar do cuidado com as pessoas, da atenção, e motivação da individualidade.
Em 2011, Marcello Crivella disse que Lula ajudou a Universal a se expandir dentro e fora do Brasil. Além disso, dirigentes do PSDB o apoiaram no segundo turno. Os evangélicos estão na política há muitos anos, tiveram papel importante na Constituinte e foram ganhando espaço desde então. Mas, a partir do primeiro mandato do ex-presidente Lula, os evangélicos que, de modo geral, apresentavam-se como minoria em termos percentuais e mesmo do seu lugar na agenda pública, crescem. Coincidência ou não, em 2003, a frente parlamentar evangélica passa por uma reestruturação. Os partidos e todo candidato têm interesse em números de massa. E as organizações religiosas são em estatística de associativismo das poucas que continuam crescendo.
O pastor Everaldo falou claramente na estratégia de assumir a 'cabeça', falou exatamente a palavra 'cabeça', em uma referência à importância da ocupação da Presidência, que é por onde passa a indicação para o Supremo Tribunal Federal.
A gente acompanha o crescimento de mobilização de juízes evangélicos ou sensíveis à causa evangélica na Associação de Juristas Evangélicos, que se espelha na Associação de Juristas Católicos, da qual Ives Gandra Martins é o grande representante.
Desde pelo menos 2006, o Judiciário tem sido o Poder que vinha possibilitando a garantia de direitos de algumas minorias, direitos esses ameaçados, digamos assim, pelo comportamento legislativo. Os evangélicos falam de uma judicialização da política e eles estavam se organizando para combatê-la.
A escolha de quadros na igreja para serem lançados passa por escolher pastores que têm importante representação na denominação, têm carisma. Outras vezes, as escolhas são feitas por relações familiares entre a liderança religiosa e o nome proposto, como no caso do Crivella, sobrinho de Edir Macedo, fundador da Universal.
O partido tem um projeto de poder maior que não se sustenta só em torno da religião. Então, a legenda escolhe candidatos com carisma, ampla visibilidade na sociedade, para angariar votos.
As concessões de evangélicos nas negociações políticas passam a ter pragmatismo, porque o universo politico demanda aliança, negociação com diferentes segmentos. E aí não dá para ser uma coisa só intrarreligiosa.
Mesmo esses religiosos no Congresso Nacional não representam todos os evangélicos no Brasil em todas as pautas. Na questão do aborto e LGBT, sim, há correspondência. Mas na pauta da arma e da pena de morte, há enorme descompasso, segundo o Datafolha. Os religiosos no Congresso são mais conservadores. Eles têm interesses para muito além do universo religioso, propriamente, passam por interesses pessoais e partidários.
Os evangélicos no Brasil são, em geral, contra a pena de morte, contra a ampliação do armamento e contra o Estado liberal, defendem o Estado protetor. Enquanto a maior parte dos políticos religiosos no Congresso é a favor do liberalismo. Tem um descompasso aí.
A eleição de Marcelo Crivella é um marco na ascensão dos pastores evangélicos na política brasileira.
Bispo da Igreja Universal, fundada pelo seu tio Edir Macedo, o senador comandará a Prefeitura do Rio, segunda maior cidade do país.
Sua vitória deve abrir uma nova trincheira para a atuação das igrejas neopentecostais, que concentram esforços na eleição de parlamentares desde a década de 1990.
Embora Crivella afirme não misturar política com religião, sua gestão será vista como laboratório de um plano maior. Há cinco anos, ele afirmou a uma plateia de pastores que só virou candidato por ordem da Universal.
Crivella é branco, tem nível superior e se articula melhor que a média dos pastores. Ao mesmo tempo, investiu muito na imagem de conciliador, o que o ajudou a atrair eleitores católicos.
"Os evangélicos ainda vão eleger um presidente da República, que vai trabalhar por nós e nossas igrejas", disse, na ocasião. O orçamento da prefeitura, que o bispo assumirá em janeiro, gira em torno de R$ 30 bilhões anuais.
Fonte: pesquisadora Christina Vital, da Universidade Federal Fluminense.
"Os evangélicos ainda vão eleger um presidente da República, que vai trabalhar por nós e nossas igrejas", disse, na ocasião. O orçamento da prefeitura, que o bispo assumirá em janeiro, gira em torno de R$ 30 bilhões anuais.
Escrito pelo mais bem-sucedido pastor neopentecostal do Brasil, o bispo Edir Macedo. Para não me acusarem de falta de leitura ou de respeito, procuro ler de tudo e continuo estudando aqui para tentar entender até onde esses líderes evangélicos pretendem tirar a minha paz.
Trago péssimas novidades. O plano é organizado, como vemos já em curso avançado, e claro. O mais esquisito é que ele praticamente confirma todos os vídeos onde vemos pastores arrancando dinheiro de fiéis e incitando o voto. Ele diz que é assim mesmo que tem que ser feito e justifica.
Logo de início, Macedo escreve: ‘Vamos nos aprofundar, através desta leitura, no conhecimento de um grande projeto de nação elaborado e pretendido pelo próprio Deus e descobrir qual é a nossa responsabilidade neste processo."
E diz Macedo que Deus teve como pretensão a formação de uma grande nação:
"Desde o início de tudo Ele nos esclarece de sua intenção de estadista e de formação de uma grande nação."
Macedo fala diretamente com os 40 milhões de cristãos brasileiros, ou melhor, os evangélicos, pois somente estes ele considera cristãos, para verem a bíblia não apenas como um livro religioso, mas também como uma espécie de ‘manual’ de ação política, escrito pelo maior dos estadistas: Deus.
"Insistimos em que a potencialidade numérica dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito eletivo, tanto no Legislativo quanto no Executivo, em qualquer que seja o escalão, municipal, estadual ou federal. Mas essa potencialidade depende de cultura cívica, conscientização, engajamento e mobilização".
Não há capítulo ou página em que ele não estimule e praticamente exija a participação política dos evangélicos:
"Os cristãos não devem apenas discutir, mas principalmente participar de modo a colaborar para a desenvoltura de uma boa política nacional e sobretudo com o projeto de nação idealizado por Deus para o Seu povo".
Não basta votar, tem que convencer aos demais sobre os valores de Deus para que façam uma nação com Seus valores (sic):
"É preciso haver clareza quanto ao fato de que, quando abordamos o tema política, estamos falando de algo complexo e que não se resume a uma ou outra ação sim de ações contínuas."
As promessas de quem fizer o que o mestre mandar permeiam o livro de capa à capa:
"Os resultados da fé, por exemplo, são provenientes de ações inteligentes e mútuas: o ser humano faz a sua parte e Deus cumpre a d´Ele".
Seguem-se a esses trechos orientações práticas de como os ‘cristãos’ devem proceder para eleger os seus, isto é, os representantes de Deus e Macedo ainda coloca medo caso eles ouçam quem pense diferente:
"Não é difícil imaginarmos quantos cristãos podem ter sido captados por técnicas de comunicação e marketing e persuadidos a votar em causas diferentes das suas".
A comparação dos hebreus, sob o governo do faraó do Egito, com os ‘cristãos’ brasileiros, à espera de um ‘libertador’, um novo Moisés, perpassa todo o livro. Eu até ganhei cultura, confesso. Já li o Velho Testamento mas não me lembrava de várias passagens que ele sempre cita:
"Até porque temos percebido, por parte da sociedade, que ser evangélico no Brasil ainda é como ser estrangeiro no Egito nos dias do Faraó."
Um dos capítulos, o que mais me chocou, é dedicado ao ‘agente apropriado’ para assumir o poder e que isso seria o "início do grande intuito divino". Macedo vê a si próprio e seus indicados - e não faz a menor questão de disfarçar - como os "agentes apropriados" para serem o "Moisés" brasileiro.
O plano está claro:
“Somente quando todos ou a maioria dos que a seguem estiverem convictos de que ela é a Palavra de Deus, então ocorrerá a realização do grande sonho Divino”, conclui Macedo colocando-se como canal da realização do “grande sonho Divino”, que é o estabelecimento do Brasil como nação “evangélica”.
Se for estudar um pouco mais e sair comparando discursos, não vamos demorar nada e encontrarmos paralelos com diversos movimentos destrutivos dos EUA e Europa.
O livro afirma categoricamente que os pastores atuam como canais de comunicação de Deus e dão forte ênfase, claro, ao crescimento financeiro de todos os que dela participarem sinal, diz ele, da retribuição divina.
E nem vamos falar dos inúmeros vídeos que temos de pastores arrancando dinheiro dos fiéis que mostram que é assim mesmo na prática. Os pastores seguem o líder maior. E há vídeos mostrando Edir Macedo ensinando pastores como fazer isso de forma funcional.
Olha, eu peço para que os próprios evangélicos leiam isso. Se ainda assim, continuarem seguindo e dando dinheiro para esse cara, pelo menos não será mais de forma tão ingênua assim. Será um trouxa, mas consciente de que está sendo manipulado e poderá esclarecer, assim como eu agora consigo, como a estratégia é bem traçada e funciona para os que não se importam de serem usados.
Se há evangélicos que não compactuam esse comportamento, desconsidere essa postagem. Não é nada pessoal e acho que dá para entender isso. Se me manifesto é porque estou sentindo minha vida invadida por valores e leis impostas por esse tipo de gente.
Falo somente em cima do que leio, vejo e com as pessoas ditas cristãs com as quais interajo. Se quiserem que eu veja algo que não esteja vendo, mostrem-me, por favor.
Está tudo aí por ora sobre esse livro e o Plano de Edir Macedo. Gostaria eu de ter inventado alguma coisa.
O medo de Cuba nos levará ao Irã
1 – O projeto de poder da Igreja Universal foi anunciado há duas décadas em um livro escrito por Edir Macedo e Carlos Oliveira. O título é auto-explicativo: "Planos de Poder". Onde estavam os defensores do estado laico nessa época?
2 – Há três décadas a Universal vem formando sua própria milícia, chamada de "Gladiadores do Altar". Os registros policiais indicam que a igreja é a maior compradora não estatal de armas automáticas do Brasil. Quem fiscaliza os gladiadores?
3 – A bancada da bala vota junto com a bancada do boi e da bíblia no congresso. Juntos, os deputados dessas três bancadas têm maioria no congresso. Quem irá detê-los?
4 – Hoje, na Folha de S. Paulo, há uma entrevista com a pesquisadora Christina Vital, da UFF, que há 15 anos investiga a relação de evangélicos com a política. Entre as suas conclusões está a de que, por trás da intenção de assumir a presidência da república, está um objetivo maior: indicar ministros do STF para barrar pautas das minorias e impor sua própria agenda religiosa. Isso vai significar o fim do estado laico?
5 – A pergunta quatro pode ser respondida pelas três anteriores. O dado novo é a eleição de Crivella ontem. Ele foi escolhido pelo tio, líder máximo da Universal, para ser o braço político do grupo. Conseguirá chegar à presidência da república?
6 – O discurso do antipetismo colou na sociedade e, junto com ele, trouxe o discurso anti-esquerda, como se todas as forças progressistas fossem iguais. Boa parte dos brasileiros foi convencida de que, em pleno ano de 2016, há comunistas planejando a invasão do país a partir da Venezuela e de Cuba. O discurso é bizarro, mas serve perfeitamente aos propósitos políticos da Universal, que se apresenta como a salvação dos valores tradicionais e a encarnação do antipetismo. Conseguiremos reverter esse raciocínio tosco ou o medo de Cuba pode nos transformar numa república teocrática, como o Irã?
7 – Vamos orar ou agir?
BIO
Thiago Muniz é colunista do blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor, do blog Eliane de Lacerda e do blog do Drummond. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.
Nenhum comentário:
Postar um comentário