Em especial neste período de grandes eventos, como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, o assunto tem sido debatido, mas certamente menos do que mereceria em um país verdadeiramente preocupado com seu futuro.
O escritor francês Frédéric Bastiat (1801-1850) nos explica de forma didática esta dicotomia. No clássico “O que se vê e o que não se vê”, Bastiat traz uma anedota de uma criança que quebra a vidraça de uma loja, causando a consternação do seu proprietário.
Ato contínuo, temos a chegada de um estranho bem intencionado que anuncia que a destruição da vidraça deveria ser vista como um bem para a sociedade, dado o fato de que o proprietário da loja teria que contratar um vidraceiro; e este, por sua vez, gastaria esse dinheiro, digamos, na padaria; e o padeiro pagaria seus funcionários que disporiam de mais dinheiro para consumir algum bem ou serviço que fosse de seu interesse.
A conclusão é de que, logo, o dinheiro gasto pelo proprietário da loja em uma nova vidraça viria a movimentar toda a economia da cidade. O moleque travesso deveria, portanto, ser aplaudido, e não castigado.
Mas é lógico que há um grave equívoco nessa história. Estamos vendo o dinheiro gasto com a nova vidraça, que certamente beneficiou o vidraceiro. Afinal este ganhou inesperadamente um novo cliente. Talvez até pela urgência em ter sua vidraça de volta, o proprietário da loja tenha tido que pagar mais caro do que normalmente o faria. Esse dinheiro pago ao vidraceiro é o que se vê.
Mas é lógico que há um grave equívoco nessa história. Estamos vendo o dinheiro gasto com a nova vidraça, que certamente beneficiou o vidraceiro. Afinal este ganhou inesperadamente um novo cliente. Talvez até pela urgência em ter sua vidraça de volta, o proprietário da loja tenha tido que pagar mais caro do que normalmente o faria. Esse dinheiro pago ao vidraceiro é o que se vê.
O que não se vê são todas as diversas possibilidades não concretizadas que ainda estariam vivas se o lojista não tivesse sido forçado por força das circunstâncias a gastar dinheiro para ter basicamente o mesmo bem-estar.
Com o dinheiro gasto com uma nova vidraça ele poderia, por exemplo, ter adquirido um novo paletó, feito as compras do mês no supermercado, comprado remédios para sua mãe doente, e até pago a mensalidade do colégio de seu filho – atrasada há alguns meses.
É óbvio que qualquer pessoa e qualquer sociedade sempre vai preferir “ter mais” a que “ter menos”.
Em relação a Copa do Mundo e Olimpíadas, ao custo de mais de 100 bilhões de reais, o Brasil ganhou diversos estádios e arenas esportivas de última geração.
Com o dinheiro gasto com uma nova vidraça ele poderia, por exemplo, ter adquirido um novo paletó, feito as compras do mês no supermercado, comprado remédios para sua mãe doente, e até pago a mensalidade do colégio de seu filho – atrasada há alguns meses.
É óbvio que qualquer pessoa e qualquer sociedade sempre vai preferir “ter mais” a que “ter menos”.
Em relação a Copa do Mundo e Olimpíadas, ao custo de mais de 100 bilhões de reais, o Brasil ganhou diversos estádios e arenas esportivas de última geração.
Mas esta é apenas uma parte da questão: o que se vê. Por outro lado, a alocação de recursos públicos escassos em empreendimentos com retorno público incerto deixaram em aberto uma série infindável de possibilidades que não puderam se tornar realidade porque, bem, os recursos são escassos. É o que não se vê.
Dada a falta de debates em torno do orçamento público e da própria função do Estado na nossa sociedade faz-se necessário reiterar: os mais de 100 bilhões investidos para viabilizar estes grandes eventos em nosso país fazem e farão uma falta tremenda no dia a dia dos brasileiros.
Dada a falta de debates em torno do orçamento público e da própria função do Estado na nossa sociedade faz-se necessário reiterar: os mais de 100 bilhões investidos para viabilizar estes grandes eventos em nosso país fazem e farão uma falta tremenda no dia a dia dos brasileiros.
Para se ter uma ideia, este valor é pouco menos do que todo o orçamento da saúde no Brasil para o ano de 2016. O que não se vê, portanto, são as milhares de vidas que poderiam ser salvas com um investimento adequado em setores mais prioritários do que a construção de estádios e arenas.
Não por acaso, Bastiat chamava a atenção para o que ele considerava a diferença entre um bom e um mau economista: um se detém apenas no efeito que se vê; o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto a diversas possibilidades que não podemos prever de pronto. O mesmo vale para o bom e, especialmente, o mau gestor público.
O COI detém em suas mãos o maior evento do planeta. Nada supera o interesse midiático dos Jogos Olímpicos de Verão. Quando um país decide se candidatar e posteriormente ser o anfitrião do megaevento, uma série de exigências são requeridas.
Muitos países desenvolvidos já desistiram de candidaturas olímpicas em função das pesadas exigências do COI. Inclusive muito se discute sobre como criar legados olímpicos, com tamanhos gastos e altos demais até para países muito ricos.
Os poucos exemplos de sucesso efetivo dos Jogos Olímpicos – como o caso de Barcelona 92, o mais famoso deles – trabalharam com pré requisitos estratégicos para atingir sua alta performance.
A equação é para lá de complexa: Equilíbrio nas fontes de financiamento, entre o setor público e a iniciativa privada e sua correta alocação dos recursos. Barcelona, por exemplo, teve 40% dos recursos públicos. 40% de empresas e 20% do fundo olímpico. O investimento, a valores de hoje, foi de incríveis 17 bilhões de euros.
O retorno para a economia da cidade foi quase 3 vezes esse valor,especialmente com a indução de diferentes setores da economia, profunda reestruturação da infraestrutura da cidade, especialmente a turística.
Não por acaso, Bastiat chamava a atenção para o que ele considerava a diferença entre um bom e um mau economista: um se detém apenas no efeito que se vê; o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto a diversas possibilidades que não podemos prever de pronto. O mesmo vale para o bom e, especialmente, o mau gestor público.
O COI detém em suas mãos o maior evento do planeta. Nada supera o interesse midiático dos Jogos Olímpicos de Verão. Quando um país decide se candidatar e posteriormente ser o anfitrião do megaevento, uma série de exigências são requeridas.
Muitos países desenvolvidos já desistiram de candidaturas olímpicas em função das pesadas exigências do COI. Inclusive muito se discute sobre como criar legados olímpicos, com tamanhos gastos e altos demais até para países muito ricos.
Os poucos exemplos de sucesso efetivo dos Jogos Olímpicos – como o caso de Barcelona 92, o mais famoso deles – trabalharam com pré requisitos estratégicos para atingir sua alta performance.
A equação é para lá de complexa: Equilíbrio nas fontes de financiamento, entre o setor público e a iniciativa privada e sua correta alocação dos recursos. Barcelona, por exemplo, teve 40% dos recursos públicos. 40% de empresas e 20% do fundo olímpico. O investimento, a valores de hoje, foi de incríveis 17 bilhões de euros.
O retorno para a economia da cidade foi quase 3 vezes esse valor,especialmente com a indução de diferentes setores da economia, profunda reestruturação da infraestrutura da cidade, especialmente a turística.
A cidade se transformou completamente e se posicionou definitivamente com um dos mais importantes destinos turísticos da Europa. Sua economia cada vez mais depende do turismo. Sem os Jogos jamais teria alcançado tal patamar.
Barcelona, assim como Sidney, Pequim e Londres aplicaram conceitos sólidos para retornar em muito seu pesado investimento. Mas até hoje nenhuma outra cidade atingiu o retorno da capital da Catalunha.
Brasil decidiu que iria embarcar em um arriscado jogo, sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.
A conta, todos sabiam que seria salgada, algo bem superior aos R$ 55 bilhões.
Políticos, dirigentes esportivos e até parte da imprensa entraram na ilusão criada que precisávamos e merecíamos tal relevância.
Sediar grandes eventos seguidos exigem um projeto sério, profissional, altamente orientado para a inteligência da utilização dos recursos públicos, participação ativa da iniciativa privada, aplicação do conceito de efeito multiplicador dos investimentos e o mais importante, o legado.
As mudanças por conta dos grandes eventos podem mudar positivamente uma cidade e um país ou afundá-lo. Infelizmente a irresponsabilidade, superfuramento de obras, corrupção e nenhum respeito aos recursos públicos simplesmente não existiram no Brasil.
Sim, essa palavra tão facilmente utilizada na boca de políticos simplesmente virou uma ilusão no projeto brasileiro, tanto da Copa como dos Jogos Olímpicos. Infelizmente estamos mais parecidos com a África do Sul do que Alemanha no quesito Copa do Mundo e somos uma Grécia e não Barcelona em termos de Jogos Olímpicos.
Ainda que os turistas venham ao RJ e impactem positivamente o PiB, será uma gota em um oceano de gastos absurdos e falta de um mínimo de planejamento. Para piorar temos notícias graves dos problemas brasileiros . Um exemplo, como os estrangeiros assistiram pela TV em todo o mundo a queda da ciclovia da Niemeyer.
O conceito de impacto econômico de megaeventos deve sempre considerar seu impacto líquido. Isso significa calcular o impacto positivo dos novos turistas que vieram para o evento menos os que viriam mas deixaram de ir.
Londres, por exemplo, sofreu muito com a perda de turistas que não se interessaram em ir à cidade em meio aos Jogos. Houve ganhos de um lado e perdas do outro.
Os Jogos do Rio, infelizmente, além do pequeno impacto econômico, teremos assim como ocorreu com a Copa, uma série de elefantes brancos num país que além de estar longe de ser olímpico tem uma população cada dia mais obesa e sedentária, déficits nas contas públicas e uma salgada conta para pagar por todos os brasileiros, sem nenhuma possibilidade de retorno no longo prazo para o país.
Realmente está tudo errado.
Durante a Copa de 2014, nossos geniais governantes decidiram decretar feriados para amenizar sua incapacidade de fazer funcionar as cidades durante os jogos.Essa decisão irresponsável e desconectada da realidade de um país com uma economia tão pujante decretou o fim da ilusão criada pelos governantes.
Para que muitas grandes metrópoles funcionassem durante o evento foram decretados feriados. Segundo o estudo da Fecomercio (Federação do Comércio de São Paulo), o cálculo do real impacto dessa irresponsabilidade foi de R$ 30 bilhões na economia e outros R$ 40 bilhões em aumento dos custos de empregados, com horas extras.
Sim, conseguiram gastar o mesmo que duas Copas do Mundo do Brasil em perdas para a economia. O país decretou o início de seu pesadelo econômico recessivo e inflacionário com a Copa.
E com o Rio de Janeiro vivendo a maior crise em seus 451 anos de vida parece que a história se repetirá.
A solução encontrada pelos governantes fluminenses foi decretar estado de calamidade pública.
Já, o Comitê Olímpico Brasileiro, que draga milhões de recursos públicos há anos, decidiu sem alarde importar atletas de outras nacionalidades para tentar melhorar o desempenho do país no quadro de medalhas.
Como se o problema fossem as medalhas.
Sejam bem-vindos ao Brasil. Um país onde a crise berra, a corrupção faz história e nós os otários somos os responsáveis em pagar pelos erros de nossos governantes.
Pra quê indignar-se com a qualidade dos nossos recursos mais básicos sendo que temos um evento internacional a sediar?
Afinal, somos alienados e gostamos de carnaval, esportes, sacanagem e tomar conta da vida dos participantes dos reality shows. Reclamar da alta carga tributária (pasmem, trabalhamos cinco meses no ano para pagar apenas impostos) é bobagem.
Barcelona, assim como Sidney, Pequim e Londres aplicaram conceitos sólidos para retornar em muito seu pesado investimento. Mas até hoje nenhuma outra cidade atingiu o retorno da capital da Catalunha.
Brasil decidiu que iria embarcar em um arriscado jogo, sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.
A conta, todos sabiam que seria salgada, algo bem superior aos R$ 55 bilhões.
Políticos, dirigentes esportivos e até parte da imprensa entraram na ilusão criada que precisávamos e merecíamos tal relevância.
Sediar grandes eventos seguidos exigem um projeto sério, profissional, altamente orientado para a inteligência da utilização dos recursos públicos, participação ativa da iniciativa privada, aplicação do conceito de efeito multiplicador dos investimentos e o mais importante, o legado.
As mudanças por conta dos grandes eventos podem mudar positivamente uma cidade e um país ou afundá-lo. Infelizmente a irresponsabilidade, superfuramento de obras, corrupção e nenhum respeito aos recursos públicos simplesmente não existiram no Brasil.
Sim, essa palavra tão facilmente utilizada na boca de políticos simplesmente virou uma ilusão no projeto brasileiro, tanto da Copa como dos Jogos Olímpicos. Infelizmente estamos mais parecidos com a África do Sul do que Alemanha no quesito Copa do Mundo e somos uma Grécia e não Barcelona em termos de Jogos Olímpicos.
Ainda que os turistas venham ao RJ e impactem positivamente o PiB, será uma gota em um oceano de gastos absurdos e falta de um mínimo de planejamento. Para piorar temos notícias graves dos problemas brasileiros . Um exemplo, como os estrangeiros assistiram pela TV em todo o mundo a queda da ciclovia da Niemeyer.
O conceito de impacto econômico de megaeventos deve sempre considerar seu impacto líquido. Isso significa calcular o impacto positivo dos novos turistas que vieram para o evento menos os que viriam mas deixaram de ir.
Londres, por exemplo, sofreu muito com a perda de turistas que não se interessaram em ir à cidade em meio aos Jogos. Houve ganhos de um lado e perdas do outro.
Os Jogos do Rio, infelizmente, além do pequeno impacto econômico, teremos assim como ocorreu com a Copa, uma série de elefantes brancos num país que além de estar longe de ser olímpico tem uma população cada dia mais obesa e sedentária, déficits nas contas públicas e uma salgada conta para pagar por todos os brasileiros, sem nenhuma possibilidade de retorno no longo prazo para o país.
Realmente está tudo errado.
Durante a Copa de 2014, nossos geniais governantes decidiram decretar feriados para amenizar sua incapacidade de fazer funcionar as cidades durante os jogos.Essa decisão irresponsável e desconectada da realidade de um país com uma economia tão pujante decretou o fim da ilusão criada pelos governantes.
Para que muitas grandes metrópoles funcionassem durante o evento foram decretados feriados. Segundo o estudo da Fecomercio (Federação do Comércio de São Paulo), o cálculo do real impacto dessa irresponsabilidade foi de R$ 30 bilhões na economia e outros R$ 40 bilhões em aumento dos custos de empregados, com horas extras.
Sim, conseguiram gastar o mesmo que duas Copas do Mundo do Brasil em perdas para a economia. O país decretou o início de seu pesadelo econômico recessivo e inflacionário com a Copa.
E com o Rio de Janeiro vivendo a maior crise em seus 451 anos de vida parece que a história se repetirá.
A solução encontrada pelos governantes fluminenses foi decretar estado de calamidade pública.
Já, o Comitê Olímpico Brasileiro, que draga milhões de recursos públicos há anos, decidiu sem alarde importar atletas de outras nacionalidades para tentar melhorar o desempenho do país no quadro de medalhas.
Como se o problema fossem as medalhas.
Sejam bem-vindos ao Brasil. Um país onde a crise berra, a corrupção faz história e nós os otários somos os responsáveis em pagar pelos erros de nossos governantes.
Pra quê indignar-se com a qualidade dos nossos recursos mais básicos sendo que temos um evento internacional a sediar?
Afinal, somos alienados e gostamos de carnaval, esportes, sacanagem e tomar conta da vida dos participantes dos reality shows. Reclamar da alta carga tributária (pasmem, trabalhamos cinco meses no ano para pagar apenas impostos) é bobagem.
Falhamos como nação e povo.
A tocha é “desprezível”, mas nos ensinou tanta coisa nestes últimos dois meses. Uma delas é de que ainda não somos um país olímpico, muito longe disso. Vivemos uma crise política, econômica, mas principalmente de valores. A intolerância abunda, de norte a sul, de oeste a leste, por todas as cidades em que este “maldito” fogo passou.
Privilégios para os mais ricos, remoções de muitas pessoas do seu local de moradia e militarização do espaço público" são alguns dos problemas identificados, verniz das relações públicas dos Jogos.
Aperta o Reset e vamos lá. Pobre Brasil.
A tocha é “desprezível”, mas nos ensinou tanta coisa nestes últimos dois meses. Uma delas é de que ainda não somos um país olímpico, muito longe disso. Vivemos uma crise política, econômica, mas principalmente de valores. A intolerância abunda, de norte a sul, de oeste a leste, por todas as cidades em que este “maldito” fogo passou.
Privilégios para os mais ricos, remoções de muitas pessoas do seu local de moradia e militarização do espaço público" são alguns dos problemas identificados, verniz das relações públicas dos Jogos.
Aperta o Reset e vamos lá. Pobre Brasil.
BIO
Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blogs "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.
Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blogs "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.
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