segunda-feira, 11 de julho de 2016

É proibido fazer sucesso no Brasil (Por Thiago Muniz)

No Brasil, o pior que pode acontecer a muita gente é fazer sucesso. Isso se aplica aos esportistas, artistas, políticos e a quem mais quiser sepultar nosso bom e velho “complexo de vira-latas”.

Tom Jobim quem disse: “No Brasil, sucesso é ofensa pessoal”. 

Aqui basta fazer sucesso que todo mundo cai de pau, principalmente a crítica especializada. Repare, quando alguém é bem sucedido, ou é ladrão; ou é corrupto; ou deu pra alguém; ou comeu alguém; ou é viado. Ou tudo isso junto.

A verdade é que, num país onde a incompetência graça, muitas vezes, os exemplos de sucesso pontuais, ao invés de funcionarem como uma espécie mola propulsora, inspirando outros a fazerem o mesmo; tem o efeito incômodo de ressaltar a inépcia alheia, de lhe apontar o dedo é dizer na sua cara:

- Viu, ele conseguiu! Por que você não consegue, seu bosta?

Se todos estivessem na merda juntos, poderiam simplesmente culpar a fatalidade pela situação; ou o governo; ou o efeito estufa; ou os grandes cartéis; ou a mídia; ou o Hugo Chaves; ou a Xuxa; ou o seu chefe. 

Como um e-mail que circulou há tempos na internet, quando alguma coisa dá errado, é bem mais fácil e prudente encontrar logo em quem colocar a culpa.

No fracasso, todos são solidários. Por isso, sempre que acontece uma tragédia dessas que mobilizam o país, quando as pessoas enchem a boca para ressaltar a solidariedade do brasileiro, eu ponho as minhas barbas de molho. 

De fato somos tão bonzinhos? 

Ou este é simplesmente um exemplo de solidariedade no fracasso, como se o povo dissesse:

- "Que bom que você tá na merda. E fico ainda mais feliz por você estar pior do que eu. Por isso eu vou te ajudar, me faz sentir superior, ao menos uma vez na vida. E vamos combinar? A gente promete que ninguém aqui vai se dar bem, a não ser roubando, aí, tudo bem. Ficar rico roubando a gente entende. Pelo menos, se continuar fudido posso dizer que é porque eu sou honesto. Mas ser bem sucedido fazendo alguma coisa honestamente, aí, não, aí é esfregar na minha cara a minha incompetência".

É, o sucesso incomoda. E, no fundo, eu desconfio é que o brasileiro seja mais um sádico invejoso, que solidário. 

Porque as pessoas adoram dar esmola nesses momentos de comoção nacional. Mas logo depois, a maioria esquece o que aconteceu, ninguém se mobiliza e quando acontece de novo a culpa é só do governo. 

E aí, eu posso dar esmolas de novo e dormir tranquilo porque eu fiz a minha parte.

Talvez seja por isso que eu tenha uma profunda preguiça com o teatro underground. Sei que ele tem um propósito: permitir o surgimento de novos talentos, experimentações de linguagem com produções de baixo custo, e um monte de peças que a gente preferia nunca ter visto. 

Mas o que dizer dos profissionais do underground? 

Aqueles que nascem, crescem e envelhecem fazendo o chamado teatro alternativo; que se orgulham de serem desconhecidos, ou conhecidos por poucos; que fazem do teatro alternativo uma bandeira, como um fim nele mesmo; que cospem e maldizem qualquer produção bem sucedida por não passar de teatro comercial? 

No fundo, toda essa atitude não será somente covardia, medo de tentar alcançar um público maior e fracassar? 

E o ódio pelas peças ditas comerciais apenas inveja porque eles conseguiram e você não?








BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blogs "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.




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