sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Brasil: a terra dos Aspones (Por Thiago Muniz)

Aspone refere-se àquele tipo de pessoa que faz parte do quadro de funcionários de uma empresa ou repartição pública, mas na verdade não tem função alguma.

É um ASsessor de POrra NEnhuma. Um puxa saco. Um dedo duro. Um babão.

Sua origem:

O escritor Ruy Castro afirma que o termo foi criado pelo colega de Walter Clark (1936-1997) na Rede Globo, Ronald de Chevalier (1936-1983) - conhecido por Roniquito. Quando a emissora passou a fazer sucesso e a não mais depender da ajuda de ambos, teria sido dito que Roniquito tinha por única utilidade beber uísque com Clark, e que ao ser perguntado sobre o que fazia na Rede Globo, teria dito: Sou aspone. As-po-ne. Assessor de ***** nenhuma.

Tanto os gabinetes de governadores, ou vices! ou de outros cargos políticos estão cheio de aspones, assessores de porra nenhuma...e o que é pior,todos os novos que assumem diz que vão acabar, ou diminuir drasticamente este "cargo",e também não fazem porra nenhuma, e acabam por empregar seus novos cabos eleitorais (que não têm votos! por acaso,não sabem seus chefes?)...e o círculo vicioso permanece, nestas funestas sinecuras com o dinheiro público...que devia ser empregado em coisas úteis à comunidade, e não em alimentar frequentadores de barezinhos da moda da esquerda festiva ou da direita furibunda.

O carimbo é o amigo inseparável do ASPONE. Não há visão mais agradável para um chefe do que a de chegar à nossa sala e ver-nos a carimbar documentos desenfreadamente.

Nada de parar de carimbar enquanto o chefe nos dirige a palavra, meus amigos!!! Há que manter o ritmo! E aspone que é aspone “faz” tudo ao mesmo tempo. (Peço-vos desde já desculpa por ter recorrido ao verbo «fazer». Sei que é uma falha grave da minha parte mencionar algo que nos remete, involuntariamente, para a noção de devir, mas infelizmente não me ocorreu nenhum verbo aspónico aplicável à situação).

Enquanto o aspone carimba, impressiona o chefe com a sua desenvoltura e dinamismo e, assimila, simultaneamente, as directrizes superiores.

Assim o chefe volta para o seu gabinete satisfeito com o alto desempenho do seu funcionário e o aspone pode continuar com a sua tarefa carimbativa.

Mas carimbar o quê perguntam-me? Pergunta perfeitamente irrelevante. Não interessa o quê, desde que se carimbe...

O importante é carimbar ritmadamente transferindo a pilha de papeis do lado esquerdo gradualmente para o lado direito. Carimba-se ofícios, comunicações internas, faxes, papel reciclado, o post-it com o recado para não nos esquecermos de comer a maçã às 11h30, o jornal na secção das palavras cruzadas (afinal há que exercitar a mente), o recorte da revista com o resumo dos próximos capítulos da novela das 8h, o talão de levantamento do multibanco ... enfim, qualquer papel que nos passe pela secretária. Got the picture? Perfeito.

Então agarrem no telefone e mandem vir uma remessa de carimbos aspónicos.

Eu vou buscar mais papel porque a minha pilha está a acabar.

Você pode não acreditar, mas o aspone (assessor de porcaria nenhuma) é um cara que apita bastante dentro de uma empresa. O aspone não se importa de ser um poodle toy de seu chefe. E na aplicação da lei do mínimo esforço, ele se sai muito bem, obrigado. Só não chega aos mais altos cargos, porque sua natureza canina não permitiria tal coisa. Mas ao encarnar o papel de “supervisor” (de porcaria nenhuma, obviamente), o aspone torna-se um inferno na vida daqueles que colocam a mão na massa. Ao passar seu “relatório” à chefia, numa requintada apresentação de Power Point, os homens da caneta já deixam anotados os nomes que entrarão no próximo “programa de demissão voluntária”.

Para acabar com essa praga no meio corporativo e permitir que os trabalhadores trabalhem mais e melhor (ou simplesmente trabalhem), proponho duas medidas muito simples: a primeira é que, se a empresa quer medir a eficiência de seus funcionários, que instale um software que faça o controle sem se deixar contaminar por antipatias pessoais. E a segunda medida (a ser implantada em caráter de urgência) é extinguir, sem exceções, o uso de Power Point dentro da empresa — e quem usá-lo clandestinamente, será demitido por justa causa.

A própria Rede Globo apresentou um seriado em 2004, intitulado Os Aspones.

A trama fala de uma repartição pública cujo nome é "Fundo Ministerial de Documentos Obrigatórios", ou FMDO. Mas o lugar teve suas verbas cortadas "há uns dois anos", segundo uma das personagens. E sem ter o que fazer, a repartição teria concentrado suas atividades em uma das principais diversões de desocupados. As letras da sigla transformaram-se, então, em "Falar Mal dos Outros". Na verdade, os alvos dessa atividades seriam cidadãos sem princípios.

É o caso do cara que vive seguindo ambulâncias para avançar no trânsito. Gente como ele é chamada ao FMDO para ser torturada com pedidos absurdos de documentos e exigências burocráticas. Nada que não nos aconteça, sem ter seguido qualquer ambulância.

A ira dos servidores públicos é justificável. "Aspone" quer dizer "assessor de porcaria nenhuma". É aquele sujeito que ganha bem para fazer muito pouco e, geralmente, o faz de maneira mal feita. A forma como são mostrados os servidores dá a impressão de que isso acontece em todas as repartições. Gente desocupada e incompetente cuidando dos negócios públicos. O problema é que a série se baseia em coisas reais.

Não é verdade que todas as repartições e órgãos públicos sejam desse jeito. No entanto, o programa se baseia em um pedaço da realidade muito visível. O fato é que os setores da administração pública mais abandonados são aqueles que atendem diretamente a população. É só ver a situação da rede pública de saúde, educação e previdência. Uma calamidade!

E qual é a origem dessa calamidade? É o fato de que o serviço público no Brasil passou do modelo patrimonialista ao gerencial sem nem mesmo passar pelo perfil burocrático. Explico. Grosso modo, os serviços públicos até a década de 60 eram entendidos como parte do patrimônio das elites. Sua função era servir a elas, inclusive como cabide de empregos.

Depois do golpe militar, a ditadura resolveu dar ao setor público maior eficiência e começou a implantar um modelo mais profissional, mais burocrático. Isto é, com procedimentos, regras, regulamentos que evitassem principalmente o uso político-partidário da máquina governamental. Na verdade, isso foi feito tanto para varrer os restos do uso populista da máquina governamental, como para capacitá-la a servir mais adequadamente ao grande capital nacional e estrangeiro. Uma típica modernização conservadora. Mas, essa burocratização nunca foi completa.

Ao contrário, o patrimonialismo continuou dominando, devido aos vários fatores econômicos e históricos, e à cultura política do País. Com a chegada ao poder dos liberais da Nova República e dos neoliberais da dinastia dos Fernandos, os esforços foram no sentido de adotar o gerencialismo. Uma escola de administração pública que entende que é preciso flexibilizar procedimentos, priorizar o resultado ao invés do processo, implantar programas de qualidade total, enxugar a máquina promovendo demissões, tratar o cidadão como cliente.

Em Nairóbi, Quénia, depois de um criterioso processo de recrutamento com entrevistas, testes e dinâmicas de grupo, uma grande empresa contratou um grupo de canibais para fazer parte da sua equipa.

"Agora fazem parte de uma grande equipa" - disse o Director de RH durante a cerimónia de boas vindas.

"Vocês vão desfrutar de todos os benefícios da empresa. Por exemplo, podem ir à cantina da empresa quando quiserem para comer alguma coisa.

Só peço que não comam os outros empregados, por favor!"

Quatro semanas mais tarde, o chefe chamou-os:
"Vocês estão a trabalhar bastante e eu estou satisfeito. Mas a mulher que serve o café desapareceu. 

Algum de vocês sabe o que pode ter acontecido?"

Todos os canibais negaram com a cabeça.

Depois do chefe ir embora, o líder canibal pergunta-lhes: "Quem foi o idiota que comeu a mulher que servia o café?" Um deles, timidamente, ergueu a mão.

O líder respondeu:

"Mas tu és mesmo uma besta! Nós estamos aqui, com esta tremenda oportunidade nas mãos. Já comemos 3 directores, 2 subdirectores, 5 assessores, 2 coordenadores, e uns 3 administradores, durante estas quatro semanas sem ninguém perceber nada. E poderíamos continuar ainda por um bom tempo. Mas não... Tu tinhas de estragar tudo e comer uma pessoa que faz falta!"


BIO

Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blog "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor e do blog Eliane de Lacerda. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para:thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.












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