sábado, 27 de outubro de 2018

O PT acabou com o Brasil (Por Caio Barbosa)

Nasci no meio da ditadura militar. Família de classe média. Nasci numa casa que não posso reclamar, em Corrêas, Petrópolis, construída ao longo de 20 anos pelos meus pais. O primeiro tijolo foi colocado em 1974. O último, em 1994, quando eu já estava saindo de casa para tentar ganhar o mundo como um projeto de cientista social e, posteriormente, jornalista. Minha mãe, Edyla, é professora aposentada da rede pública. Mais de 40 anos de sala de aula, mais da metade deles no principal colégio da cidade. Professora conceituada, filha de um comerciante, o Barbosão, e da Vó Zizi, que morreu antes de eu nascer. Era também muito conceituada na cidade. Sua "profissão" era fazer o bem através de religiões de matriz africana. Tinham uma vida sem luxo, mas confortável.

Meu pai, Zé Carlos, o Barriga, ou Frias, também é professor aposentado da rede pública. De filosofia, história, sociologia e matemática. Cara burro à beça. Mas não era lá um grande professor como minha mãe. É muito conhecido na cidade por ser advogado criminalista. De família bem mais simples. Trabalhava de dia e estudava de noite, comia marmita que vinha esquentando sobre o motor do ônibus, de Pedro do Rio, longínquo distrito de Petrópolis onde nasceu, até o Centro. Vô Zé, seu pai, foi o policial rodoviário número 007 do país. Fazia a escolta de Getúlio. Minha vó, Olga, também era dona de casa.

Dessa zorra aí nasci eu, filho caçula. Tenho uma irmã dez anos mais velha, a Bianca, e um irmão sete anos mais velho, Frederico, o Orelha. Eu sou o Cabeça. Como vocês podem ver, classe média. Mas antes do PT, em quem lá em casa nunca ninguém votou, à exceção da minha irmã, na adolescência, meus pais (classe média) nunca haviam ido à Europa, por exemplo, algo que a classe média, hoje, pós-PT, faz todo ano. Mais de uma vez.

Também nunca tiveram carro zero. Aliás, nem carro novo. Era Passat velho, e a gente andava com garrafões d'água entre as pernas porque o radiador dava problemas e "fervia". Carro zero era coisa de gente muito rica. Algo impensável. Hoje, pós-governo PT, tem muita gente de carro MUITO MELHOR do que meus pais tinham, muita gente de carro zero. Tá difícil de pagar a gasolina depois do golpe do Temer, eu sei. Mas na ditadura, meu amigos, era pica. A gente ficava vendo o Jornal Nacional na quinta-feira para ver o anuncio do aumento da gasolina, que rolava à meia-noite. Tinha que correr para o posto, que fechava às 22h, porque se enchesse o tanque no dia seguinte, perderia, no dinheiro de hoje, meio salário mínimo. Em questão de duas horas.

A gente era de classe média. Mas na ditadura tinha dificuldade de comer carne. Não por falta de dinheiro, mas porque faltava no mercado. Hoje, pós-PT, a gente come carne todo dia. E mais de 40 milhões de brasileiros, que nunca haviam comido carne, passaram a comer. Gente que morria de fome passou a não morrer. Uma revolução reconhecida pelo mundo.

Na minha infância, durante a ditadura, o pão francês era caro, o que obrigava a minha mãe a fazer pão de batata, um negócio horroroso. Hoje a gente come pão francês todo dia. E tem pão de tudo o que é tipo na padaria.

Na ditadura, mesmo sendo de classe média, meu pai bebia cerveja barata (Brahma) e cachaça barata (Velho Barreiro). São as que mais gosto até hoje. Vinho era de garrafão, que dava uma dor de cabeça de três dias. Whisky era coisa de muito rico. Quando rolava de esbanjar alguma coisa, meu pai comprava um Teachers. Hoje ele tem sempre um Red Label a tiracolo, ou um vinho português.

Saí de Petrópolis e fui estudar em Niterói, na UFF. Governo FHC. Na Faculdade de Comunicação Social, por exemplo, não havia negros. Só o Ricardo Jácomo. Os outros, na faxina. Em Ciências Sociais, que também cursei, até tinha, mas quase todos africanos, que vinham estudar aqui. Negro brasileiro, só na faxina. Agora tem na sala de aula.

Antes do PT, eu viajei o Brasil INTEIRO de ônibus, de caminhão, de lombo de jegue para ver o Fluminense jogar. Depois do PT, eu passei a viajar de avião. Tudo bem que o Emiliano Tolivia paga no cartão e eu vou pagando aos poucos. Mas de avião. Aqui no Rio, tinha que pular a roleta de ônibus, ou ir em cima dele, para ver o Flu jogar. Agora vou até de táxi (no aplicativo).

Eu nunca gostei do PT, reconheço e lamento todos os escândalos do governo PT. Mano Brown deu o papo. Mas amanhã vou votar. Porque se alguém disser que o PT acabou com o Brasil, ou este alguém está com problema de memória, se tiver a minha idade ou mais, ou é desinformado, se for mais jovem, ou é mau caráter. 

Outra opção não há.

P.s: só para encerrar. Quando te disserem que o PT acabou com a Petrobras, ria. A Petrobras segue firme e forte, apesar de tudo o que aconteceu no governo PT, que em resumo foi lotear a Petrobras para o PP, partido do Bolsonaro. Foi o PP do Bolsonaro, no governo PT, que saqueou a Petrobras. O Lula sabia? Não sei. É possível. Mas o Bolsonaro também devia saber, pois era o partido dele, por onde ele foi o deputado mais votado.

O Lula está preso por um apartamento no cu de São Paulo sem nenhum documento comprobatório. O Bolsonaro está solto mesmo tendo, comprovadamente, 13, de luxo, na Zona Sul do Rio. Com registro e tudo. Só não se tem registro de onde saiu o dinheiro para ele comprar isso tudo. De onde será?

Caio Barbosa é jornalista. 

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