terça-feira, 18 de julho de 2017

Tráfico (Por Ernesto Xavier)

Quando no Brasil vamos admitir que o tráfico de drogas faz parte da economia brasileira? 

Digo mais, quando vão dizer claramente que grande parte do PIB provém de esquemas que envolvem direta ou indiretamente a compra e venda de drogas ilícitas e tudo o que as rodeiam, como tráficos de armas, compras de imóveis, carros, pagamento de propina, suborno, esquemas que envolvem políticos, policiais, juízes, grandes empresas e seus respectivos empresários?

O tráfico de drogas não começa na boca de fumo dentro da favela, com os pretos todos lá, jovens, armados até os dentes, mas sem qualquer preparo e dispostos a trocar tiro com os policiais, também pretos e pobres em sua maioria.

O esquema está tão distante desses que são os mais visados pela segurança pública, que fica até difícil explicar, mas vamos lá.

No último final de semana vi a lista dos 6 maiores traficantes de drogas do país procurados pela Polícia Federal. Todos brancos. Sim, todos. Gente alta na hierarquia do crime organizado. Mesmo assim, com gente ainda mais alta, mas que não vão aparecer em lista nenhuma da PF, pois chegaria em pessoas que, no Brasil, não podem ser investigadas, punidas e nem ao menos suspeitas. Gente que ocupa cadeira na Câmara dos Deputados, no Senado, quiçá na presi...deixa pra lá.

Já tivemos helicóptero interceptado com mais de 400 kg de pasta base de cocaína, estimada em mais de 10 milhões de dólares, com ligação direta com deputado e senador. Já teve avião com 623 kg de cocaína ligados a ministro. Mas nada disso vai adiante, pois, como já falei, são pessoas que não podem ser investigadas.

No entorno do Brasil temos o Peru, Colômbia e a Bolívia, por exemplo. Grandes produtores de cocaína e maconha. 

Pausa.

Não estou aqui para julgar se deveria ser legalizado ou não o consumo e a venda. Estou falando de um mercado ilegal que existe e produz muita grana e mortes no meu país.

Voltando.

O Peru, a Colômbia e a Bolívia possuem cartéis de drogas com ligações diretas com as facções criminosas brasileiras, que usam para o consumo interno e para exportação para os EUA e Europa. 

Até aí tudo certo? Ok.

Para assegurar o esquema, necessitam de armamento. É uma guerra deflagrada, correto? Acho que ninguém tem dúvida disso. 

São armas novas, de última geração, produzidas em países de primeiro mundo, por empresas reconhecidas mundialmente. 

Alguém aqui já ouviu falar em grandes roubos de armas em empresas de armas estrangeiras? Nunca ouvi falar.

As armas que chegam aqui saem da Suíça, dos EUA e de tantos outros lugares com nota fiscal, pagamento reconhecido, tudo dentro dos conformes. Ou alguém aqui vislumbra algum desses países permitindo a produção e venda ilegal de armas por empresas de seus países sem alguma sanção?
 
Portanto, chego a conclusão de que existe a forte conivência desses próprios países, ditos desenvolvidos, para a escalada de violência na América Latina. 

Sabendo quem são os compradores, deveria ser simples identificar os caminhos que essas armas fazem para chegar até o pretinho pobre que está lá no Complexo do Alemão portando um semi-automática. Não deveria?

É um esquema extremamente complexo que envolve portos, fronteiras, propinas, dólares e mais dólares. O pretinho não vai lá na fronteira negociar armas. Nem vai lá pra permitir a entrada de drogas no país. Ele é a ponta de lança. O bucha. O otário que vai morrer cedo, saca?

O tráfico de drogas e, consequentemente, o de armas são esquemas que não vão acabar no Brasil, pois envolvem muita gente grande, que já comanda o país desde sempre e que tem interesse direto para que assim permaneça. 

O Brasil não exporta só soja, café e proteína animal. Tem muita cocaína envolvida fazendo essa economia girar. Muito sangue escorrendo de gente que é só a consequência desse sistema. Um sistema que mantém uma parte significante da população bem pobre e analfabeta para servirem de "motivo" e mão-de-obra na cadeia alimentar do crime. E para que tantos outros pobres sejam os "defensores" da honra nacional, morrendo aos montes no país inteiro. 

Uma guerra que mata o preto e pobre em diversas instâncias, seja ele traficante, policial ou usuário.
Um guerra que consolida privilégios, seja ele latifundiário, político, empresário ou traficante internacional. 

Uma guerra que só serve para manter a roda girando. O preço alto da droga, o comércio de armas e o foco bem longe daqueles que realmente lucram com isso tudo.

Brasil, terra de traficantes e degredados desde Cabral.


Ernesto Xavier é ator, jornalista e escritor. Autor do livro "Senti na pele".

















2 comentários:

  1. No Brasil tudo passa como se fosse. A mídia finge estar preocupada em falar a verdade, a polícia finge ser honesta, e o crime organizado finge ser contra o Estado, mesmo sendo financiado por políticos e empresários. Quem fala a verdade é criminoso e quem mente e dá risada de tudo é bem resolvido e abençoado pelo Deus mitológico cristão. Se Deus é brasileiro e vivemos neste LÔDO a céu aberto, imagine se não fosse. Abraço !

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